Tomar coragem para vender o nosso peixe nem sempre é fácil, mas quase sempre é necessário quando você depende de vendas para pagar as contas do mês. Essa é a realidade do autor empreendedor que segue o caminho da autopublicação para lançar seus livros e toma conta de todo o processo de escrita, edição e divulgação. O foco de hoje é ensinar você, autor independente, a falar de si mesmo na seção “sobre o autor”.
Hoje em dia, a biografia do autor está presente em diversos lugares. No livro impresso, ela se encontra na contracapa ou na orelha. No ebook, ela pode (ou não) estar presente na sinopse do livro. Indo mais longe, é interessante encontrar outros espaços para falar sobre si. Por exemplo, uma conta no Wattpad, um perfil profissional no Twitter, talvez até mesmo um website só seu.
Por que escrever sobre o autor?
O objetivo da seção “sobre o autor” é dar credibilidade ao texto e criar uma conexão com o leitor. Quando o leitor conhece um pouquinho da sua biografia, ele sabe quem está falando com ele.
Se você escreve não ficção informativa, por exemplo, espera-se que você tenha conhecimento de causa sobre o assunto que está ensinando ao seu leitor. Ou seja, que você trabalhe na área há anos, tenha certificados, tenha estudado isso no ensino superior, por aí vai. É como as pessoas dizem: não aceite conselhos de quem nunca construiu nada. Você deve mostrar ao leitor que sua palavra merece ser ouvida.
Até mesmo na ficção essa credibilidade importa. O que garante que esse autor sabe escrever bem? Mencionar outros livros que você já publicou, prêmios que você venceu ou foi indicado, a quantidade de seguidores que tem no Twitter, tudo isso é um indicador da sua qualidade. Só não exagere. Talvez você tenha um lindo e enorme currículo para pôr na mesa, mas a paciência e o interesse do seu leitor são limitados. Concentre-se no que é mais interessante: conquistas recentes, que são relacionadas ao seu trabalho como escritor.
Em outra nota, características pessoais do autor também são importantes. Sua história de vida pode ser interessante para o leitor, ou ao menos fazer com que ele se identifique com você. Se você é uma pessoa que veio da periferia e conseguiu se tornar escritor, grandes são as chances de outras pessoas periféricas se identificarem com você e se interessarem pelo que você tem a dizer.
Indo mais longe, o jeito que você escreve a seção “sobre o autor” pode ser considerado uma palinha do seu estilo de escrita. Logo, às vezes vale a pena dar uma leve exagerada no estilo para demonstrar de forma breve quem você é e como você fala. Até soltar uma piadinha é bem vindo, desde que combine com o livro que você está divulgando.
Pequenas informações que mostram que você é um ser humano ajudam a criar uma conexão com o leitor. Você pode dizer que adora cachorros ou gatos, talvez que gosta de beber caipirinha com os amigos nas horas vagas ou que é aficcionado por bibliotecas. Pequenas coisas, que a princípio podem parecer desimportantes, mas que criam uma ponte entre você e o leitor e, quem sabe, faça até ele pensar “esse autor parece uma boa companhia para tomar caipirinha”. Não foi J.D. Salinger que disse que um bom autor é aquele que faz você se sentir como se pudesse pegar o telefone e bater um papo com ele? Mire nesse sentimento.
Como escrever a seção “sobre o autor”
O modelo exato do texto “sobre o autor” depende de onde ele será publicado. Em cada contexto, o espaço dedicado à sua biografia pode ser diferente, assim como a intenção do texto pode variar.
No Twitter e outras redes sociais, a sua biografia deve ser curta e direta, com no máximo três frases. Na contracapa de um livro, é ideal escrever apenas um parágrafo. Na maioria das ocasiões, não se deve escrever mais do que 300 palavras.
Contudo, se você tiver um site oficial e criar uma página sobre o autor, pressupõe-se que as pessoas que chegaram até ali estão realmente interessadas em saber mais sobre você. Nesse caso, você pode se aprofundar bem.
Em geral, o texto “sobre o autor” deve ser escrito em terceira pessoa e oferecer uma pincelada sobre a sua vida, focando nos aspectos relevantes para o seu trabalho como escritor.
Você deve se focar em dois fatores essenciais: o produto que você está divulgando (seu livro) e quem vai comprá-lo (seus leitores). É essencial se comunicar na língua que o seu público-alvo entende, e trazer para a mesa informações que sejam relevantes para o seu livro.
Vamos supor que você tenha 40 anos de experiência como advogado e tenha muito sucesso nessa profissão. Se você escreveu um livro de não ficção sobre advocacia, ótimo, aprofunde-se em todo o seu sucesso e experiência como advogado. Agora, se você escreve livros infantis sobre unicórnios, somente mencione de forma breve que de alguma forma curiosa passou de advogado para autor de livros infantis. Sua experiência não traz nada para a mesa, apenas desperta curiosidade. “Como assim um advogado que escreve sobre unicórnios?”.
Isso nos leva a outra questão: você pode escrever diferentes biografias para diferentes livros. Talvez você tenha escrito um livro sobre advocacia e outro sobre unicórnios. Mesmo você sendo uma só pessoa, é óbvio que cada livro tem um público-alvo diferente e, por isso, você deve escrever de formas diferentes.
Pense nas suas relações interpessoais. Você não fala da mesma forma com a sua mãe, com os seus amigos e com as pessoas com quem você trabalha. Cada contexto e cada pessoa exige uma forma diferente de se comunicar. A mesma lógica vale na hora de escrever um texto. Logo, se o seu livro tem um tom alegre, a sua biografia também deve ter.
Exemplos de biografias de autores
Em 1990, os autores Terry Pratchett e Neil Gaiman escreveram e publicaram juntos o livro Belas Maldições (em inglês, Good Omens). Na orelha do livro, encontramos essas biografias:
“Para quem realmente precisa saber, Terry Pratchett nasceu em Buckinghamshire, Inglaterra, em 1948. Conseguiu evitar todos os trabalhos realmente interessantes que os escritores fazem para parecerem legais neste tipo de biografia. Em sua busca por uma vida tranquila ele conseguiu emprego como assessor de imprensa da Central Electricity Generating Board logo após Three Mile Island, o que mostra seu imbatível senso de timing. Hoje escritor em tempo integral, vive em Somerset com mulher e filha. Gosta que as pessoas lhe paguem daiquiris de banana (sabe que as pessoas não lêem biografias de escritores, mas achou que valia a pena tentar).”
“Neil Gaiman costumava ser jornalista, mas desistiu de tudo para escrever histórias em quadrinhos, que alega serem uma forma de arte totalmente válida para fins do século 20, e até chegou a ganhar prêmios por elas, e isso sim é válido. Tem 1,74m de altura, possui grande quantidade de camisetas pretas, e embora não seja muito fã de daiquiris de banana, sempre fica muito lisonjeado quando fãs satisfeitos lhe enviam dinheiro (ele leu a biografia de Terry Pratchett e, embora duvide que vá dar certo, pensou: diabos!!!).”
Aqui temos o pacote completo: informações básicas e relevantes, um tom totalmente coerente com o livro e um toque pessoal com direito a piadinha. Perfeito.
Em outro contexto, temos a biografia da autora brasileira Bella Prudêncio na rede social WattPad:
“Bella tem 21 anos, mora no interior do Rio de Janeiro. Viciada em rock alternativo e jogos online, nas horas vagas ela coloca no papel um pouco do que ela sente dentro de seu coração tempestuoso.”
Um parágrafo curto, com menos de três frases. Tem informações relevantes, mostra um pouco da identidade da autora e cria uma conexão com o leitor.
E aí, autor? Está pronto para escrever sobre você? Compartilhe conosco a sua biografia!
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Obrigada, me ajudou muito!
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Bacana!! Ótimas dicas, tenho grande dificuldade nessa hora. Já me deparei com enoooormes biografias e agora já tenho algumas ideias interessantes. Obrigada ♥