Prólogo: o que fazer e o que não fazer

Para muitos leitores, o prólogo é uma parte do livro em que nada acontece. Ou seja, é inútil. É bem provável que esses leitores pulem o prólogo, ou no máximo o leiam só por alto.

Se você depende da autopublicação de ebooks, escrever um prólogo ruim pode ser um erro fatal. Quando um leitor avalia se vai comprar um ebook, é muito comum que ele comece lendo a amostra do livro, que exibe apenas as primeiras páginas, independentemente do conteúdo que exista nelas.

Por esse motivo, você jamais deve desperdiçar as primeiras  páginas de um ebook com conteúdo inútil. Vá direto ao que importa. E a dúvida é: o seu prólogo é realmente relevante para o resto da narrativa?

A verdade é que depende. Você pode publicar livro com prólogo significativo… ou livro com prólogo descartável. Vamos ensinar a você como diferenciar os dois.

O que é um prólogo?

Prólogo é um termo que vem da dramaturgia grega antiga. É aquilo que é dito antes, e designa a primeira parte de uma tragédia, momento em que se expõe o tema da peça.

O uso de prólogos se dá até hoje em dia, seja na literatura ou no audiovisual. No entanto, em muito se perdeu a sua função. Assim como o prólogo inicialmente cumpria a função de expor o tema da peça, geralmente através de um diálogo ou monólogo, o prólogo hoje deve apresentar algo de relevante para a narrativa que não poderia ser incluído no primeiro capítulo.

Normalmente, um prólogo não se passa na mesma época ou sob a mesma perspectiva que os capítulos do livro. Um prólogo pode se passar antes ou depois da cronologia do enredo central, pode ter outro protagonista, pode ter outro narrador. São essas diferenças marcantes em relação ao resto do livro que fazem o prólogo ser um prólogo. Caso contrário, seria apenas mais um capítulo.

Ainda assim, não adianta incluir um prólogo apenas porque sim. O prólogo é totalmente opcional hoje em dia e, para muitos leitores e profissionais do meio editorial, é melhor nem incluí-lo.

Um ótimo substituto para os prólogos é a epígrafe, um pequeno fragmento de texto que precede a narrativa. Pode ser uma citação, um poema, uma máxima, entre outros. Assim como o prólogo, no entanto, a epígrafe deve ser significativa e dialogar com a narrativa de alguma forma.

Escreva um prólogo apenas quando você sentir que tem conteúdo relevante para a sua história que não se encaixa na narrativa dos capítulos. Por exemplo, um modelo clássico de prólogo para obras de fantasia mostra a vida de pessoas comuns sendo destruída por um grande mal, que promete assolar a terra.

É o caso do prólogo de A Guerra dos Tronos (em inglês, A Game of Thrones). Nele, observamos três homens da Patrulha da Noite em uma missão. Eles veem pessoas morrerem congeladas mesmo não estando frio o suficiente para isso. Em seguida, criaturas fantasmagóricas surgem e mata um dos homens da patrulha, que se transforma em morto-vivo e mata seu companheiro. O terceiro homem foge. No primeiro capítulo, já sob o ponto de vista de outra personagem, o homem é morto por desertar a patrulha, sem que acreditassem em sua história.

Aqui, temos um prólogo que apresenta uma perspectiva diferente para a narrativa, instiga a curiosidade do leitor e traz conteúdo relevante para o enredo, mas sem dar as informações de bandeja para o leitor. Ainda existem dúvidas e mistério.

Esse prólogo leva o leitor a acreditar que essa é a informação mais relevante para a história: mortos-vivos existem e eles são os inimigos da humanidade. Ao mesmo tempo, há uma ironia trágica, pois o leitor sabe de algo que a maioria das personagens não sabem… ou não acreditam.

Como NÃO escrever um prólogo

Quanto mais livros tiverem prólogos descartáveis, que não acrescentam em nada à narrativa ou à experiência do leitor e que nem sequer respeitam as regras básicas que constituem um prólogo… mais pessoas criarão o hábito de pular o prólogo de todos os livros.

Por isso, vamos ensinar o que você NÃO deve fazer em um prólogo:

1.      Não chame seu “primeiro capítulo” de “prólogo”

Antes de mais nada, atente-se ao que é um prólogo de fato. Se você está escrevendo uma parte da sua história, situada na mesma cronologia, com os mesmos protagonistas e narrador, que não é em nada diferente do resto do livro… então você simplesmente escreveu seu primeiro capítulo.

Lembre-se que existem pessoas que pulam o prólogo. E que, ao ler um prólogo, é normal que o leitor espere uma narrativa um pouco diferente. Esse erro apenas confundirá os leitores.

Se você não consegue pensar num prólogo propriamente dito para o seu livro, tudo bem. Não o escreva. Comece direto do primeiro capítulo.

2.      Evite escrever um prólogo diferente DEMAIS do resto do livro

Embora o prólogo deva, sim, ser um pouco diferente do resto da narrativa, não é bom que ele seja diferente demais. Às vezes, numa tentativa exacerbada de cativar o leitor, o autor escreve um prólogo que é agitado demais… seguido de um primeiro capítulo entediante.

O seu prólogo deve criar determinadas expectativas em relação ao resto do livro. E mais ainda, essas expectativas devem ser atendidas. Se você promete algo e não cumpre, o leitor ficará apenas decepcionado.

Além disso, o que é interessante em um filme nem sempre ficará bom em um livro. Filmes contam com a imagem, que facilita na memorização de novas personagens, e com uma trilha sonora cativante. Por isso, é mais fácil para o público se engajar com uma cena aleatória no começo de um filme do que no começo de um livro.

Pense com cuidado se a leitura do seu prólogo realmente será interessante para o seu leitor. Não inclua cenas de ação “só porque sim”. Pense em cenas significativas, que contribuem para a compreensão da história e tornam a experiência do leitor mais impactante.

3.      Não torne o seu prólogo numa enciclopédia

Muitos autores acreditam que o prólogo é uma espécie de “manual de instruções” do livro, onde o leitor encontrará as informações que precisa para entender a história. Isso é particularmente comum em histórias que se passam em um universo diferente, mas infelizmente acontece em qualquer gênero.

Não importa se você criou um universo totalmente novo e complexo para a sua história. Nenhum leitor deve precisar ler uma enciclopédia para entender uma história de ficção. Literatura não deve vir com manual de instruções.

Um livro bem escrito guia o leitor através da narrativa. Toda informação necessária sobre a história pode ser apresentada aos poucos, integrada ao enredo. Textos expositivos demais tendem a entediar leitores de ficção. Saiba dosar.

Além disso, não é necessário que o leitor saiba tudo sobre o universo onde sua história se passa. A ficção é como um iceberg, apenas uma pequena parte é visível aos olhos do leitor, mas há um enorme processo criativo que a sustenta. Para construir um enredo sem nós desatados, o autor deve pensar nos mínimos detalhes, mas mostrar apenas o necessário. O resto cabe à interpretação do leitor.

Se você quer muito compartilhar uma enciclopédia sobre o universo que criou, sem problemas. Ela só não deve ser o prólogo do seu livro. Publique-a como um extra, um ebook a parte, um material promocional. Assim seus leitores mais ávidos ficarão felizes e quem não quiser, não precisará ler.

4.      Não escreva um prólogo muito longo

O erro fatal de muitos prólogos está no seu tamanho. Um prólogo longo demais faz com que o leitor se pergunte “quando essa história vai começar?”. Isso desanima qualquer um, especialmente hoje em dia.

Imagine novamente a situação em que um leitor abre a amostra grátis do seu ebook. Lembre-se que apenas algumas páginas estarão disponíveis para leitura gratuita. O que o leitor tirará dessa leitura? Ele chegará a ler o primeiro capítulo? Ou ficará encalhado no prólogo?

Escreva um prólogo se for necessário, mas não exagere. Ao menos na etapa de revisão, tente remover qualquer trecho que não é relevante para a narrativa.

Como escrever um bom prólogo

Agora sim, vamos falar de recursos úteis para escrever um prólogo interessante e significativo, que aprimora a experiência do leitor.

  1. Inclua pistas (foreshadowing) para os acontecimentos futuros em seu prólogo
  2. Conte sobre eventos passados que impactam a história no momento presente
  3. Conte ao leitor informações relevantes que as personagens ainda não sabem
  4. Apresente ao leitor o ponto de vista de uma personagem secundária, ou até mesmo o antagonista da história
  5. Apresente ao leitor o ponto de vista de uma personagem que já faleceu ou ainda não nasceu no momento presente da história
  6. Escreva um prólogo que adiciona algo relevante à história, mas que não prejudique a compreensão da narrativa caso o leitor decida não o ler

É importante notar que nenhum dos recursos descritos acima é obrigatório. Um bom prólogo não precisa necessariamente conter todos esses elementos ao mesmo tempo. São apenas sugestões que facilitam o seu trabalho de identificar o que é um bom prólogo e como escrevê-lo.

E você, autor? Costuma publicar ebook com prólogo? Conte um pouco da sua história!

2 Comentários

  1. Etercilia Araújo de Castro

    Boa noite
    Deixei um recado anterior, uma pessoa que se dizia Raphael entrou em contato via email, porém enviei três emails e todos retornam dizendo falha.

    Help, alguém que eu posso me comunicar??????

    Responder

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