Por que você deve ler autoras mulheres

Este mês, já falamos sobre como críticos literários, um setor dominado por homens, preferem recomendar livros escritos também por homens. Hoje, queremos propor uma reflexão: por que você deve ler autoras mulheres?

Sim, a maioria dos laureados pelo Prêmio Nobel da Literatura foram homens. Sim, nos cursos de literatura, a maioria dos escritores estudados são homens. Apoiados por esses dados, é inclusive comum encontrar leitores homens que afirmam não ler livros escritos por mulheres. Existem até mesmo professores de literatura com essa abordagem.

Se tantas pessoas preferem ler livros escritos por homens e se autores homens são premiados com tão mais frequência… Então, por que alguém deveria se dar ao trabalho de ler autoras mulheres? Será que essas estatísticas não provam que os livros escritos por mulheres têm menos relevância?

A verdade é que essas estatísticas provam apenas que o setor literário é dominado por homens que, historicamente, subestimaram o intelecto das mulheres. Se os homens não achavam que as mulheres eram inteligentes o suficiente para votar, quem dirá para escrever livros? E pense com a mentalidade de hoje em dia: é ou não é absurdo proibir as mulheres de votarem? Pois bem, as mulheres que lutaram por esse direito, chamadas sufragistas, eram consideradas radicais e histéricas.

A falta de reconhecimento das mulheres não significa que elas não tenham capacidade. Mulheres são capazes de publicar livro com o mesmo nível de qualidade que homens. Elas apenas não têm as mesmas oportunidades.

Vamos analisar a escrita dos homens. Sim, existem diversos clássicos maravilhosos escritos por homens. Muitos escritores investigaram temas complexos como política, filosofia e a natureza humana.

Mas… e as personagens mulheres desses autores? Será que elas eram tão bem escritas assim?

Semana passada, mencionamos o teste de Bechdel no artigo Personagens femininas que amamos. Esse “teste” consiste em avaliar uma obra de ficção em três critérios:

1.      Ela tem pelo menos duas personagens mulheres?

2.      Essas personagens conversam uma com a outra?

3.      O assunto da conversa não é um homem?

São três regras simples, mas é impressionante como, uma vez aplicadas, poucas obras são aprovadas. Homens raramente têm interesse em escrever personagens mulheres complexas. Em geral, elas são reduzidas a caricaturas ou vivem (e morrem) em função das personagens masculinas.

É muito comum também que a descrição dessas personagens gire em torno dos seus atributos físicos. Descrições por vezes ridículas. Aliás, esse tratamento não é reservado às personagens femininas. Mulheres de carne e osso também são tratadas dessa forma, até mesmo quando sua aparência não tem absolutamente nada a ver com o assunto. Por exemplo, quando se apresentam profissionalmente e são julgadas pela aparência e não pela sua capacidade.

Quando uma pessoa se propõe a ler autoras mulheres, seja essa pessoa mulher ou não, é notável como as autoras não submetem suas personagens masculinas a estereótipos. Escritoras não são capazes apenas de escrever mulheres complexas, mas homens também. Isso acontece porque, enquanto sociedade, nunca aprendemos a reduzir homens a objetos ou estereótipos.

Somos expostos a personagens homens multifacetados e com histórias interessantes desde sempre. Autoras mulheres aprendem com esses personagens tanto quanto os autores homens. A diferença é que, além dessa exposição, as autoras mulheres também vivem enquanto mulheres em sociedade. Elas conhecem sua própria complexidade porque elas vivem isso na pele.

Autoras mulheres são capazes de escrever sobre tudo que um homem escreve e ainda mais. Elas têm acesso a uma vivência que é pura e simplesmente ignorada pelos homens. Uma vivência que, se apenas fosse interessante aos homens, talvez eles a conhecessem também.

Obviamente, sabemos que existem homens que se interessam pela experiência feminina, que admiram autoras mulheres. Apenas são uma minoria, como provam as estatísticas que apresentamos extensivamente este mês no blog de autopublicação da Bibliomundi.

Inclusive, é justamente a crença de que mulheres escrevem sobre a experiência feminina que desinteressa os homens. Torna-se um assunto irrelevante. Por que eles iriam querer saber disso? É mais interessante ler sobre assuntos “universais”, como política e filosofia.

Mas a política das mulheres também é política. E a filosofia das mulheres também é filosofia. Vivemos todos juntos neste mesmo mundo, dividimos o mesmo espaço (ou ao menos tentamos). E se você se recusa a ouvir as vozes e conhecer as experiências do outro, você viverá pela metade.

Sem ler autoras mulheres, você não pode se considerar um bom conhecedor da literatura. Simples assim.

Leia autoras mulheres porque elas existem. Leia autoras mulheres porque elas são seres humanos. Leia autoras mulheres porque elas têm algo a mais para oferecer. Leia autoras mulheres porque elas não são inferiores aos homens em absolutamente nada. Leia autoras mulheres… por que não?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *