Os opostos se atraem: romances e amizades improváveis na ficção

Quem não gosta de ver uma amizade improvável? Desafio você a olhar para uma foto de uma capivara fazendo amizade com várias tartaruguinhas e não achar o máximo. Em um santuário da Geórgia, o leão, o tigre e o urso que foram companheiros inseparáveis por 15 anos eram verdadeiras celebridades.

Seja lá qual for o motivo, as pessoas simplesmente têm uma tendência a se atrair por esse tipo de narrativa. É algo que desperta nossa curiosidade e, ao mesmo tempo, nos faz sorrir.

No mundo humano não é diferente. Existem barreiras que tipicamente dividem as pessoas. Podem ser diferenças de gênero, de idade, de raça, de cultura… às vezes até de time de futebol ou rivalidades no amor. Quando ouvimos falar de uma história de duas pessoas que encontram uma conexão apesar dessas óbvias diferenças, ficamos encantados.

É interessante, por exemplo, pensar em duas mulheres que já amaram o mesmo homem e se tornaram melhores amigas. A sociedade espera que essas mulheres sejam rivais, mas elas podem ter muito mais em comum do que você imagina.

Nos Estados Unidos, um rapper de 22 anos fez amizade com uma senhorinha de 81 anos que morava em um asilo. Eles se conheceram através de um jogo de palavras cruzadas para celular e a dupla ganhou a atenção de uma repórter, que decidiu promover um encontro ao vivo e a cores entre os dois amigos. A história viralizou nas redes sociais.

O que fascina tanto as pessoas em amizades improváveis?

O que todas essas histórias têm em comum é a união de indivíduos que, sob uma perspectiva exterior e superficial, parecem diferentes demais para se unirem. Contudo, entre si, encontram uma conexão natural.

É possível que, para nós, essas histórias sejam exemplos, quiçá alegorias, para a superação de preconceitos. São uma representação máxima de como o que é diferente pode até parecer assustador a princípio, mas não tem nada de ruim. Quando existe diferença, existe a possibilidade de troca, aprendizado. É possível crescer um com o outro.

Talvez vejamos essas histórias como a demonstração do mais genuíno afeto. Uma renovação da nossa fé na humanidade… Ou no mundo como um todo. Afinal, não podemos esquecer das amigáveis capivaras socializando com todo o reino animal.

Por outro lado, pode ser que nossa reação não seja nada além de uma curiosidade cômica por essas duplas inesperadas. Ou quem sabe o suspense de não saber como essa história pode acabar. Se uma cobra faz amizade com um menino, será que ela é realmente amiga dele ou planeja devorá-lo no final?

Seja na realidade ou na ficção, o que enxergamos nessas duplas são narrativas. É uma narrativa de união na adversidade que mexe com a pessoa que a lê, vê ou ouve.

Romances e amizades improváveis na ficção

Sem sombra de dúvidas, um estúdio que aborda esses relacionamentos com primor é a Disney (e sua subsidiária, Pixar). Há décadas conhecemos histórias como O Cão e a Raposa, A Bela e a Fera e Tarzan.

Com uma narrativa delicada, nos emocionamos com essas personagens e enxergamos a profundidade de suas diferenças, assim como a sinceridade de seus sentimentos. Aprendemos a avaliar uma relação para além das aparências e distinções sociais, mesmo que todo o mundo lute contra essa união.

Em Up – Altas Aventuras, temos uma perspectiva um pouco diferente. Apesar de improvável, a amizade do velhinho Carl e do pequeno escoteiro Russell não é feita de rivalidades a serem superadas. Trata-se apenas da união entre duas pessoas solitárias, que precisavam de afeto e o encontram da forma mais inesperada: ficando presos juntos em uma casa flutuante rumo à América do Sul.

Essas uniões podem acontecer das mais diversas formas. Em A Bela e a Fera, existe o preconceito, o medo. O afeto entre as personagens não se dá imediatamente. Para Bela, foi preciso superar sua impressão inicial da Fera como uma criatura grotesca e violenta. Para Fera, foi preciso passar por um processo de amadurecimento, tornando-se a pessoa gentil que Bela merecia.

O cão e a raposa, por sua vez, se conhecem ainda filhotes. Sua visão de mundo era pura e livre de preconceitos. No entanto, conforme os animais crescem, o cão é treinado para cumprir sua função de caçador. Os papéis sociais se fortalecem e dividem os amigos de infância.

As histórias infantis são, sem dúvidas, as que mais exploram essas combinações mirabolantes. Acredite, a famosa livraria Barnes & Nobles tem uma categoria inteira só para livros infantis com amizades improváveis.

Ainda assim, podemos encontrar esses pares também nos clássicos da literatura. Basta olhar para Romeu e Julieta, os amantes com má estrela, nascidos em famílias rivais na cidade de Verona.

Tão forte era a richa que o único fim para o casal foi a tragédia. A morte dos jovens foi uma lição para as famílias Montéquio e Capuleto, que perderam quem lhes era mais importante por uma rivalidade sem sentido.

Nas variadas reimaginações dessa peça, Romeu e Julieta já foram de tudo um pouco. Membros de classes sociais distintas. Torcedores de time de futebol diferentes. Ou até parte de facções rivais. Até hoje, ainda é uma história que mexe com o público.

Como escrever romances e amizades improváveis?

Muito bem. O que você, autor independente, que conta com a autopublicação para publicar ebook, pode tirar de tudo isso? A resposta é simples: uma inspiração.

Talvez até agora você não tenha pensado em nenhuma amizade fora da caixinha. Talvez todas as suas personagens só façam amizade ou se apaixonem por seus semelhantes. Pessoas que convivem com elas no colégio ou no trabalho. Que pensam igual, que vivem igual. Pessoas parecidas, que compartilham de muitos privilégios.

E se você variar? E se você der uma chance para uma amizade entre seu protagonista e alguém que não tem nada a ver com ele?

Existem diversos tipos de barreiras que suas personagens podem superar ao formarem uma amizade inesperada:

  • Espécies diferentes (ex.: elfo e anão, lobisomem e vampiro, cão e raposa)
  • Culturas diferentes
  • Classes sociais diferentes
  • Ideologias opostas
  • Estilos muito distintos (ex.: patricinha e gótica)
  • Estilos de vida distintos (ex.: agricultor e playboy)
  • Rivais (seja no amor, no trabalho ou em outras áreas)
  • Personagens que pertencem a grupos inimigos
  • Diferença de idade
  • Diferença de temperamento (ex.: o nervosinho e o calmo)

Essas diferenças podem ser trágicas, como no caso de pessoas que pertencem a grupos inimigos, ou apenas grandes o bastante para que as personagens não imaginassem que um dia fariam amizade com alguém assim. Afinal, é comum nos aproximarmos de pessoas com interesses semelhantes, uma idade próxima a nossa e que tenha crescido na mesma cultura que a gente.

Nem sempre temos a oportunidade de conhecermos pessoas muito diferentes de nós, o que não significa que rejeitemos a possibilidade. Às vezes tudo o que suas personagens precisam é de um empurrãozinho. Por exemplo, ficando presas juntas em um lugar fechado ou sendo obrigadas a completarem uma missão em equipe.

Essas narrativas nos fazem acreditar que é sempre possível encontrar uma conexão com o outro. Ao publicar livro, você tem a oportunidade de explorar infinitas possibilidades de interação humana, podendo ir muito além das experiências que você já vivenciou pessoalmente.

É por esse motivo que muitos de nós escolhemos escrever. E é por esse motivo que muitos de nós escolhemos ler. A ficção nos proporciona essa oportunidade.

E aí, autor? Você tem alguma história de amizade improvável para contar?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *