Quase toda história de ficção pode, em algum momento, ter uma cena de ação. Podemos definir essas cenas de forma bem simples: retratam personagens vivenciando um desafio que exige uma reação corporal e apresentam grandes consequências caso o objetivo não seja cumprido. São cenas rápidas, urgentes e, em geral, competitivas.
Podemos pensar em diversos momentos das nossas vidas em que precisávamos agir rápido e testar os limites do nosso corpo para alcançar um objetivo, correndo grandes riscos caso não fôssemos até o final. Desde um simples atraso que podia custar um emprego até momentos em que nossa vida poderia estar em risco, como quando reparamos que alguém está nos perseguindo na rua.
Se a ação está presente na vida de qualquer pessoa, ela também pode estar presente na vida de qualquer personagem, de qualquer história. Saber escrever cenas de ação envolventes é essencial para qualquer autor.
Contudo, quando escrevemos uma cena de ação em um livro, é preciso ter em mente que essas cenas têm muito pouco, se não quase nada, a ver com as cenas de filmes de ação. Nas telonas, a ação é sinônimo de espetáculo. Assistimos explosões mirabolantes, movimentos acrobáticos, armas que nunca ficam sem munição. Há pouco espaço para diálogo, muito espaço para imagens.
Acontece que, nos livros, a palavra é o que rege a narrativa. Não podemos contar com uma trilha sonora marcante ou com um jogo fantástico de luz e sombra. São letras e pontos que definem o ritmo. Por isso, nas dicas de autopublicação de hoje vamos contar o segredo das cenas de ação.
1. As cenas de ação devem dar destaque às personagens
Nunca inclua uma cena de ação só porque você achou que seria legal, sem que ela tenha relevância para a história ou para o desenvolvimento de personagens.
Em uma narrativa escrita, as personagens são o ponto central com o qual os leitores se conectam. É essa conexão que fará com que os leitores se engajem na ação, em vez de pular para a próxima cena (e acredite, se estiver chato, muitos leitores farão exatamente isso).
A ação deve contribuir para o enredo e/ou para a caracterização das personagens. O que acontece na cena deve ser mais do que gestos sem significado. Havendo uma interação entre protagonista e antagonista, pergunte a si mesmo:
- QUEM são essas pessoas?
- POR QUE elas estão em conflito uma com a outra?
- O QUE essa disputa diz sobre a relação entre as personagens?
Essas perguntas também são válidas caso as personagens em destaque sejam coadjuvantes, mas com relevância para o enredo, e para cenas de ação onde a disputa não é tão óbvia quanto uma luta. Por exemplo, caso o antagonista arme uma bomba e o protagonista precise desarmá-la antes que exploda.
2. Inclua diálogos nas cenas de ação
Tudo bem que diálogos não cabem em toda cena de ação. Às vezes, inclusive, as personagens estarão impedidas de se comunicar. No entanto, sempre que possível, o escritor deve usar os diálogos ao seu favor em uma narrativa. Lembre-se que você quer escrever e publicar livro, não filme de ação.
Os diálogos são um dos elementos mais vibrantes da narrativa. Basta pensar nas peças de Shakespeare. Todas consistem de falas, sem qualquer tipo de descrição ou direcionamento, e essas falas sozinhas conseguem transmitir todos os elementos, emoções e conflitos da trama. Apenas com falas, foram escritas peças inesquecíveis, emocionantes e com muita ação. De brigas de família até assassinatos e guerras, você encontra tudo nas peças de Shakespeare.
Apenas tome cuidado para não recorrer a clichês, como vilões que revelam seu plano maligno no meio de uma luta com o mocinho, e para não atrapalhar o ritmo. Pense em diálogos que deem continuidade à evolução do enredo e aprofundem os conflitos em questão.
3. Não dê a vitória de mão beijada
Nada mais entediante do que assistir uma cena de ação já sabendo como ela acabará. O verdadeiro conflito que faz com que os leitores se revirem na cadeira é aquele que provoca suspense, insegurança. Se o protagonista perder, o resultado será catastrófico. E mais: o antagonista tem grandes chances de ganhar essa.
Para equilibrar as cenas de ação, pense em pontos fortes e fracos para cada personagem. Seu protagonista pode ser inteligente, mas fraco. Ou ele pode estar gravemente ferido. Talvez ele tenha sido abandonado pelo seu maior aliado. Quem sabe ele seja uma pessoa capaz, mas que foi pega completamente desprevenida, sem qualquer possibilidade de montar uma estratégia de defesa.
Pense em todas as possibilidades. Alguns elementos surpresa também valem a pena. Um ataque inesperado. Uma traição surpreendente. Um aliado misterioso que aparece no último minuto.
4. Não repita sempre os mesmos padrões
Reinvente-se em cada cena. Não adianta nada usar sempre a mesma estrutura em toda cena de ação e esperar que o leitor se surpreenda. Por mais desvantagens que o protagonista enfrenta, se ele sempre ganha as disputas, então o leitor nunca esperará nada diferente. Permita que o seu protagonista perca ao menos uma vez. E mais, faça com que ele sofra todas as consequências dessa derrota.
Alternativamente, ofereça aos leitores vitórias que não parecem tanto com vitórias. Sim, o mocinho “ganhou”, mas a que custo? Talvez ele tenha perdido sua moral no caminho. Talvez ele tenha se mantido íntegro, mas perdido todas as pessoas que amava na batalha. Faça com que o conflito impulsione a história.
5. Escreva em ritmo rápido, sem descrições excessivas
Na leitura, o formato das frases e parágrafos é um dos mais marcantes elementos visuais. Frases curtas aceleram o ritmo. Transmitem uma sensação de pressa. De urgência. Enquanto isso, frases muito longas têm um aspecto mais introspectivo e vagaroso, como se o protagonista pudesse ficar parado um longo tempo observando os arredores, esperando a vida acontecer.
Controlar esse ritmo é essencial para uma cena de ação. Imagine sua personagem em fuga. Ela corre. Desvia. Se esconde. E, de repente, precisa ficar escondida. O predador está vindo. Se ela sequer respirar, ele a pegará. Então, ela se paralisa. O ar quase não sai de seu peito. Apenas nesta pequena narrativa, há uma mudança sutil no tamanho das frases.
Outro fator importante a se levar em consideração são quais movimentos devem ser narradas. Não é necessário mencionar cada soco, cada chute, cada mísero passo que a personagem dá em uma cena de ação. Concentre-se nos momentos de destaque, ou a cena ficará um tédio.
Quando você finalmente desacelerar o ritmo e descrever a ação em detalhes, dos músculos contraídos até o punho que cerra e o braço que faz impulso para acertar em cheio o nariz daquele desgraçado, é nessa hora que o leitor saberá que a cena chegou ao seu clímax.
6. Pesquise e coreografe as cenas de ação
Se você acompanha o blog da Bibliomundi, sabe que nós sempre, sem falta, recomendamos que o autor faça uma boa pesquisa antes de escrever e publicar ebook. A pesquisa torna o seu livro mais verossímil, fazendo com que o leitor se envolva ainda mais na história.
Cenas de ação não precisam acontecer de modo exatamente igual à vida real. Nenhuma cena precisa ser assim, na verdade. Contudo, a verossimilhança tem a ver com o quão real a cena parece para o leitor.
Se sua personagem luta kung fu, é uma boa ideia que você domine ao menos os conceitos básicos desse estilo de arte marcial. E, caso você consiga pensar nos movimentos exatos durante uma luta, de modo coreografado, será muito mais fácil escrevê-los de forma bela e precisa.
Usar referências é uma ótima ideia e pode funcionar muito bem para a maioria das cenas, mas as vezes é possível tentar em casa também. Se um certo movimento parece confuso para você, tente imitar sua personagem. Veja se faz sentido e como é possível descrevê-lo de forma interessante ao leitor.
E aí, autor? Já está pronto para escrever uma cena de ação bombástica? Se gostou deste conteúdo, leia também os nossos artigos: