O que as pessoas querem ler na quarentena

Durante esta quarentena, temos observado as mais variadas reações ao momento que estamos vivendo. Algumas pessoas passam os dias vendo séries na Netflix. Outras decidem “fazer a quarentena valer” e aprendem novas habilidades. Há também aqueles que, na verdade, estão mais ocupados do que nunca, como os pais e mães que estão sentindo falta de poder mandar os filhos para a escola. Existe uma quarentena diferente para cada indivíduo.

Para nós, que trabalhamos com autopublicação de ebooks, o que mais importa são os hábitos  de leitura nesta época de isolamento social. As pessoas estão lendo mais? Ou estão lendo menos? E o que elas querem ler?

Ainda é difícil levantar dados conclusivos em relação a essas questões. Para começo de conversa, a aquisição de livros em lojas físicas e bibliotecas está fora de questão. O que resta são os livros que as pessoas têm em casa e a aquisição de novos livros por vias digitais. É a hora dos ebooks brilharem, como já discutimos no artigo Os benefícios dos ebooks para livreiros em quarentena.

Um fenômeno super interessante é o aumento na procura de livros e séries de TV sobre epidemias e distopias. Enquanto alguns leitores buscam desesperadamente por escapismo em ebooks com histórias de amor, outros se jogam de cabeça em ficção que dialoga com a nossa realidade atual. E até nesse “encontro com a realidade” é possível seguir abordagens diversificadas.

A pandemia do coronavírus desperta uma série de questionamentos distintos. Para algumas pessoas, o que rege é uma vontade de atribuir significado a essa crise global. Esses significados vão desde teorias da conspiração sobre a origem do vírus até  epifanias sobre a necessidade de mudar nossos hábitos. Há também pessoas que acham que tudo tem razões astrológicas. Cada um com seu cada qual.

Alguns leitores têm uma abordagem mais simples. Em vez de atribuir significado a tudo, apenas desejam encontrar as “ferramentas” necessárias para sobreviver essa quarentena sem danos psicológicos, financeiros, etc. Nesse grupo se encontram desde as pessoas que aprendem novas habilidades até as pessoas que escolhem ler livros sobre isolamento, a fim de se identificar com as personagens e, talvez, encontrar no caminho delas a solução para os seus próprios problemas.

É claro, não podem faltar também as pessoas que estão tirando esse tempo para pensar sobre política e economia, criticar as medidas tomadas pelos governos (sejam locais ou de outros países), pensar em formas melhores de se lidar com a crise.

São muitos os exercícios mentais que a quarentena nos inspira a fazer. E, enquanto escritores, naturalmente muitos de nós estamos com as cabeças borbulhando com tanto input de informações. É, afinal de contas, um momento absolutamente singular na história.

Na Itália, os primeiros casos de coronavírus foram confirmados no dia 31 de janeiro de 2020. O país foi um dos primeiros epicentros da pandemia, com uma rápida proliferação que alarmou os outros países. Ela também foi um dos primeiros países a apresentar uma resposta literária a essa crise.

Ao longo de Março, foram publicados os livros Nel Contagio de Paolo Giordano e Virus, La Grande Sfida de Roberto Burioni. Em seu livro, Giordano explora os seus pensamentos e dores relacionados à pandemia. Burioni, por sua vez, toma uma abordagem mais científica, falando sobre o processo de proliferação das epidemias e seu impacto social. No começo de Abril, foi publicada a antologia Andrà Tutto Bene pela editoria Garzanti, com 26 contos e dissertações dentro do tema quarentena. Os lucros de todas essas publicações são direcionados aos hospitais e pesquisas de combate à pandemia.

No Brasil, já encontramos iniciativas semelhantes. Por exemplo, grupos informais de autores propõe exercícios e concursos de quarentena, com prêmios simbólicos para seus participantes e doação de dinheiro para hospitais como “taxa de participação”. São maneiras de promover o pensamento criativo e conscientizar a população ao mesmo tempo.

Ainda que existam controvérsias em relação à “literatura de quarentena”, considerada oportunista por alguns, o que prevalece é um desejo, ou talvez até mesmo uma necessidade, de se refletir sobre o que estamos vivendo. É possível argumentar que esse é o verdadeiro propósito da literatura, afinal.

A literatura promove reflexões, conscientiza, cura. Ela nos oferece as ferramentas para entendermos melhor e até mesmo encontrarmos significado para os nossos problemas. Enquanto escritores, a literatura muitas vezes surge da observação da realidade, do desejo de compreender e transformar aquilo que vivenciamos.

Neste processo criativo, às vezes é necessário ser ágil e escrever antes que o pensamento se dissipe, que a realidade mude, que o urgente deixe de ser urgente. E, às vezes, é justamente a distância que nos permite enxergar o cenário completo de forma calma e racional. Novamente, cada um com seu cada qual.

Voltando à pergunta que abre este texto: “o que as pessoas querem ler na quarentena?”, a melhor resposta é “todas as opções mencionadas acima estão corretas”.

Em outras palavras, as pessoas querem livros sobre isolamento social, livros sobre pandemia, livros sobre o apocalipse, livros sobre amor e muito contato físico, livros sobre política, livros sobre economia, livros didáticos sobre atividades que elas podem praticar durante a quarentena… Tudo isso.

E se a pergunta que você, escritor, realmente quer fazer é “que eu devo escrever nesta quarentena?”, então, a resposta é “aquilo que eu tenho vontade de escrever”. Se um assunto interessa a você, pode ter certeza que também interessará seus leitores ideais. E, da mesma forma, se um assunto não interessa nem o autor, dificilmente os leitores terão interesse nele também.

Encontre o tema que intriga sua mente e os leitores encontrarão você. O que está esperando para publicar ebook? A hora de se expressar é agora.

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