A pandemia pode não ser uma experiência igual para todos, mas se existe um consenso é que nada tem sido normal nos últimos anos. Diversas experiências inéditas vieram para sacudir nossas vidas.
Vivenciamos o isolamento, a falta, a saudade. Conciliamos em um mesmo espaço o estudo, o trabalho, o sono, o lazer. As telas se tornaram ainda mais presentes do que já eram, o que parecia impossível. E vivemos assolados pelo medo da morte e a ansiedade da doença. Não está fácil.
Com essas mudanças intensas que entraram na nossa rotina, tem sido difícil se autorregular. Encontrar o equilíbrio. São tempos absolutamente fora da nossa realidade anterior, e até o significado de estar “bem” parece ter mudado. É o suposto “novo normal” que de normal não tem nada.
Mas e então, onde nos encontramos com tudo isso? E por que isso interessa em um blog de autopublicação para autores independentes?
Bem, antes de mais nada, queremos falar com você, escritor, enquanto pessoa. Às vezes, nos cobramos tanto profissionalmente que esquecemos que sem a pessoa por trás do profissional, trabalho nenhum sai. Existe um motivo para síndrome de burnout ser reconhecida como doença ocupacional. O trabalho pode nos consumir.
Como escritores independentes, temos um trabalho além do convencional. Geralmente, um trabalho home-office e motivado por nós mesmos. Muitas vezes, um trabalho que tem que ser conciliado com outro trabalho. Isso tudo gera uma mistura de trabalho, responsabilidades e expectativas que se acumulam até não poder mais. E aí, pifamos.
Jamais podemos nos esquecer de que existimos como seres vivos, com necessidades fundamentais. Sim, vivemos numa sociedade regida pelo dinheiro e pela produtividade. O trabalho se mostra necessário para conseguirmos atender nossas necessidades.
Contudo, também podemos adoecer de trabalhar. E quando adoecemos, não cumprimos o trabalho. E nos decepcionamos. E nos estressamos. E nos preocupamos. E as contas se acumulam do mesmo jeito.
É um ciclo de tiros no pé. E é difícil encontrar uma solução, ainda mais uma solução individualizada.
O que podemos oferecer é um empurrãozinho na direção da autocompreensão. Você entende que precisa de autocuidado. Mas como praticar isso?
Encontrando o equilíbrio no seu dia-a-dia
Há uma série de mitos do bem-estar. Regras universais que todo santo humano deve seguir para ficar bem. Durma oito horas por dia, se alimente de três em três horas, não coma antes de dormir, exercício de manhã… A vida entra numa caixinha.
O primeiro passo é entender que não, as pessoas não cabem todas em caixinhas iguais. Somos todos diferentes. Temos hábitos diferentes, organismos diferentes. O que faz bem para um pode fazer mal para o outro e vice-versa.
O autocuidado é uma questão de encontrar o próprio ritmo.
Dormir bem é fundamental para o bem-estar. Apenas quando dormimos conseguimos descansar a mente, de modo que ficamos prontos para encarar um outro dia com calma e equilíbrio. Sem esse descanso, não raciocinamos direito e não conseguimos distinguir o que é importante do que não é. Todo o estresse penetra a nossa mente sem filtro.
Mas o que significa dormir bem? Não é dormir oito horas por dia todos os dias, deitando exatamente no mesmo horário. Existem pessoas que precisam dormir mais, outras que precisam dormir menos, e as horas de sono que precisamos podem variar de um dia para o outro.
O tempo de sono adequado para um ser humano adulto pode ir de 6h a 12h por dia. Nenhum desses extremos está errado, basta compreender as necessidades de cada corpo.
O bom sono é aquele que repõe suas energias, que faz com que você acorde revigorado. É um sono que não demora para vir e que, quando vem, não tem grandes interrupções (mas tudo bem levantar rapidinho para ir ao banheiro e dormir de novo).
É verdade que o nosso corpo tem o seu próprio reloginho, que aprende o horário certo de acordar e até de dormir. Para regular o nosso relógio, é bom acordar mais ou menos no mesmo horário todos os dias.
Contudo, devemos respeitar o nosso corpo quanto à hora de dormir. Não adianta deitar na cama antes do sono bater, isso ensina para o nosso corpo que a cama é um lugar de ficar acordado. Deite-se quando estiver cansado. Associe a cama com o sono. Acorde na hora certa e seu corpo vai se autorregular.
O autocuidado não deve ser motivo de estresse
Infelizmente, o discurso do autocuidado se tornou tão forte nos últimos tempos, que começamos a criar um novo tipo de pressão: a pressão para estar bem. Temos que ser perfeitos em tudo, até no cuidado com nós mesmos.
No fim, criamos uma contradição. A vontade de estar bem pode ser exatamente o que nos deixa mal.
Por isso, tudo que fazemos por nós mesmos deve ser feito com calma e leveza. Uma rotina pode fazer bem para o nosso corpo e alma, mas se o processo de estabelecer essa rotina nos estressar demais, tudo perde o sentido.
Isso vale até para o nosso sono. Quando temos medo demais de não dormir direito, é como se chamássemos a insônia. Aceite que alguns dias serão mais difíceis do que os outros, não fique com raiva de si mesmo por não dormir na hora que planejou, nem por sentir o que está sentindo.
Evite pensar antecipadamente no que pode acontecer depois. Se não é hora de dormir ainda, não precisa se preocupar tanto com o sono. Viva um momento de cada vez.
A rotina do escritor independente
Sempre batemos na mesma tecla por aqui. Se você quer publicar livro, deve escrever. Para cultivar o hábito da escrita, é bom desenvolver uma rotina. De certa forma, são várias “regrinhas” para serem seguidas.
Queremos que você as veja de forma maleável. Outro ponto no qual sempre tocamos é sobre encontrar o caminho certo para você. Por que defenderíamos a liberdade criativa para publicar ebook se achássemos que todo mundo tem que ter uma rotina igual?
Cada pessoa pode ser motivada por uma meta diferente. O próprio significado de sucesso pode ser distinto para cada um. E que ótimo!
Portanto, não se pressione demais para entrar em algum tipo de caixinha de escritor perfeito, com uma rotina perfeita, uma produtividade perfeita.
O que recomendamos é a experimentação. Você pode descobrir se prefere escrever de manhã ou à noite experimentando os dois. Você pode descobrir que gosta de dormir um pouquinho mais tarde e escrever na madrugada, quando a casa já foi dormir. Ou pode escrever num café movimentado no intervalo de almoço. Cada um com seu cada qual.
Aprenda a avaliar a realidade sem julgamento. Ou seja, olhar para o que estamos sentindo ou pensando sem determinar se é algo bom ou ruim, apenas reconhecendo cada sentimento ou pensamento como o que são: sentimentos e pensamentos.
Essa é uma ótima forma de reduzir as distrações e aprender a lidar melhor com a vida em seus pequenos infortúnios. Não significa que você deve ignorar nada, nem fingir que não existe. Assim, você também aceita seus sentimentos. Tem horas que você sente raiva, e tudo bem. O que você pode fazer com isso?
Da mesma forma, busque formas de separar o seu dia em etapas e tarefas, mesmo quando não é possível transitar por diferentes espaços. É ótimo para a nossa mente saber que há um lugar certo para trabalhar e outro para dormir, mas nem sempre é possível esse trânsito.
Então, avalie a possibilidade de criar ambientes dentro de um mesmo espaço. A música certa para alguma atividade e por aí vai.
Experimente. Se encontre.
Aproveite esse momento para se reconectar com você.
Com certeza, perceberá que isso em si já será um ótimo exercício para a escrita.