Nunca é cedo demais para escrever um livro

Já dizia o jingle: “Pra aprender a ler, pra isso não tem hora. Pode ser de dia, pode ser de noite, pode ser agora.” E escrever não é diferente. Não existe uma pessoa velha demais para escrever um livro, nem uma criança jovem demais para abrir as portas da autoria.

Se pensarmos no criar da ficção, você pode se tornar um contador de histórias sem sequer saber ler e escrever. A literatura tem raízes na oralidade. São os contos e os causos passados adiante para passar o tempo, ganhando pontos e crescendo e se modificando como uma grande teia de tradição.

Hoje, as histórias se comunicam e se transformam através de diversas formas e canais. A história se passa em filme, em livro, em série, em música, em arte. O passo inicial da inspiração para a autoria pode até mesmo vir da nossa banda favorita.

Quem acompanha o blog de autopublicação da Bibliomundi já sabe: acreditamos numa literatura de todos para todos. E nesse “todos” incluímos também as crianças, nossa pequena semente do futuro.

Quando devidamente estimulada, uma criança pode se engajar no universo criativo com uma vivacidade que impressiona. Às vezes, suas ideias únicas vão muito além em um misto de sabedoria e ingenuidade do que a nossa cabeça adulta é capaz de acessar.

Veja o livro “Amoras” de Emicida, por exemplo. Ao mesmo tempo que o livro é dedicado a educar as pequenas crianças negras na linguagem do amor próprio, a própria premissa do livro foi construída por ninguém menos do que uma criança.

Em uma conversa com sua filha mais velha enquanto catava amoras no quintal de sua mãe, o rapper explicou que ela deveria escolher as mais pretinhas, pois eram as mais doces. A menina, com o que seu pai descreve como a “grandeza do raciocínio das crianças”, diz então que as frutas eram como ela então. Doces e pretinhas.

Toda a narrativa do livro foi construída em cima dessa conversa, e o resultado foi potente e poético. Ainda que muitas vezes seja necessária a supervisão e/ou auxílio de um adulto, a grandeza da mente infantil está aí, mostrando seu valor.

Como adultos, devemos não só ouvir mais nossas crianças, como também encorajá-las no ato da autoexpressão. Isso vem tanto da exposição às narrativas, mostrando para elas o que são livros, como também abrindo esse mundo como uma possibilidade. Dê às suas crianças papel e lápis. Grave suas histórias.

A adolescência também é um enorme espaço para criação. Passada a primeira fase da infância, os pensamentos já seguem uma ordem mais estruturada e se inicia uma busca pela própria identidade em meio a turbulências hormonais e negociações sociais.

Muita da literatura que vende é feita justamente sobre e para adolescentes. No auge da juventude, queremos desesperadamente ver histórias sobre nós.

E se essas histórias fossem escritas por adolescentes?

Há quem acredite que essas histórias deveriam ser escritas por adultos de qualquer forma, como uma forma de supervisão das narrativas que são consumidas para que os conteúdos sejam saudáveis para o desenvolvimento, ou até mesmo porque não acreditam que o adolescente tenha a capacidade de escrever bem.

É claro que temos uma vida inteira para aprimorar nossas habilidades e que esperamos que um indivíduo chegue na vida adulta com habilidades mais refinadas do que tinha na adolescência. Contudo, isso não é motivo para dizer que um adolescente não deve escrever, nem é base para afirmar que um adolescente não pode escrever bem.

Christopher Paolini, o autor de Eragon, começou a escrever a série com 15 anos e aos 19 publicou seu primeiro livro. Esse é apenas um exemplo de vários autores que escreveram e publicaram best-sellers antes de se tornarem adultos.

Jamais se deve inibir o espírito criativo e as ambições de um jovem escritor com o discurso da dificuldade. Escrever e publicar livro é possível sim. E se depender de nós, será possível para todas as pessoas.

Aos adolescentes que nos leem:

Escrevam! E leiam! Leiam muito. Leiam todo tipo de autor possível, conheçam narrativas diversas e estilos distintos. Leiam os clássicos, leiam os best-sellers e leiam os livros independentes. Leiam adolescentes e leiam adultos.

Se comuniquem. Se expressem. Vivam a sua adolescência também através da escrita, num caminho de descoberta, experimentação e autoexpressão. Escrevam diários, escrevam poemas e escrevam livros. Escrevam cenas soltas e escrevam histórias. Escrevam peças de teatro, escrevam músicas. Escrevam o que quiserem!

Aos adultos, sejam os pais, parentes, responsáveis ou educadores:

Incentivem as novas gerações. Presenteiem crianças e adolescentes com livros, com canetas, com papel. Deem a eles diários. E conversem com eles sobre a ficção. Torne a literatura uma atividade interativa, não desperdice sua voz, lembre-se que você pode ler para crianças e pode conversar com pessoas de todas as idades sobre histórias de ficção.

Demonstre interesse nos hobbies das crianças e dos adolescentes de seu convívio. Saiba o que eles fazem no seu tempo livre, o que assistem na TV, o que mexem pelo computador. Saiba, mas de forma aberta e positiva. Abra um espaço de confiança e diálogo.

Com as crianças, brinque. Torne a brincadeira de bonecos e de faz-de-conta um espaço de criação, interpretação, criatividade. Conheça suas ideias, as incentive. Elogie e dê empurrõezinhos também.

Com os adolescentes, exercite a presença e o espaço. Não invada a privacidade, mas se ofereça para ler e ouvir. Mostre que sua presença é um campo aberto, um espaço de crescimento e incentivo.

Para que um adolescente ou uma criança cheguem até o ponto de publicar ebook, é sim necessária a supervisão de um adulto responsável. Existe aí um processo de remuneração e exposição que precisa ser feito com responsabilidade.

O que propomos aqui é que se faça o começo de tudo: a criação. É para todos. E é possível sim.

E aí, o que você pensa dos jovens escritores?

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