Mudando de papel: uma vez leitor, agora escritor

Quase todo escritor começa do mesmo jeito: sendo um leitor. Embora não obrigatório, é natural que o caminho da escrita se inicie não pela criação, mas pela exposição ao que foi criado por outrem.

Ler outros autores nesse período formativo é como uma benção. A varinha mágica que nos toca na cabeça e aflora o pensamento criativo.

O que pode se dar de forma bem diferente, no entanto, é a transição entre ser aquele que lê para tornar-se aquele que escreve. Alguns podem dizer que começaram já na infância, mal sabendo escrever, já escrevendo histórias. Para outros, pode vir até na terceira idade, como uma atividade inteiramente nova, uma exploração de facetas do “eu” até então desconhecidas.

Se você se encaixa no primeiro grupo, que já pegou no lápis como um criador, talvez seja fácil vestir a camisa da autoria. Pode ser que a identidade “escritor” seja tão natural para si quanto saber o próprio nome.

Mas nem sempre é o caso. E toda experiência é válida, não é mesmo?

Então, como saber quando é a hora de mudar de papel? Como saber que você, que sempre gostou de ler, lendo livros, notícias e até bula de remédio para passar o tempo, deveria escrever também, quiçá investir na autopublicação?

Bom, existem alguns sinais:

1.     Você narra a própria vida na sua cabeça

Pode parecer esquisito, ou talvez fazer isso seja tão natural para você que pode vir como uma surpresa o fato de que nem todo mundo pensa assim, como uma narrativa. Mas é, se você se pega narrando as coisas que acontecem, ou pensando na própria vida como se estivesse escrevendo uma prosa em fluxo de consciência… É um sinal.

E mais ainda se você percebe que essa voz narrativa tende a imitar a voz do narrador do livro que está lendo no momento. É sinal de que você absorve os estilos literários e começa a torná-los algo seu, sua própria criação.

E não se desencoraje pensando “ah, é só uma imitação”! Você pode ver isso como o seu cérebro fazendo um exercício de narrativa, desenvolvendo a prática antes de adotar um estilo próprio. O próximo passo é pegar esse narrador que habita na sua mente e colocá-lo no papel. Você estará pronto para publicar ebook antes do que imagina.

2.     Há personagens que habitam na sua mente

Você por acaso imagina uma certa pessoa que não existe? Você pensa em seu nome, sua aparência, sua vida e fica imaginando como ela agiria no dia-a-dia, talvez até mesmo como se ela estivesse acompanhando você nas suas atividades? Meu bem, se isso acontece, você criou uma personagem.

Pode ser que quando criança a gente só chame essa “pessoa” de “amigo imaginário”, mas a partir do momento que você tem a habilidade de se expressar em palavras, você pode ver isso como a construção de um universo ficcional.

Essa pessoa que habita na sua mente é uma personagem. Seu habitat é a ficção. Sua vida é uma história. Por que não escrevê-la? Comece aos pouquinhos. Há uma cena solta se desenrolando na sua cabeça? Coloque no papel.

Histórias podem precisar de começo, meio e fim, mas o processo criativo não é obrigado a seguir nenhuma dessas regras. Você pode começar anotando tudo o que sabe sobre sua personagem ou escrevendo uma cena dramática que (ainda) não tem contexto nenhum.

3.     Você já escreveu (ou sente vontade de escrever) fanfics

É provável que a maioria das pessoas que já publicou ao menos uma fanfic (isto é, uma obra de ficção derivativa sem fins lucrativos, que usa personagens de outros autores ou torna pessoais reais em personagens) não se identifique com o rótulo de “escritor”.

Mas por que será isso?

Será por que “escritor” sugere uma profissão, portanto só pode se identificar como “escritor” quem receber dinheiro para publicar livro? Ou será por que se acredita que a posição de “escritor” é elevada, restrita a grandes artistas, consagrada por meio da validação social?

É difícil dizer. Mas é possível simplificar. Escritor é quem escreve. E se você já escreveu e publicou alguma coisa, mesmo que essa “coisa” não seja monetizada, mesmo que não tenha recebido um prêmio por ter escrito essa “coisa”… Então, há chances de que você seja um escritor sim.

Pode ser que você veja essa escrita como um passado, um hobby que você deixou para trás. Então se você publicou fanfics um dia, mas não escreve mais… então você não é escritor agora, no presente. Tudo bem.

Mas se você já escreveu um dia, o que o impede de escrever novamente? O que dita que o seu fogo criativo está apagado? Por que não pode reacendê-lo.

Ter escrito um dia significa que há dentro de você um impulso criativo. Talvez você não se veja como escritor agora. Mas e daí? Torne-se. É só escrever.

4.     Você sempre pensa em ideias para histórias de ficção

Quem nunca teve um sonho mirabolante e acordou pensando “nossa, se eu vendo isso para Hollywood eu fico rico”? Ou se pegou imaginando talvez uma cena, talvez um clipe de música, talvez uma abertura de seriado.

Às vezes, você pode ver uma cena se desenrolando na vida real e logo vem o pensamento “nossa, isso dava uma história”. Os desabafos dos seus amigos? As conversas que você ouve sem querer no ônibus? Tudo é história.

Você assiste um filme, uma série, lê um livro, vê uma ilustração, lê uma publicação que seja nas redes sociais…. E tudo é ideia para uma história. Uma nova história, que sempre se desenrola de um jeito um pouco diferente da inspiração inicial, nunca uma cópia completa.

E ai, como você queria que viesse alguém e criasse tudo isso para você. Por favor, Hollywood, venha fazer meu filme! Alguém escreve meu livro! Alguém faz essa série! Alguém transforma isso num jogo! Alguém escreve essa fanfic para mim!

Se no mundo faltam as histórias que você sonha, por que você não pode as escrever?

Quando Jordan Peele se tornou um dos diretores de terror mais aclamados da atualidade ao dirigir filmes como Corra! e Nós, que se destacam como pioneiros no gênero pelo total protagonismo negro, sabe qual era seu objetivo? Criar seu próprio filme favorito que não existia ainda.

Lembre-se:

Comece a contar as histórias que só você é capaz de contar, porque sempre existirão escritores melhores e mais inteligentes… mas nunca existirá ninguém igual a você.

– Neil Gaiman

E aí, leitor? Está esperando o quê para tornar-se um autor?

1 comentário


  1. Aprendi que se você tem um sonho, nunca desista dele, mesmo que ninguém mais acredite. Persista, não deu certo 10 vezes, tenta 11. O sonho de todo escritor é ver seus escritos voando por aí. Apoiamos escritores que estão começando e precisam de ajuda para ganhar destaque e divulgar seu trabalho.

    Um abraço!

    Responder

Deixe uma resposta para Diário Ampla Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *