Motivos para todo escritor ter um diário

Sempre batemos na mesma tecla no blog de autopublicação da Bibliomundi: escrever sempre é o que faz um autor. Escreva, escreva, escreva. Só escrever ensina a escrever.

Mas escrever o quê? Terão muitos dias que você vai se pegar olhando para uma folha em branco, sem a menor ideia. Às vezes, caímos nessa quando achamos que tudo o que escrevemos precisa ser grandioso, uma ideia completa e relevante para toda a humanidade. Que, no mínimo, deve ser rentável.

Só que não é bem assim. Escrever é escrever. E qualquer letra no papel tem seu valor. A prática da escrita vale por si só, e vale de modos que você nem imaginou ainda.

Por isso, vamos voltar ao básico, a práticas da tenra infância. Escreva um diário. Isso mesmo, um diário. Um caderninho (que pode ou não ter um cadeado, pode até mesmo ser digital) onde você escreve todo dia sobre coisas que você viu, ouviu, sentiu ou pensou durante seu dia.

Escrever um diário tem vários benefícios, principalmente para autores:

·       Você cria o hábito de anotar suas ideias, para nunca mais desperdiçar aquela inspiração passageira que vem quando você está longe do computador

·       Você cultiva suas habilidades de observação e análise, tornando-se mais sensível ao ambiente ao seu redor e mais ciente dos seus próprios pensamentos e sentimentos

·       Você pode revisitar seu diário no futuro, relembrando seu modo de ver o mundo em uma determinada idade e possivelmente encontrando inspiração para novas histórias, além de compreender o seu próprio desenvolvimento como ser humano

Não é necessário seguir aquela fórmula clássica do “Querido diário” caso seja brega ou quadrada demais para seu gosto. Um diário pode ser qualquer coisa, na verdade. E vamos trazer aqui diferentes ideias de como escrever no seu diário, para você ir quebrando o gelo e desconstruir um pouco a suposta obrigação de publicar livro o mais rápido possível.

1.     Faça uma lista das coisas que você fez no dia

É simples. Pense em, sei lá, dez a vinte coisas que você fez no dia de hoje. Podem ser tarefas, podem ser coisas bobas. Não precisa ser em ordem cronológica. Só tem que ser coisas que você fez ao longo do dia.

Ex.: lavei a louça, botei a roupa na corda, comi feijão com arroz, assisti série, olhei pro teto…

Até aí tudo bem. Muito prático, muito objetivo. Com o tempo, você pode começar a divagar sobre essas atividades e ver se, de alguma forma, isso se torna um poema, um ensaio, um conto. Permita que suas distrações entrem na história. Quem sabe onde sua mente o levará?

2.     O que está preso na sua mente? Desabafe

Existe alguém do passado que você não consegue esquecer? Ou quem sabe alguém do presente mesmo para quem você gostaria de dizer palavras que entalam na sua garganta? Ou será que o que está na sua cabeça não é nenhuma pessoa, mas uma ideia? Um problema? Uma coisa?

Solte o verbo. No papel.

Você pode escrever uma carta que nunca será endereçada. Pode ensaiar uma conversa. Pode divagar sobre os seus planos, seus projetos. Pode tentar fazer uma lista de prós e contras para resolver um dilema pessoal. Pode tentar desvendar o que é que está sentindo, desemaranhar esses sentimentos atormentados dentro de si.

Ninguém precisa ver, ninguém precisa saber. E você será capaz de botar tudo pra fora, não só os sentimentos, mas as palavras. Para um escritor, nada é mais valioso.

3.     Observe o que está ao seu redor

Às vezes, passamos pelo mundo com pressa demais, sem se permitir olhar, ouvir, cheirar, sentir a vida. Esteja você em um lugar conhecido, cotidiano, ou num ambiente completamente novo e cheio de estímulos, pare um pouco e vivencie essa experiência com todos os sentidos.

E descreva. Como é a aparência desse local? Como é o seu cheiro? Como está o clima aí? Quais sons ecoam por esse espaço? Quem o frequenta? É um local movimentado ou vazio? O que é que chama atenção aí? O que é que você gosta ou não gosta nesse lugar? Qual é a sua relação com ele? Você já o conhecia antes? Você sente vontade de explorar mais? O que esse lugar faz você pensar? Ou sentir?

Mais uma vez, permita-se divagar. Permita-se fazer conexões. Permita-se viajar nas memórias, nos desejos, nas ideias, nas fantasias, do passado até o futuro. Conheça universos paralelos se for o caso.

4.     E observe quem está ao seu redor também

Não é só sobre onde você está, mas com quem você está, e estar sozinho também é uma forma de companhia.

Observe. Quem se encontra no mesmo ambiente que você. Pode ser uma pessoa. Você a conhece? O que ela é para você? Qual a sua relação? O que você sabe sobre ela? Como ela é?

Sendo alguém semi-conhecido, ou alguém com quem você apenas interagiu brevemente, pode ser interessante pensar nas vidas como linhas que se cruzam por acaso, talvez uma vez só. Qual a conexão que existe entre você e o atendente do caixa? E como seria a vida dessas pessoas que estão “do outro lado” do seu conhecimento: vidas cujos detalhes você não sabe?

É válido imaginar. Que tal atribuir um nome, uma história imaginada? Ou talvez abrir uma conversa, procurar conhecer. Às vezes, você pode relatar histórias que ouviu no metrô, por acaso.

Os animais também têm sua presença. Quais animais habitam esse lugar onde você está? Pode ser um local com animais domésticos, com animais urbanos. Dependendo, você pode até mesmo encontrar animais do mato. Observá-los também é muito interessante.

5.     Qualquer objeto de estudo é válido

Não há limites para o que você pode escrever num diário. Qualquer coisa, material ou imaterial, pode despertar uma linha de pensamentos. Qualquer estilo de escrita é válido também. Se você quiser desenhar, pode. Listar? Pode. Jogar palavras soltas e sair conectando elas com fios e de repente fazer um parágrafo até que sua página vire um embaralhado de ideias que ninguém mais poderia entender? Sim, fique à vontade!!!

O diário é seu. Ele é pessoal. Ninguém precisa entender. Se um dia você quiser divagar sobre a cor verde, você pode, e se fizer isso de forma ininteligível para os outros, não é problema.

O segredo do diário é que ele nos liberta, nos conecta aos nossos sentidos e pensamentos e, no fim, pode nos inspirar. Nossa mente está sempre cheia de frutos que deixamos cair e apodrecer. Aprenda a colhê-los. Cultive um diário.

 

E aí, autor? Está pronto para embarcar em mais essa jornada?

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