Mitologia na Literatura

Por que a mitologia é tão fascinante? O que faz com que nós continuemos buscando esses mitos, sejam eles próximos da nossa cultura ou distantes em tempo e geografia? É inegável que a mitologia se faz presente até hoje na cultura pop. Aliás, mais do que apenas presente, ela se reinventa.

Temos deuses nórdicos que se tornaram super heróis e semideuses fora do cânone mitológico mas protagonistas de literatura infanto-juvenil. Encontramos a mitologia em todo lugar, desde as telonas do cinema até ebooks de autores independentes, lançados com autopublicação.

Talvez o segredo esteja na origem da mitologia em si. Definida em português como o conjunto de mitos de uma determinada cultura, a mitologia se entrelaça na religião e representa a forma que um povo enxerga ou enxergava o mundo. Um ponto em comum entre as mais diversas mitologias é a presença de mitos cosmogônicos, que explicam o surgimento do universo, e mitos de origem, voltados para o surgimento de elementos locais, como uma cidade, uma tradição ou até mesmo uma planta.

Com essa definição em mente, podemos pensar na mitologia como parte inerente da natureza humana em si. Buscamos explicação para aquilo que vemos e vivemos, e ainda que o termo “mito” seja altamente associado a “ideias incorretas”, de certa forma, o mito não é tão distante da realidade. Em vez disso, pode-se dizer que o mito conta a realidade por meio de artifícios narrativos, representando a experiência humana.

Na ausência de uma explicação científica satisfatória, explicamos nossa vivência, aquilo que sentimos e observamos no mundo, com uma narrativa fantástica. E, por mais que olhemos para as mitologias passadas ou pertencentes a outras culturas e enxerguemos algo tão fantasioso quanto um livro de ficção, a verdade é que também construímos e vivemos nos mitos hoje em dia.

Sob uma determinada perspectiva, o cristianismo praticado tão amplamente no Brasil também é uma mitologia. Trata-se de um conjunto de crenças e práticas culturais. A única diferença é que o vivenciamos aqui e agora, diferentemente da mitologia grega.

Há também uma forte presença da astrologia, tarologia e até mesmo a bruxaria na atualidade, ainda que não sejam vistas com a mesma credibilidade que grandes religiões. O fato é que buscamos respostas naquilo que não pode ser explicado.

Todo esse conjunto de crenças e práticas nos leva a uma compreensão da nossa cultura. Olhando para a mitologia, podemos observar o nosso imaginário coletivo, o inconsciente compartilhado. E buscar as mitologias de outras épocas e culturas pode ser visto como uma forma de investigar aquilo que une a humanidade como um todo.

Talvez esse seja um dos pilares do fascínio ao redor da mitologia grega, que há séculos tem ampla influência cultural e artística. Nela, podemos observar diferentes arquétipos. Deuses tão cheios de emoções e atitude que, por nós, acabam sendo descritos ironicamente como “tão humanos”.

A presença da mitologia na cultura pop

Se investigarmos a fundo em busca de todas as referências mitológicas na cultura pop, não caberia em apenas um artigo. Por hoje, vamos nos concentrar em alguns exemplos notórios, que traduzem mitologias clássicas para a compreensão contemporânea, criando novos laços entre o presente e o passado.

Talvez um dos exemplos mais famosos atualmente seja o super herói Thor, baseado diretamente no deus do trovão da mitologia nórdica. Ao passo que a Marvel apresenta Thor como o verdadeiro e único deus mítico, aquele mesmo que lemos nos livros nórdicos, é nítido que a personagem se trata de uma adaptação. Para começo de conversa, Loki, o deus da mentira, não é seu irmão no mito original.

São concedidas diversas licenças poéticas para que essas personagens possam se adequar a essa nova forma de mídia e também para que o público que a consome consiga se relacionar com essa história.

Temos também Percy Jackson & Os Olimpianos, uma série de livros infanto-juvenil que conta a história de jovens filhos de humanos com deuses da mitologia grega. A ideia se inspira nos diversos mitos de deuses gregos que se deitaram com humanos, gerando semi-deuses, mas a traz para a contemporaneidade. Essas crianças existem agora, no séc. XXI. E, assim como o super herói dos quadrinhos, Percy Jackson também é uma personagem que se encaixa nas expectativas de um protagonista infanto-juvenil da atualidade.

No mundo dos jogos eletrônicos, temos a série God of War, que a princípio se passa em um universo inspirado na mitologia grega e, em uma segunda fase, na mitologia nórdica. O protagonista da série em ambas as fases é Kratos, que assim como Percy Jackson, trata-se de uma personagem original, não pertencente a nenhum mito.

O que podemos observar nessas obras é um efeito de via de mão dupla. A nossa enorme curiosidade pela mitologia nos faz criar obras como essas e, ao mesmo tempo, a existência de obras que adaptam a mitologia para a atualidade nos reconecta aos mitos. Com a presença de novas personagens e narrativas, cada vez mais pessoas buscam conhecer melhor as mitologias que as inspiraram.

É possível falar de mitologia em poemas, em prosa, em música, em filmes. É possível recontar uma mesma história ou criar personagens derivadas desses universos. É possível até mesmo trazer apenas alegorias, simbolismo, metáforas que se conectam aos mitos.

Há uma infinidade de possibilidades na hora de escrever e publicar livro inspirado em mitologia, seja ela qual for. E sempre existirão leitores interessados na sua interpretação dos mitos.

E aí, autor? Está esperando o que para se inspirar nos grandes mitos?

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