Menos é mais: aprenda a reduzir seu texto ao necessário

Sem dúvidas, um dos problemas mais comuns entre escritores iniciantes é a tendência à verborragia. A escrita palavrosa, prolixa, burilada, facunda, ostensiva, faustosa, pedante, espaventosa, pernóstica, farfalhuda, cheia de floreios, adornos, excessos e descrições.

Um estilo que mais parece uma propaganda de dicionário do que qualquer outra coisa. E que, infelizmente, impossibilita que os leitores sequer consigam passar da primeira página de tal conteúdo espetaculoso e indecifrável.

É um formidável suplício.

A verborreia assume muitas faces diferentes: excesso de adjetivos ou advérbios, descrições prolongadas em cenas desnecessárias, escolha de palavras difíceis onde opções simples cairiam bem, diálogos rebuscados e artificiais, enfim, tudo o que é teatral e prolixo.

Identificando o inimigo

Muitas vezes, esse excesso deriva de um sentimento de inadequação de escritores iniciantes, que sucumbem à ideia ilusória de que é necessário enfeitar ou prolongar seus textos para alcançar um padrão literário ou profissional.

Em outras palavras, esses escritores se esforçam demais onde não só não é necessário, como também inconveniente.

No entanto, identificar o que é “escrita de qualidade” é uma tarefa complicada e muito subjetiva. Logo, produzi-la se prova mais difícil.

Para não pecar pelo excesso, o primeiro passo é reconhecer seu inimigo. Existe todo tipo de estilo de escrita diferente, e não queremos cortar suas asas e podar a maneira que você se expressa. De qualquer maneira, desnecessário é desnecessário, e é isso que você deve aprender a cortar.

Pense em William Shakespeare, por exemplo. Os seus clássicos são característicos pelas rimas, floreios e neologismos. A sua obra dramática foi produzida em uma época em que se “ouvia” o teatro. O foco estava nas palavras, não na imagem.

É de conhecimento geral que as peças shakespearianas não são fáceis de se ler, em muito pela sua idade, mas também pelo jogo de palavras. No entanto, quando se aprofunda nelas, é possível perceber que cada escolha ínfima é necessária. E essa é a grande diferença.

Grandes autores cujos estilos são famosos por conter muitos detalhes, palavras difíceis ou adornos quase sempre adicionam algo crucial às suas obras por meio desses elementos. E onde há significado e importância, não há excesso.

Você deve reconhecer seu livro, seu público e o mercado. Então, pergunte a si mesmo: “o que é realmente necessário?”

Quando lidamos com nossas próprias obras, sejam livros de ficção ou não, é normal que o nível de envolvimento não permita que vejamos com nitidez o que é essencial ou não. O resultado são informações completamente irrelevantes ganhando parágrafos e mais parágrafos.

É hora de desapegar. Ninguém se importa se você conhece uma palavra difícil. O público só quer entender o que está lendo. E só você realmente se importa com a aparência daquela personagem que mal merece ser chamada de secundária de tão irrelevante que é para o enredo.

A não ser que o gênero e faixa etária exijam isso, seus leitores não precisam ser tratados como crianças incapazes de entender algo que já foi dito. Eles também não estão interessados em ter aulas sobre assuntos que nem sequer dizem respeito ao tema do livro.

Sim, a realidade é cruel, mas para se tornar um autor profissional, é essencial saber diferenciar o que interessa a você do que interessa ao leitor.

Todos somos indivíduos complexos com uma ampla gama de interesses, mas assuntos específicos precisam ser tratados um livro de cada vez. Não dê aos seus leitores o que eles não pediram.

Corrigindo o problema

A verborragia é um hábito. Logo, é difícil cortar o mal pela raiz e parar de vez com ela de um dia para o outro.

Por isso, no início, o melhor caminho é revisar atentamente os textos em busca de excessos, assim como buscar opiniões críticas e imparciais. Tente identificar o que parece entediante, excessivo ou desnecessário. Em termos simples, são esses pedaços que você deve deletar ou substituir.

Não se sinta um mau escritor caso a sua escrita sofra com essa questão. É perfeitamente normal, e essa tendência pode evoluir para um estilo adornado, porém sem excessos, ao encontrar o equilíbrio correto.

Basta ter paciência consigo mesmo e uma visão um pouco mais rígida em relação ao que merece ser incluído na versão final do ebook ou não.

Eventualmente, é possível que suas palavras prediletas se encaixem com perfeição em um texto, que aquela personagem coadjuvante encontre a hora de brilhar e que você escreva livros de sucesso sobre assuntos que não se adequavam aos anteriores. Tudo em seu tempo.

Muitas vezes, o problema está em tentar abraçar o mundo e fazer todas essas coisas acontecerem de uma vez só, tornando seu texto denso demais para ser lido.

O seu leitor precisa respirar.

Um parágrafo denso pode ser o recurso perfeito para construir o clima de uma cena. Três parágrafos assim, por sua vez, configuram uma leitura cansativa.

Uma palavra exótica pode ser a última peça do quebra-cabeça que é uma frase perfeita. Três palavras exóticas desaceleram a leitura.

Permita intervalos. Permita o minimalismo.

Com o tempo, você vai encontrar seu equilíbrio ideal.

Queremos ouvir sua opinião

E você, autor? O que achou deste artigo?

Para ilustrar, incluímos copiosas amostras de verborragia neste texto. Sinta-se livre para apontar os trechos em que elas aparecem e oferecer melhorias.

Contamos com suas considerações e abocamento para acudir-se nossa agremiação de escritores em uma irmandade cada vez mais abundante.

7 Comentários

  1. Matheus Felipe

    Gostei muito da explicação, melhorando a cada dia come esses blogs, parabéns…
    ft-futuro melhor copywhiter

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  2. Anônimo

    Eu destacaria essa dica do artigo de cortar certos personagens e eventos do livro em desenvolvimento e reservá-los para obras posteriores. Isso é valioso, pois você não precisa gastar tempo agora com certas tramas e elementos que podem ser (e são) muito interessantes, mas que não são essenciais para o bom andamento da obra atual. Por exemplo, uma garota nerd que agora é muito tímida e só serve como parte do elenco de apoio da história, mas que no próximo título, pode ganhar contornos de vilã e estorvar a cidade inteira. Ou o ex-namorado que não precisa aparecer ou sequer ser mencionado agora, mas pode roubar a cena no livro seguinte…

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  3. Sidnei Luna

    Gostei da maneira direta e prática da orientação de como escrever uma crônica, da bibliomundi.

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  4. simone andrade

    Bom dia,
    não estou encontrando as ” copiosas amostras de verborragia”. Gostaria de ver.
    E exemplos do que é chamado texto denso, há algum?
    obrigada,
    simone andrade

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  5. Excelente exposição sobre a falha comum da verborragia, aliás, eu mesmo em meu primeiro romance cometi esse “pecado”, mas alertado por uma leitura crítica de um grande profissional, “enxuguei” meu texto mesmo com dor no coração. Foi a melhor coisa que fiz tirar palavras “difíceis”, sintaxe muito elaborada e, principalmente, o excesso de advérbios e adjetivos. Os leitores da obra elogiaram a dinâmica do texto e do enredo, entremeado de suspense. É bem isso que a Bibliomundi está passando para nós escritores novatos, ou não. Agostei muito.

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  6. Débora Almeida de Souza

    É exatamente a ajuda que necessito, tenho muitos livros manuscrito para ser corrigido , digitado e publicado
    Obrigada

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