Vivemos em um país onde a maioria da população é negra, mas na política, na literatura, no cinema e na televisão, não enxergamos esse protagonismo. Há uma exclusão evidente, na qual até mesmo novelas passadas nas regiões com maior concentração de população negra no país, o elenco é branco. Isto é, com exceção dos figurantes em cenas na cadeia. Porque retratar o negro sempre como bandido, escravo ou empregado doméstico é socialmente aceitável no Brasil.
De acordo com pesquisa orientada pela professora Regina Dalcastagnè (Universidade de Brasília), entre 1965 e 1979, 93% dos autores eram brancos e os 7% restantes eram não identificados. De 2005 a 2014, esses dados pouco mudaram: 97,5% dos autores são brancos e apenas 2,5% são não brancos. Em resumo, o que mudou é que temos ainda mais autores brancos e alguns autores não brancos começaram a se auto-identificar.
A branquitude dos autores também se reflete nas histórias que escrevem. Desde 1965 até 2014, apenas 6,3% das personagens eram negras. E quanto ao protagonismo, apenas 4,5% ganharam o papel principal. Como já falamos, essas personagens quase sempre têm o mesmo perfil, e raramente é heróico.
Sabemos também que no Brasil há um amplo desinteresse na literatura. Até que ponto essas informações estão conectadas? Mais de 50% da nossa população não se vê representada na literatura, seja na cor das personagens ou na vivência dos autores que as criou.
Em suma, nossa literatura está desconectada da realidade brasileira. E estabelecer uma conexão entre a vida e a arte pode ser um caminho para despertar o interesse de novos leitores e, logo, de novos autores também.
Assim surgiu a Malê, uma pequena editora totalmente voltada para o protagonismo negro, desenvolvida após seu criador, Vagner Amaro, frustrar-se em uma tentativa de montar um acervo de literatura negra na biblioteca local e observar que até mesmo autoras negras premiadas, como Conceição Evaristo, não recebiam nem a visibilidade, nem a distribuição que mereciam.
Como diz o próprio site da editora Malê, trata-se de “uma editora que busca colaborar com a ampliação da diversidade do mercado editorial brasileiro, publicando autores com o objetivo de garantir-lhes visibilidade, assessoramento editorial e publicações com design, produção gráfica e impressão de qualidade”.
Amaro concorda também que qualquer esforço para democratizar a leitura no Brasil precisa levar em consideração a representatividade e diversidade na literatura. Não basta reclamar que “não se valoriza a literatura no Brasil” se, na prática, a literatura brasileira não valoriza o verdadeiro povo brasileiro.
Muito mais do que pedir aos autores brancos que escrevam sobre pessoas negras, é preciso criar espaço e oportunidades para o autor negro publicar livro. Oferecer a visibilidade necessária para que esse livro brilhe, para que as pessoas saibam que ele existe.
A Bibliomundi acredita que a literatura é de todos para todos. A literatura precisa ser de todos para todos. Aqui, você pode publicar o seu original no formato ebook com total liberdade criativa, sem pedir permissão a ninguém, seguindo o modelo de autopublicação.
Entre os nossos autores, temos o professor Adelmir Barbosa dos Santos com o título YABÁS: Princesas Negras – Recontando lendas africanas Yorubá. Na introdução, Adelmir conta sobre sua vivência como contador de histórias em escolas do nordeste, onde as alunas negras não conseguiam se identificar com as princesas loiras de olhos azuis, tão privilegiadas pela literatura infantil.
Observando essa desconexão entre o público e o texto, que “produziu um universo de exclusão racial no ambiente escolar” (citando diretamente suas palavras), Adelmir desenvolveu projetos educacionais que levantassem esse debate e promovessem atitudes antirracistas, combatendo o preconceito no ambiente escolar.
Assim surgiu YABÁS: Princesas Negras – Recontando lendas africanas Yorubá, a coletânea dos contos de origem africana que Adelmir selecionou para contar aos seus alunos, que você pode ler em formato ebook. Todos os contos são antigos, mas reescritos sob a ótica de Adelmir, com todo um cuidado e pesquisa para levantar as informações e criar uma releitura fiel, respeitosa.
O livro está disponível na Google Play e na Livraria Cultura, entre outras lojas, com direito a uma amostra grátis da introdução e do primeiro conto, que fala sobre Yemanjá, uma entidade muito presente no imaginário brasileiro.
Para publicar ebook na Bibliomundi, não são solicitados dados como raça, gênero ou idade do autor. Portanto, é uma escolha pessoal compartilhar qualquer uma dessas informações com o público. Foi o caso de Adelmir, que se declara descendente do povo africano, e de muitas de nossas autoras, que consideram suas vivências como mulheres relevantes para a literatura que criam.
Nós estamos sempre interessados em elevar os nossos autores e promover a democracia na literatura. Por isso, convidamos você para participar também.
Você é uma pessoa negra e quer publicar livro? Não perca tempo! A Bibliomundi é de todos para todos.
Você é uma pessoa negra que já publicou pela Bibliomundi? Fale sobre o seu ebook nos comentários! Queremos conhecer melhor os nossos autores.