Jornalismo narrativo: o que é e como escrever

A escrita criativa não se limita aos confins da ficção. Para contar histórias incríveis, nem sempre é necessária uma fuga da realidade. Às vezes, tudo o que precisamos é investigar a fundo o mundo em que vivemos e tirar da literatura somente a habilidade de tecer narrativas.

O jornalismo narrativo, também conhecido como jornalismo literário, é um gênero que se consolidou na metade do século passado. É jornalismo porque conta histórias reais, com enorme compromisso com a verdade. É literário porque não apresenta essas histórias de forma seca e direta, se permitindo sair da descrição objetiva e entrando na narrativa.

Para publicar livro de jornalismo narrativo, não basta se basear vagamente em fatos reais. Não é para misturar pinceladas de verdade com doses altas de imaginação. A construção dessa narrativa deve ser feita a partir de um estudo apurado do caso, com direito a tudo que é necessário para compor uma reportagem: entrevistas, pesquisa, visita aos locais de interesse, leitura de laudos e anotações minuciosas sobre absolutamente tudo.

Em outras palavras, quando você escreve jornalismo literário, você realmente cumpre o papel de jornalista. O nome não veio ao acaso, muitas das publicações do gênero ocorreram em jornais e revistas.

Contudo, não é necessário ser jornalista por profissão para escrever um livro do gênero. Um dos grandes pioneiros do jornalismo literário foi Truman Capote, escritor, roteirista e dramaturgo norte-americano que escreveu sobre o assassinato brutal de uma família em uma pacata cidade no interior dos EUA no livro A Sangue Frio.

Pense como um repórter

Mesmo que você não seja um repórter, você deve agir e pensar como tal para concluir um projeto de jornalismo narrativo. Nas dicas de autopublicação de hoje, compartilhamos alguns passos fundamentais para escrever nesse gênero:

1.      Escolha uma história apaixonante

No jornalismo narrativo, você não pode inventar histórias. Deve descobri-las. Por isso, não há a possibilidade de você simplesmente construir a narrativa dos seus sonhos com todos os elementos que você gosta.

Para que o seu projeto seja interessante não só para os leitores, mas também para você mesmo, autor, é necessário encontrar uma história que desperte sua paixão.

Parece óbvio, mas pode não ser. Em outras palavras, você deve ter certeza de que a história que escolheu investigar é capaz de prender sua atenção por anos, pois é provável que você não conclua o projeto em questão de meses. Não aceite nada menos do que isso.

2.      Esteja presente

No sentido literal da coisa, a sua presença na cena é importante para conseguir reconstruir passo a passo a história que deseja contar para os leitores. Se você quer falar sobre um massacre, vá até a cena do crime. Se você quer contar a história de uma paciente que luta contra o câncer, vá para o hospital.

É bom lembrar que nem todo tema precisa ser uma história já concluída. Nem todo bom caso se passa no passado. Às vezes, você pode querer contar uma história que está se desenvolvendo aqui e agora.

No caso de uma história sobre uma paciente com câncer, ela pode ser uma pessoa que ainda está em tratamento. Com a devida permissão dos envolvidos, você pode acompanhar a paciente, conhecer sua rotina no hospital e em casa, aprender todos os detalhes técnicos do seu tratamento e quem sabe até mesmo assistir cirurgias.

Tudo isso é possível e acrescentaria e muito para a narrativa. Afinal, seu material é a verdade. Quanto mais conteúdo real você tiver em mãos, melhor poderá escrever seu livro.

3.      Faça gravações e anotações de tudo o que puder

Não basta apenas estar presente para publicar ebook de jornalismo literário. Você também precisa ter referências concretas que poderá consultar depois. A sua memória não deve ser a única fonte.

Portanto, se você entrevistou alguém: grave a entrevista. E faça anotações. O melhor é fazer ambos, pois enquanto a gravação serve como referência completa, as anotações podem ser onde sua narrativa começa a tomar forma.

Nunca existem excessos na hora de reunir evidências e referências para uma obra de jornalismo narrativo. Tire fotos dos lugares, guarde documentos, grave a experiência de andar no local, anote até mesmo o cheiro do ambiente.

Somente assim você poderá narrar os eventos de forma imersiva, trazendo à tona as emoções dos leitores, mantendo também o compromisso com os fatos.

4.      Identifique seu protagonista

Toda narrativa tem um protagonista, e identificar quem são as personagens que compõem a sua história é fundamental para tecer uma narrativa envolvente. Numa obra de jornalismo narrativo, o protagonista pode, é claro, ser uma pessoa… mas também pode ser um lugar, um objeto, uma doença.

De certa forma, o protagonista do seu livro será o elemento que se encontra como ponto central da história, o que quer que esse elemento seja. Por exemplo, se você contar a história de um bairro, desde a época em que era apenas mato até os dias de hoje, o lógico é que o protagonista dessa história seja o bairro em si.

Entendendo quem é o protagonista, você também pode entender melhor qual perspectiva você deseja tomar dentro dessa história. O tom que deseja passar para os leitores. Quem sabe até mesmo a sua opinião.

5.      Uma questão de ponto de vista

Um fator interessante no jornalismo narrativo é o narrador. Enquanto o jornalismo padrão tende a ter um narrador impessoal e onisciente em terceira pessoa, o jornalismo literário permite mais possibilidades:

  • Você pode optar por narrar o livro em primeira pessoa, se colocando como narrador-personagem enquanto a pessoa que levantou aquelas informações e organizou o livro. Quem sabe possa até mesmo relatar suas próprias vivências, mantendo uma certa objetividade jornalística nas descrições, ainda que você possa expressar suas próprias opiniões e sensações.
  • Você pode narrar o livro em terceira pessoa como um narrador observador, mantendo o seu papel limitado ao seu ponto de vista, ao que você é capaz de observar, ouvir, ler e perguntar aos sujeitos da história.
  • Você pode narrar o livro em terceira pessoa “onisciente”, abordando todas as perspectivas possíveis acerca de um evento (ex.: no caso de um crime, descrevendo desde a experiência das vítimas até a das testemunhas e também dos criminosos).

Aqui, é importante ter em mente uma diferença fundamental entre o narrador onisciente da ficção e da não ficção: você, narrador de não ficção, não pode ler mentes. Portanto, não deve tentar entrar na cabeça das pessoas e tentar adivinhar o que estão pensando.

O que pode fazer é descrever seu semblante em determinados momentos, caso tenham sorrido, chorado ou demonstrado emoções de qualquer forma, e passar adiante os sentimentos e pensamentos que lhe foram relatados.

No campo da observação, é interessante reparar em absolutamente tudo para poder passar adiante ao leitor.

6.      Elimine o desnecessário

Todo bom livro envolve um apurado processo de edição. O jornalismo literário não é diferente. Talvez você se pergunte: mas para que eu vou reunir tanta informação se eu não vou usar tudo?

A verdade é que quase nenhum leitor terá interesse na compilação completa de anotações e documentos que você levantou. Se seu livro fosse apenas uma compilação de fatos, nem mereceria o título de “narrativa”, para começo de conversa.

É preciso pensar em quais detalhes são necessários para a compreensão da história. Possivelmente, você se deparará com muitos termos técnicos no meio do caminho, a depender do tema do seu projeto. Você pode garantir que seu leitor não será um leigo? Se não, é fundamental simplificar a linguagem para que ele compreenda a história.

Uma história de jornalismo narrativo não precisa pertencer a um nicho muito específico. Não é porque você optou por contar uma história de um caso médico, por exemplo, que os únicos interessados serão pessoas graduadas em medicina. Às vezes, são os leitores comuns quem mais têm interesse.

Ainda que não seja uma questão de incluir termos técnicos ou não, a realidade pode ser muito chata. Na nossa vida, coisas interessantes acontecem às vezes. Se você não der uma resumida, fica difícil fazer uma retrospectiva interessante de verdade.

Então, não faz mal resumir, simplificar, cortar tudo o que não é essencial. Pense no que é necessário para se entender a história. E pense no que é necessário para transmitir os sentimentos que você quer passar com essa história. E só.

E aí, autor? Já está pronto para começar a escrever sua obra-prima do jornalismo narrativo?

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