Inspiração: modelos de estrutura para enredos

Antes de publicar livro, você já pensou criticamente sobre qual estrutura de enredo usar em sua história? Ou toda vez que cria uma história, você só sai escrevendo até pensar “acabei”?

Uma narrativa tipicamente pode ser dividida em partes para além do básico “começo, meio e fim”. A quantidade de partes nas quais uma narrativa pode se dividir e a forma com a qual essas partes se relacionam entre si, tudo isso define a estrutura do enredo.

Ainda que você não pense criticamente sobre isso, é provável que as suas histórias ainda se encaixem em uma estrutura de enredo pré-definida. Afinal, mesmo as histórias originais que contamos ainda são reflexos das histórias que já ouvimos. Dessa forma, estruturas clássicas de enredo são passadas adiante.

É normal que em determinadas culturas exista uma visão firme de quais elementos são “essenciais” para uma história. Por exemplo, no ocidente, é comum que o conflito seja visto como o ponto central de uma história desde a antiguidade. Ao longo dos séculos, houve uma transição entre os tipos de conflito mais comuns: Homem contra a natureza, Homem contra o homem, Homem contra si mesmo, Homem contra a sociedade.

Tendo o conflito como ponto principal, é comum também a divisão da narrativa em três a cinco atos, sendo eles: 1. Apresentação, 2. Conflito e 3. Resolução; e 1. Introdução, 2. Elevação da ação, 3. Clímax, 4. Declínio da Ação e 5. Dénouement; respectivamente.

Até hoje, a estrutura em três atos é muito presente em obras populares, como filmes hollywoodianos. A estrutura em cinco atos, por sua vez, é mais presente em obras clássicas, pois o espaço presente após o clímax pode ser visto como “arrastado” demais para o público contemporâneo. Para os espectadores viciados em ação, não há muito o que assistir após o clímax.

Toda essa obrigatoriedade em torno do conflito é uma visão muito cultural, no entanto. Na China e no Japão, existe um conceito de enredo que não se centra em conflito algum. Conhecido como Qi Cheng Zhuan He ou Kishoutenketsu, essa estrutura baseia-se na divisão do enredo em: 1. Introdução, 2. Desenvolvimento, 3. Reviravolta, 4. Reconciliação.

Nessa estrutura, não há conflito. Em vez disso, o ponto central seria a “reviravolta”. É importante ressaltar, contudo, que essa “reviravolta” não é necessariamente o que esperaríamos em um enredo ocidental. Trata-se de uma mudança na direção ou na perspectiva, talvez a introdução de um novo conceito. Algo que quebre com o que havia sido apresentado no enredo nos dois primeiros atos.

A “reconciliação”, por sua vez, é o momento da narrativa em que tudo se conecta, revelando os pontos principais do enredo. Não costuma significar um retorno ao início da narrativa, mas sim uma maior contextualização sobre os fatos da narrativa.

Para que serve saber de tudo isso para você, autor independente que trabalha com autopublicação? Bem, para começo de conversa, nos ensina que não existe uma única fórmula correta para se desenvolver uma narrativa. Existem diversas estruturas possíveis e cada uma tem seu valor.

Em segundo lugar, também percebemos que, mesmo inconscientemente, temos a tendência a seguir determinados padrões com base nas narrativas que tivemos contato desde criança. Tendemos a criar histórias parecidas com as histórias que conhecemos.

Quando você toma consciência das estruturas narrativas, passa a perceber as histórias de forma diferente. Talvez aquilo que antes era incompreensível para você comece a fazer sentido. Quem sabe você, que achava que o conflito era sempre necessário, comece a apreciar uma “reviravolta”?

Como escritor, pode tornar o seu processo criativo mais intencional. Ao pensar em uma estrutura para o enredo antes de publicar ebook, você pode tomar decisões que funcionem melhor para a história que deseja contar.

Às vezes, sem esse conhecimento, um enredo pode parecer batido demais. Afinal, nem sempre as estruturas narrativas mais comuns são as certas para a sua história. Ou quem sabe seu enredo pareça vago e sem propósito aos olhos do leitor, como se você, autor, não soubesse onde queria chegar.

Na pior das hipóteses, sua história pode até mesmo ficar sem pé nem cabeça. Esse é o tamanho da importância que a estrutura do enredo tem para uma boa narrativa.

Inspirando-se nas estruturas narrativas de outras histórias

Uma das maneiras mais simples de compreender o funcionamento de uma fórmula narrativa é vendo-a colocada em prática. Ou seja, lendo livros e assistindo obras audiovisuais.

Os Três Porquinhos: conhecendo a estrutura narrativa dos contos de fadas

Contos de Fadas tipicamente seguem estruturas bem rígidas, com uma “fórmula” já pré-definida que os torna tão característicos. Podemos observar muitos elementos narrativos comuns quando lemos muitos desses contos e, quando se trata da estrutura de enredo, não é muito diferente.

Histórias como Os Três Porquinhos e Cachinhos Dourados dão um significado particular para a “história em três atos”. Em ambos os contos, temos uma repetição de uma sequência.

No caso d’Os Três Porquinhos, temos um antagonista, o lobo mau, que está caçando os protagonistas. Para se proteger, cada porquinho constrói uma casa. A primeira casa é de palha, o lobo a sopra e a destrói facilmente. A segunda, de gravetos, também é destruída. Por fim, o terceiro porquinho constrói uma casa de tijolos, e finalmente o lobo falha em sua missão.

Com essa oportunidade, o porquinho cria um plano, atraindo o lobo a entrar na casa pela chaminé e enfiando o vilão em um caldeirão. Assim, após uma série de conflitos repetidos, o protagonista consegue quebrar a sequência, se proteger e contra-atacar, derrotando o antagonista afinal.

O número “três” se repete em muitos contos de fadas. Temos os três ursos, com suas três camas e três pratos de comida em Cachinhos Dourados. N’O Pássaro de Ouro e A Gatinha Branca, temos três príncipes e três missões. Em geral, o sucesso definitivo é sempre deixado para o final.

A Odisseia: a história que se arrasta com complicações intermináveis

A palavra “odisseia” se tornou sinônimo para uma história ou viagem longa e cheia de imprevistos, aventuras, reviravoltas. O termo surgiu com o poema épico, cujo título é uma simples referência ao seu herói, o rei de Ítaca, chamado “Ulisses” ou “Odisseu” a depender da tradução (no original, Odysseus).

A Odisseia, uma continuação da Ilíada, retrata o retorno de Ulisses para casa após o fim da Guerra de Tróia. Sua esposa Penélope o aguarda, mas pretendentes cercam seu lar presumindo que seu marido está morto devido à sua ausência por vinte anos.

Para evitar o casamento, Penélope promete que escolherá um pretendente após tecer um sudário para o pai de Ulisses. Contudo, toda noite ela desmanchava seu trabalho, ganhando tempo. Seu filho, Telêmaco, sai a procura do pai.

A narrativa tem uma estrutura não-linear, apresentando primeiro a situação na ilha de Ítaca, para somente depois chegar até Ulisses e mostrar as tribulações que enfrentou em sua jornada. Até mesmo os deuses se envolvem na jogada, alguns tomando seu favor, outros contra. Náufragos, aprisionamentos, desvios de curso, lutas contra monstros. Ulisses vive de tudo um pouco.

Assim, temos uma narrativa com um arco central, que é apresentado logo no início da história, e diversos arcos menores, com conflitos únicos que sucedem um após o outro antes da história chegar à sua resolução. Uma verdadeira odisseia.

E aí, autor? Quais histórias inspiraram você com suas estruturas únicas? Fique no aguardo e, em breve, traremos mais exemplos de estruturas para enredo!

2 Comentários

  1. Diogo Gravena

    Muito bom como abordou o tema “enredos”. Para muitos autores iniciantes, o desenvolver do enredo acaba sendo o que os bloqueia. Podem ter a história toda na mente, mas na hora de escrever é que vem a dificuldade.
    Parabéns pelo tópico!

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