Fluxo de consciência: liberte suas ideias

Semana passada, falamos sobre como a meditação pode melhorar sua escrita e mencionamos algumas vezes o “fluxo de consciência”. Mas o que exatamente é esse fluxo? E como ele pode nos ajudar a escrever melhor? As dicas de autopublicação de hoje explicarão tudo o que você precisa saber sobre o uso do fluxo de consciência para melhorar a escrita.

Se você é apaixonado por literatura, possivelmente já conhece o conceito do fluxo de consciência como estilo narrativo. Contudo, o termo já existia antes mesmo de ser levado à literatura.

Foi o filósofo e psicólogo americano William James que teorizou o fluxo de consciência, como uma maneira de definir a característica contínua dos nossos pensamentos. Às vezes não prestamos atenção à maneira que pensamos, mas quando pegamos um ônibus, por exemplo, e não temos nada para fazer durante o trajeto, nossa mente não pára.

Um pensamento vem atrás do outro, alimentando assuntos ou seguindo para o próximo imprevisivelmente, mas de maneira que parece natural para quem pensa. É como um fluxo, um rio que corre sem parar.

A nossa consciência pode ser compreendida, então, como uma “metamorfose ambulante”. A mutação é constante, ininterrupta, e às vezes concentra-se em determinadas sensações ou impressões da realidade, às vezes as ignora por completo.

O fluxo de consciência na literatura

Quando o assunto é literatura, o fluxo de consciência muitas vezes também é chamado simplesmente de “monólogo interno”. A ideia é reproduzir na narrativa o fluxo contínuo de pensamentos, muitas vezes ignorando certas estruturas como parágrafos ou capítulos.

A aplicação deste conceito, contudo, pode variar de autor para autor, de obra para obra. Você poderia escrever um livro em primeira pessoa, cuja narração reflete diretamente os pensamentos do protagonista. Você pode também escrever um livro em terceira pessoa, cujo narrador onisciente passeia pelos pensamentos do protagonista de maneira ilógica, por vezes oferecendo suas próprias reflexões sobre a personagem no processo de narrativa.

Se na Grã-Bretanha o fluxo de consciência é caracterizado pelas obras de James Joyce e Virginia Woolf, no Brasil contamos com a excelência de Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Enquanto a obra de Clarice era marcada pela introspecção, com narradores que mergulhavam profunda e repentinamente nas percepções e pensamentos das personagens, a proposta de Guimarães Rosa era outra.

Em Grande Sertão: Veredas, observamos um “fluxo de consciência” que, na verdade, está mais para um “fluxo da conversa”. A obra imita uma situação oral, em que o protagonista conta sua história para outra pessoa no que deveria ser um diálogo, mas nunca ouvimos a voz do outro. O leitor se apossa dessa personagem em segunda pessoa e “ouvimos” atentamente a história narrada de forma contínua, como um rio. Veredas.

Como o fluxo de consciência pode liberar minha criatividade?

Hoje não viemos para falar do fluxo de consciência como recurso narrativo, mas sim ensinar a você como beber da sua própria fonte de pensamentos. Veja bem, se a sua mente está em mutação constante, sempre produzindo ideias, palavras e percepções de alguma forma, por que às vezes você trava na hora de escrever?

A verdade é que muitas vezes hesitamos em vez de nos entregar ao fluxo de consciência. Queremos ter controle total sobre o que colocamos no papel e, por vezes, misturamos a escrita e edição. Isto é, escrevemos dez palavras e depois apagamos cinco. Construímos e destruímos ao mesmo tempo.

Olhando por esse ângulo, dá para ver como nada se acumula assim, não é mesmo? E sem acumular palavras, não temos um texto completo, uma ideia coerente.

Editar é importante, mas como já explicamos em Como escrever um livro passo a passo, é outra etapa do processo para publicar livro. Separar as etapas não só fará com que você escreva mais e melhor, mas também o tornará mais confiante. Afinal, você não vai mais duvidar de si mesmo a cada dez palavras que escreve.

Então, experimente se libertar. Não precisa ser direto na literatura. Você pode fazer como recomendamos no nosso artigo sobre meditação e escrever um pouco sobre qualquer coisa todo dia de manhã. Isso acostumará você a escrever livremente e é provável que também exponha questões que devem ser trabalhadas e enredos que merecem ser desenvolvidos.

Escreva e observe o que você escreveu. Compreenda sua consciência. Destrinche seus pensamentos. Aprenda com você mesmo, com tudo o que você nunca ousou prestar atenção antes. De certa forma, você fará um estudo de personagem com você mesmo.

Mais do que encontrar sua própria voz, você ouvirá palavras que nunca imaginou que saíriam de você mesmo.

Na pesquisa “The Science of Mind Wandering: Empirically Navigating the Stream of Consciousness”, realizada por Smallwood e Schooler, são comprovados diversos benefícios da exploração do nosso fluxo de consciência. Por exemplo:

  • Conseguimos nos planejar melhor, pois o nosso fluxo tende a se concentrar no futuro
  • Nos tornamos mais criativos, pois nossa mente nutre pensamentos fora da caixinha, e com isso podemos até mesmo encontrar soluções para diversos problemas
  • Compreendemos melhor o mundo e nossa própria vida, pois o fluxo integra momentos do passado e eventos esperados para o futuro de maneira significativa, construindo uma narrativa própria para nossa vida
  • Ficamos mais calmos e alegres, pois nossa própria mente oferece descanso e distração quando precisamos aliviar o estresse ou fugir do tédio
  • Sonhamos acordados, literalmente. Há conexões entre o fluxo de consciência e nossos sonhos. Por exemplo, ambos potencializam a criatividade e pensamentos negativos, ao mesmo tempo. O que não enxergamos é como os pensamentos negativos podem nos preparar para certos desafios e, quando estamos acordados, podemos aprender a lidar com essas dificuldades.

Para escrever e publicar ebook, por sua vez, você pode se sentar na frente do computador com uma ideia do que quer escrever e, a partir daí, deixar fluir. Sem hesitação. Sem julgamentos. Tudo o que vier a mente sobre seu livro irá para o papel. Simples assim.

Deixe descansar e, depois, revise o que foi feito. Veja o que pode ser aproveitado ou não. É provável que você descarte grandes partes do que fez, mas isso não é um problema. Cada etapa tem seu tempo, e o importante é fazer.

E aí, autor? Já deixou sua consciência fluir para o papel?

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