Ser um autor independente também significa se atentar aos pequenos detalhes que vão além da escrita em si. Quando se opta pela autopublicação, o escritor se desdobra em vários: editor, publicitário, diagramador. Surgem, então questões antes esquecidas. Por exemplo: como sinalizar a transição de cenas?
Um texto agradável aos olhos é dividido em seções organizadas. Gramaticalmente, usamos espaços, pontuação e parágrafos para que o texto não seja um aglomerado infinito de letras.
Ao organizar uma narrativa, temos mais alguns recursos. O mais comum é a divisão do conteúdo em capítulos. Contudo, ainda há uma divisão dentro dos capítulos, que são as cenas. Às vezes, uma cena termina e há uma mudança de ponto de vista ou passagem de tempo, mas sem que haja uma conclusão do momento narrativo suficiente para justificar a divisão em um novo capítulo.
Os capítulos tendem a ser indexados nas primeiras páginas do livro, assim como sinalizados de forma bem óbvia por um número e, às vezes, um título quando começam. As cenas, por sua vez, não tem o mesmo destaque e, por isso, são usados recursos mais sutis para sinalizá-las.
Em livros impressos, a transição de cena pode ser sinalizada de diversas formas. A mais minimalista é o uso de linhas em branco. Ao ver esse espaço sem texto, o leitor compreende que houve uma transição ali.
Contudo, esse recurso nem sempre é eficaz. Por exemplo, se esse espaçamento se encontrar no fim ou começo da página, é possível que o leitor sequer o note. Cabe à diagramação do livro impedir que isso ocorra.
Ao publicar ebook, o problema se agrava. Afinal, trata-se de uma mídia que se adapta a diferentes tamanhos de tela e às preferências do leitor. Dessa forma, é impossível fazer um controle de onde se encontraria esse espaçamento.
Outra questão a se considerar é que o leitor do ebook pode não compreender o espaçamento dobrado como uma escolha intencional de formatação, e sim como um erro do arquivo.
De uma maneira ou de outra, o resultado é o mesmo. Ao publicar livro impresso ou ebook, sinalizar a transição de cenas com espaçamento não é a opção mais confiável.
Elementos tipográficos para sinalizar transição de cenas
Uma forma segura e interessante de sinalizar a transição de cenas é usando elementos tipográficos adequados. Quando um símbolo é utilizado para sinalizar a divisão de diferentes seções do texto, é dado a ele o nome “dinkus”. Diferentes símbolos podem cumprir essa função.
Um dos dinkus mais populares é o asterismo. Isto é, um símbolo que une três asteriscos em uma formação triangular (⁂). Muitos autores optam por apenas usar asteriscos normais, geralmente repetidos (***), sem utilizar o asterismo propriamente dito. Usando asterismo ou asterisco, nunca se esqueça de centralizar o símbolo para que ele ganhe destaque visual. Assim:
⁂
Caso contrário, ele ficará jogado no canto da tela e não chamará atenção para a transição da cena. Observe a diferença:
⁂
Uma outra opção a se considerar são as fontes dingbat. Isto é, fontes com símbolos diferentes que servem para ornamentar o texto, sinalizar transições de cena, entre outras funções. Existem diversas fontes dingbat disponíveis para download (lembre-se sempre de conferir se as fontes estão liberadas para uso comercial) e você pode inclusive personalizar sua própria fonte.
Alguns símbolos de fontes dingbat encontrados facilmente na internet são:
❖✧✦✴✰ ♥ ♦ ♣ ♠
Os símbolos dingbats são atraentes porque podem dar um toque especial ao seu ebook, tornando a formatação mais bonita e mostrando ao leitor que você se atentou aos detalhes. Além disso, existe tradição no uso de elementos tipográficos especiais em determinados gêneros literários, como os contos de fadas.
Os fleurons (❦), por exemplo, existem desde a antiguidade e eram usados em textos gregos e latinos para sinalizar a quebra de parágrafo. Atualmente, se pula a linha para sinalizar a quebra de parágrafo, fazendo com que o fleuron perdesse sua função original. Contudo, eles ainda podem ser utilizados como ornamentos. Observe:
O que deve ser levado em consideração ao optar por usar símbolos dingbat em seu ebook é a compatibilidade com diferentes dispositivos. Em geral, ebooks são um formato fluído e adaptável. Isso significa que a escolha de fonte geralmente cabe ao leitor e a gama de opções depende do dispositivo eletrônico e aplicativo de leitura de ebooks escolhido.
Na prática, isso significa que, ao incluir elementos tipográficos dingbat no seu ebook, é possível que eles não sejam compatíveis com o leitor digital e que apareça um símbolo de erro no lugar, como este: .
É possível formatar o ebook em um formato fixo, de modo que a fonte exibida seja aquela escolhida pelo autor ou diagramador. Contudo, isso elimina a adaptabilidade do arquivo, que é uma das principais vantagens do ebook para os leitores.
Para resolver esse problema sem atrapalhar a adaptabilidade, há alguns caminhos possíveis:
- Programar sua fonte dingbat para que o elemento tipográfico desejado corresponda ao asterisco do teclado. Isto é, ao usar essa fonte, quando você digita asterisco, surge o símbolo que você escolhe. Dessa forma, se o símbolo que você escolheu não for compatível com o dispositivo de leitura, o leitor apenas enxergará asteriscos. Sem grandes perdas, a transição de cena ainda é sinalizada.
- Inserir o dinkus no texto como imagem. Literalmente, você salva uma imagem do símbolo que deseja e a inclui na passagem de cenas do seu ebook. Aqui, o problema em potencial é a imagem não ficar centralizada ou que sua resolução não fique tão boa, mas pelo menos o símbolo não se perde. Neste artigo, inserimos algumas imagens como exemplos!
E aí, autor? O que achou do artigo de hoje? Caso ainda tenha dúvidas sobre como formatar o seu ebook, dê uma olhada no artigo Publicar ebook é fácil: conheça os novos tutoriais da Bibliomundi.
