Na fantasia e na ficção científica, saímos do nosso plano e adentramos um mundo diferente. Essas diferenças podem ser sutis ou drásticas, mas são elas que dão o tom que nos separa da realidade e permite a imersão num universo sobrenatural.
Tudo pode começar com apenas a presença de algum tipo de magia ou tecnologia que não existe na vida real. Isso pode escalar na aparição de toda uma nova espécie, uma nova sociedade, quem sabe um portal para um mundo inteiramente novo. Às vezes, a história nem sequer se passa no nosso universo.
No começo deste ano, trouxemos dicas para criar mundos ficcionais do zero no nosso blog de autopublicação. Agora, vamos explorar um aspecto fundamental dessa ambientação para publicar ebook de fantasia: a criação de criaturas fantásticas (ou extraterrestres).
Assim como os mundos ficcionais onde habitam, as criaturas fantásticas podem ter diferentes níveis numa escala de semelhança com a realidade.
Por exemplo, um unicórnio é bastante próximo da realidade. Em aparência, trata-se de nada mais, nada menos do que um cavalo com chifre. Essa simplicidade, no entanto, não o torna menos mágico. Além da sua estética agradável, outro ponto especial são as propriedades mágicas comumente atribuídas a unicórnios. Pureza, imortalidade, etc.
Podemos colocar o unicórnio como o “nível 1” nessa escala, no qual você busca um animal real e apenas atribui a ele uma ou outra características diferentes, que lhe dão um aspecto sobrenatural.
O “nível 2” da escala de semelhança com a realidade poderiam ser criaturas híbridas, que misturam características de diferentes animais que já existem. Na mitologia, podemos pensar em quimeras, centauros, sereias.
Contudo, essas criaturas não precisam ser montadas como um quebra-cabeça: rabo de cobra, cabeça de cachorro. Você pode implementar essa “fusão” de forma um pouco mais natural, por exemplo, colocando escamas em um cão.
O “nível 3”, por sua vez, poderia ser quando você mistura os reinos. Se antes só estávamos misturando animais, que tal agora considerarmos vegetais e fungos também? Você pode criar um sapo-cogumelo.
E seguindo nessa onda, o “nível 4” é quando começa mesmo o desprendimento da realidade. Nele, você pode, sim, se inspirar em seres já existentes, mas mantendo suas características num nível superficial. Por exemplo, uma criatura que anda em quatro patas, tem garras, tem orelhas, mas não é exatamente como nenhum animal que conhecemos em específico.
E no “nível 5” estariam os monstros lovecraftianos, tão fora do nosso alcance que sequer é possível descrevê-los com precisão. Podem ser monstros cúbicos, podem ser uma cor que caiu do céu, um vulto sem forma.
De certa forma, essa escala também pode ser compreendida como um “nível de estranhamento”.
Agora, tudo bem. A escala está aí. Mas em que ela ajuda você? Vamos enumerar alguns motivos, que também são pontos a se levar em consideração na hora de criar criaturas ficcionais:
1. Você deve encontrar um ponto de partida para sua inspiração
Às vezes, quando estamos criando um mundo ficcional, podemos entrar em vários becos sem saídas. Estruturar um universo inteiro do zero pode exaurir qualquer um. Sim, pode ser uma tarefa divertida e o resultado imensamente gratificante. Contudo, o processo é tão imenso que às vezes não sabemos nem por onde começar e depois nos perdemos no meio do caminho.
Essa escala serve como uma luz, um mapa. Agora você sabe mais ou menos 5 formas diferentes de criar criaturas ficcionais, do mais fácil e comum para o mais difícil e esquisito. Em cada nível, existem técnicas e inspirações específicas. As ferramentas estão nas suas mãos.
2. Você deve entender o universo ficcional onde essas criaturas habitam
De qualquer forma, não basta só pegar a inspiração e sair correndo. Como falamos, os próprios universos ficcionais também podem se encaixar numa escala de similaridade com o mundo real. Em geral, espera-se que exista algum tipo de harmonia entre o universo e as criaturas que o habitam, certo?
Pense na vida real. Temos animais muito esquisitos, é fato, mas cada um deles é adaptado para o próprio ambiente. Desde os peixes abissais, que são esquisitos daquele jeito para sobreviver em condições extremas, até os animais domésticos, que foram treinados e modificados geração após geração para ter uma aparência agradável e um comportamento adequado para a convivência com humanos.
E, como seres humanos, construímos toda uma civilização, tecnologia e arquitetura que condiz com as nossas necessidades e caprichos (mesmo que existam consequências para o meio-ambiente e discrepância na distribuição de renda).
Da mesma forma, as criaturas que você criar precisam fazer sentido com o ambiente onde surgiram e evoluíram, assim como o ambiente pode ser modificado por essas criaturas. Em resumo, você criará um ecossistema.
Vale estudar um pouco sobre porque os animais são do jeito que são e como se adaptam aos seus habitats. Por exemplo, pesquise as características de animais do deserto, depois as características de animais da neve. Veja as diferenças entre predadores e presas, etc.
3. Você deve definir qual função essas criaturas cumprem na sua história
Por fim, uma criatura ficcional deve contribuir acima de tudo para a sua história. Por que você precisa criar esse ser que não existe no mundo real? A resposta pode variar muito:
- Você quer ambientar um universo totalmente novo
- Você precisa criar um monstro para uma história de terror urbana
- Você quer introduzir uma criatura mágica benigna que veio de um universo paralelo para se comunicar com seu protagonista
Essas são só algumas entre incontáveis possibilidades. Só você sabe a resposta certa para a sua história.
É importante ressaltar que, dentro da sua história, pode existir uma escala do quão esquisita é essa criatura para as próprias personagens. Nada impede você de publicar livro que se passa num mundo exatamente igual ao nosso, mas no qual uma criatura totalmente medonha aparece.
Nesse caso, o que vale é você pensar no impacto que essa criatura causa nas outras personagens, no enredo, no leitor. Ela deve ser considerada normal pelas personagens? Deve causar estranhamento? Deve ser assustadora ou adorável? Ela é venerada como uma entidade? Tudo isso deve ser levado em consideração.
Entender o gênero que você está escrevendo e qual é o tom da sua narrativa é fundamental para tomar decisões criativas conscientes.
E aí, autor? Está pronto para montar seu bestiário?