O ano já começou, e as suas resoluções, quais são? Por acaso você quer começar 2021 escrevendo mais rápido e publicar livro com mais frequência? Ou será que você está pensando em escrever melhor? Com o começo de uma nova era, queremos lembrar você que, às vezes, a pressa é a inimiga da perfeição.
Vivemos em uma sociedade que valoriza muito a produtividade. Inclusive, nós mesmo, da Bibliomundi, já fizemos um artigo sobre como aumentar a produtividade para a escrita. Quanto mais rápido se produz algo, mais cedo poderemos comercializá-lo e seguir para o próximo projeto.
É uma visão de mundo produtivista, imediatista, voltada para o lucro. Convenhamos também que quando os boletos estão à vista, essa visão faz muito sentido.
Só que nem tudo precisa girar em torno da produção mais rápida. Para começo de conversa, o que é feito rapidamente nem sempre é feito bem. O que é feito de forma mecânica pode não ser prazeroso tanto para quem o fez, quanto para quem o consome.
Será que tudo que queremos enquanto escritores é nos livrar de um projeto o mais rápido possível só para publicar ebook? E se pudermos pensar além na hora de estabelecer as nossas metas para 2021?
Não estamos negando os benefícios de se visar escrever mais rápido. Publicar muitos livros pode ajudar a construir um público de leitores fiéis, que se sentem seguros comprando livros dos mesmos autores. Além disso, buscar escrever mais rápido pode ser uma motivação para desenvolver uma rotina de escrita disciplinada e eliminar distrações, o que é ótimo.
A questão é que, às vezes, para alcançar uma produtividade maior na escrita, se sacrificam bens valiosos para um autor, seja enquanto profissional, artista ou ser humano.
Nos guias de escrita criativa, um dos conselhos mais comuns é escrever rápido e editar devagar. Em outras palavras, ao escrever o primeiro rascunho você deve colocar tudo o que vier à cabeça no papel, sem receios, sem corrigir. Apenas ao chegar na etapa de edição você deve ativar seu senso crítico, eliminando tudo o que for desnecessário, reescrevendo, polindo o texto.
Esse é um bom conselho. Contudo, não existe conselho que se aplica a todo ser humano sem exceção. Existem autores que preferem ser um pouco mais cuidadosos ao escrever o primeiro rascunho, por qualquer motivo que seja. Esses autores também podem publicar livros excelentes e criar um legado para si.
Foi o caso de James Joyce, que deixou clássicos lendários para o mundo, como Ulisses, conhecido por sua prosa única e experimental. Curiosamente, seus livros tem como característica narrativa o fluxo de consciência, o despejo da mente no papel, mas cujo processo criativo era lento: cerca de 90 palavras por dia, com base em cálculos do tempo que levou para escrever as 265.000 palavras de Ulisses.
O que não faltava a Joyce era disciplina, no entanto. Ainda que escrevesse pouco, ele fazia questão de escrever todos os dias. Uma frase que fosse, ele precisava escrever. Por fim, deixou um legado de mais de dez livros de ficção e/ou poesia.
Para muitos escritores, o ideal é escrever como Joyce. Que seja aos poucos, que seja lento, mas que seja inesquecível. Especialmente se você tem como objetivo criar livros como forma de expressão artística, é fundamental não se perder em metas de produtividade que ignoram o passo a passo da criação.
Escrever rápido demais pode tirar do autor o prazer do processo criativo. E se você quiser curtir sua história, suas personagens por mais tempo? É sempre uma boa ideia você digitar tão rápido quanto o vento?
Quando se deixa levar demais pela necessidade de escrever e publicar o mais rápido possível, até a etapa de edição pode ser deixada de lado, e é aí que mora o verdadeiro perigo.
Se a velocidade vem a custo do cuidado, então há um problema. As vantagens de se publicar livro com frequência começam a sumir.
Cada livro que você publica com seu nome contribui para que você crie uma reputação. Mas e se essa reputação for ruim? Após ler um livro mal escrito, o leitor tende a dar menos chances para o autor que o escreveu.
Quando você não se dedica na hora de escrever e editar seu livro, o mais provável é que o resultado final não seja bom. Ninguém quer ler um livro que não foi editado adequadamente. Um livro que pode ter erros de ortografia e gramática, com cenas irrelevantes para a história, problemas de continuidade e momentos em que o enredo simplesmente não faz sentido.
Todas essas são características de um rascunho, não de um livro final, ponto para ser publicado. Na autopublicação não é diferente.
Você, autor, tem total liberdade criativa para publicar o que quiser, quando quiser. No entanto, a responsabilidade para escrever um bom livro também é sua. Por isso, ensinamos como editar seu livro em 5 etapas, recomendamos como encontrar bons profissionais e oferecemos dicas de escrita semanalmente.
É possível ser um autor que escreve rápido e escreve bem. Não duvidamos disso. Cada escritor tem um processo criativo diferente. O que queremos é ajudar você a encontrar o seu.
Talvez você tenha ouvido de todos os cantos que para ser um autor profissional você precisa ter alta produtividade, que escrever rápido é obrigatório. Calma. Não é bem assim. Não se sinta pressionado. Você pode escrever no seu próprio tempo.
Por outro lado, se você se sente bem escrevendo o mais rápido possível, parabéns. Só recomendamos que, na hora da edição, você tenha bastante cuidado. Talvez deixe o rascunho descansar por algumas semanas antes de dar uma olhada nele. Se possível, peça para que outras pessoas leiam o seu rascunho e deem opiniões.
E se você ainda não encontrou seu caminho perfeito, experimente. Escrever “rápido” ou “devagar” não diz nada sobre a qualidade do texto. Mais importante do que isso é encontrar estabilidade, rotina, paz.
Você pode começar com pouco. Você pode continuar com pouco. Independentemente de qualquer coisa, nós acreditamos que você é um escritor. Nós acreditamos que você pode ser o best-seller de amanhã.
Acredite nas 90 palavras diárias de James Joyce.