Uma eterna fonte de debate entre escritores de ficção é o método mais apropriado para se abordar um enredo.
De um lado, temos os planejadores ávidos, que acreditam que a organização antecipada é o método mais prático e eficaz (se não o único método funcional) para escrever um livro completo e que faça sentido.
Do outro lado, temos os escritores que simplesmente deixam o enredo rolar. É a charmosa ideia de sentar em uma escrivaninha e deixar a história fluir magicamente pelos dedos, com autenticidade artística.
Ambos os métodos são válidos. Dos dois lados existem escritores de sucesso, com obras de imenso valor literário. Não queremos ditar o que é certo ou errado. A pergunta é: qual o melhor método para você?
Cada escritor pensa de forma diferente. Somos indivíduos com necessidades e características específicas. O mais importante é descobrir quais métodos melhor funcionam para você e desenvolver um processo criativo eficaz.
Os prós e contras de planejar
Como mencionado anteriormente, existem defensores ferozes do planejamento de enredos. São muitas as técnicas desenvolvidas, inclusive o complexo Snowflake Method, ou “Método do Floco de Neve”, criado pelo autor e pHD americano Randy Ingermanson.
O Método do Floco de Neve, em resumo, consiste de criar uma frase curta que resuma a sua história. A seguir, deve expandí-la para um parágrafo com cerca de quatro frases, cada uma representando um conflito e, por fim, o final.
Depois, deve transformar essas frases em parágrafos próprios e, dessa forma, sistematizar as partes e capítulos do livro. É aconselhável também organizar algumas tabelas com informações dos personagens, incluindo as trajetórias de cada um dentro do enredo.
Bastante organizado e detalhado, não é mesmo? Os níveis de complexidade do planejamento podem variar de autor para autor, mas a ideia é a mesma: conhecer a história e os personagens e saber o que precisa acontecer em cada momento. Dessa forma, você não perde tempo com cenas inúteis e também não se perde no enredo. Adeus bloqueio criativo.
É fácil perceber os lados positivos de planejar, mas muitos se sentem incomodados com os contras. Por exemplo, a ideia de seguir obedientemente o planejamento parece muito limitadora para muitos autores. Alguns também acham que isso torna o processo criativo menos artístico ou até mesmo que saber o que acontece na história anula completamente o prazer de contá-la.
Para muitos autores, a graça da escrita está em desvendar a história conforme se escreve. Mas será que precisa mesmo ser assim? Se o problema é se sentir enclausurado pelo plano, uma solução prática seria desobedecê-lo.
É claro, isso implica a dificuldade de repensar os planos, mas quem nunca enfrentou imprevistos? A vida é cheia deles, por que a escrita também não pode ser? Planejar um enredo pode funcionar como um guia. É o mapa que que pode guiá-lo ao destino, mas que não o limita às ruas recomendadas.
Enquanto autor, você ainda tem a liberdade de seguir qualquer caminho, mas com o conforto de saber que, caso se perca, não precisará ficar parado olhando para o nada. O mapa ainda estará lá, pronto para redirecioná-lo.
Os prós e contras de deixar rolar
Chegamos, então, à opção mais imprevisível. Se o lado positivo de planejar é sempre saber o que acontecerá em seguida e, por isso, nunca se perder na história, consequentemente, deixar rolar implica a possibilidade de você enfrentar um bloqueio criativo e até mesmo abandonar o projeto.
É o destino de muitos e muitos autores que começam livros sem saber o rumo do enredo. Às vezes você se depara com uma rua sem saída.
Como o planejamento tem base lógica, pode ser difícil contra argumentar. A decisão de deixar rolar é muitas vezes movida pela inexperiência ou idealismo de autores iniciantes que acreditam que esse é o único caminho para escrever autenticamente.
No entanto, a ideia de que planejadores jamais abandonam seus projetos é um mito. Todos estamos sujeitos a desisitir de alguma história. Um jovem autor pode começar a escrever com toda a teoria em dia, um planejamento perfeito e, “na hora do vamos ver”, simplesmente não conseguir tornar toda a teoria em prática e criar um texto fluente.
O deixar rolar não precisa ser irresponsável, ele carrega a responsabilidade do imprevisível. Se você se compromete a escrever um livro até o fim, precisa de determinação e disciplina para superar todos os problemas. E isso pode vir sem qualquer planejamento.
Escrever sem qualquer mapa do enredo realmente pode contribuir para histórias que fluem de forma única. Um exemplo nítido disso é On The Road, clássico de Jack Kerouac, que marcou a geração beat.
Não seria possível produzir uma obra tão movida pelo momento e a aventura com o auxílio de um planejamento metódico. O processo criativo muitas vezes tem a ver com a personalidade do autor e o tipo de obra que ele produz.
O compromisso com um livro escrito sem planejamento também envolve pensamento crítico quase constante. A cada parte concluída, é bom se perguntar sobre o que está escrevendo, o que já aconteceu e o que parece que acontecerá.
Capítulos que cortam toda a possibilidade de movimento do livro são comuns na vida de um escritor, e às vezes é precisa a maturidade para eliminá-los e voltar até o ponto em que o enredo ainda era capaz de seguir em frente.
Por que não um pouco dos dois?
O debate acirrado entre planejar ou deixar rolar resulta em muitos autores tomando posicionamentos extremos, sem aceitar uma mistura entre os lados. Como consequência, nem todos conseguem encontrar o processo criativo ideal.
Já considerou a possibilidade de não ser um planejador metódico, nem apenas deixar rolar? Bom, se você foi capaz de desenvolver um processo criativo único e pessoal, sem se importar com a opinião dos outros, é provável que sim, mas quem busca se encontrar por meio de textos teóricos pode se perder em meio ao conflito.
Não existe um regulamento que define qual tipo de autor cada um deve ser. Se você gosta de planejar a história com calma para se sentir seguro antes de começar a escrever e, após iniciar, consulta os planos de vez em quando, mas nunca se prende mecanicamente a eles, então já encontrou um meio termo.
Ou quem sabe você começa o livro deixando rolar e, conforme escreve, vê o enredo se desenvolvendo e começa a criar um traçado de todas as informações que já adquiriu. Também é um meio termo.
O seu processo deve ser o que melhor se adequa às suas necessidades, mas, caso esteja enfrentando dificuldades ou simplesmente queria conhecer técnicas novas, já experimentou sair da sua zona de conforto e desbravar o mundo de possibilidades que é a criação de histórias?
Tente escrever contos utilizando métodos diferentes. Faça um conto planejado, outro completamente improvisado e depois alguns híbridos. Descubra como se sente em cada método e compartilhe conosco. Acreditamos que a sua opinião e o diálogo podem contribuir para uma comunidade ainda melhor de escritores.
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Muito bom o comentário. Acredito que o enredo seja uma das partes orientadoras do livro. Caso o autor se perca, será reorientado através de pré-qualificado pelo enredo. Não conhecia o método “Floco de Neve”, achei interessante. Creio que o importante seja o autor escrever a sua ideia e corrigir e direcionar sua historia na hora de re-escrever. Acho que o mais importante seja escrever. No meu primeiro livro, que está sendo publicado, devo ter errado na técnica mas, através de livros e consultas de blog’s na Internet, tentarei melhorar. Grato pelas suas orientações, tenho gostado bastante.
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Inicio sem planejamento, mas no decorrer do texto há necessidade de pesquisas e organização do enredo, principalmente quando surge um personagem inesperado com características que fogem da minha experiência pessoal, como também quando surgem lugares que não conheço ou datas históricas em diálogos entre os personagens.
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Eu costumo deixar minha história rolar, enquanto escrevo, e acredito que tem dado certo.
Sou jornalista, tenho uma coluna semanal há muitos anos, também tenho três livros publicados, sendo o primeiro um romance satírico, o segundo de não-ficção sobre os 21 anos da ditadura militar de 64, publicado pela Record e, finalmente, outro romance auto-publicado. Agora acabei de concluir um romance de 130 páginas e pretendo também auto-publicar. Também sou de opinião que os dois métodos são válidos. O negócio é meter a cara e escrever sem preguiça, faço isso todo dia.
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Muito bom o artigo! Realmente, para cada tipo de escrito (e objetivo) existirá um modelo melhor ou pior para ser aplicado. Da mesma forma, tal modelo “melhor” ou “pior” também dependerá de cada tipo de autor. Ou seja, não existem regras! O que importa é o autor experimentar e experimentar, até encontrar aquele(s) tipo(s) de processo criativo que melhor o atenda para determinado objetivo. Existem, inclusive, diversos programas de computador (softwares) específicos para escritores, que podem ajudar (e muito!) neste quesito de criação/produção textual. Eu gosto bastante, e utilizo com frequência, o yWriter, que é gratuito e, principalmente para histórias mais longas, como romances e novelas, são uma mão na roda para quem pretende começar a escrever seu próximo livro. Mas existem muitos outros programas, pagos ou não, que prometem (e cumprem!) facilitar ao máximo a vida dos escritores! Procure no Google que você logo irá encontrar uma variedade deles. Aproveite! Quem sabe este não era o “empurrãozinho” que você estava esperando para colocar a mão na massa? Fica a dica! 😉
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Acho esse acirramento uma bobagem. Não importa qual método o autor se utiliza para escrever a sua história. O que importa é reescrever. É nessa fase que o autor defini como de fato será a sua história ou até mesmo desistir dela.
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É tão fascinante as dicas que me remete à vontade de escrever um pouco mais, além dos meus simples textos, que são publicados num blog que faço parte.
Muito bom saber que há meio de melhorar. Obrigado !
Ironilda.