Dicas para criar mundos ficcionais do zero

Ano novo, vida nova. Bem, para nós, humanos que vivem no planeta Terra (e mais especificamente, no Brasil), não é bem assim. Mas, como escritores, podemos embarcar em novas histórias a qualquer momento, e há momento melhor para criar um mundo novo do que o começo de uma nova década?

Na primeira dica de autopublicação da Bibliomundi para 2021, vamos ensinar você, autor de ficção, todas as dicas que precisa saber para criar um mundo fictício. Se escapar da realidade é o que você precisa, agora é a hora!

Dominar a arte da criação de universos fictícios é útil para publicar livro de diversos gêneros. Embora mais costumeiro ao escrever livros de fantasia, ficção científica e distopias cheios de ação e aventura, essa habilidade também pode ser útil até mesmo na hora de escrever histórias de amor.

O que importa é: o cenário em que sua história se passa é igual ao ambiente em que seu público vive? Esse cenário existe no mundo real exatamente como é no seu livro? Se a resposta para essas perguntas for não, então você vai precisar criar um mundo fictício.

O mundo real como referência para a ficção

Universos fictícios podem ter diferentes níveis de relação com a realidade. Você pode situar sua história em:

  • Um universo totalmente diferente
  • Um universo inspirado no nosso
  • Um universo que supostamente é o nosso, mas com diferenças pontuais
  • Um universo paralelo ao nosso, que pode ser acessado por tecnologia ou magia

Escrever um universo totalmente diferente é complicado, afinal, nosso imaginário é baseado no que conhecemos. Contudo, deve se considerar essa categoria quando uma história de ficção não tem referências óbvias à realidade, podendo ter distinções drásticas em relação à vida na terra. Por exemplo, se passando em um universo onde a atmosfera é diferente e as personagens não são humanas.

Um universo inspirado no nosso, por sua vez, tem países e costumes semelhantes aos que conhecemos, mas com nomes diferentes e possivelmente magia e/ou tecnologia que não existem no mundo real. Um bom exemplo são As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, que renderam a série televisiva Game of Thrones. Identificamos Westeros facilmente com a Europa, além de facilmente compreendermos a estrutura social e o governo. A série tem um tom quase realista, mas com dragões e “zumbis”.

Quando uma história se passa em um universo que supostamente é o nosso, mas com diferenças pontuais, isso significa que esse mundo tem referências geográficas iguais às nossas. Contudo, algo ali é fundamentalmente diferente da realidade. Pode ser a presença de magia, pode ser uma sociedade futurista ou pode até mesmo ser um universo sem nada disso, mas no qual um evento histórico terminou de forma diferente, provocando mudanças em série. Por exemplo, imagine escrever uma história que se passe em um Brasil sem colonização.

Por fim, o universo paralelo é aquele que existe ao mesmo tempo que o nosso. Em outras palavras, o seu protagonista poderia viver aqui, no Brasil, e de repente encontrar um portal mágico que o leva para esse mundo totalmente diferente. Também vale para histórias com uma pegada tecnológica, e esse universo paralelo não necessariamente precisa ser, de fato, outro universo. Pode ser apenas um outro planeta, por exemplo, ou quem sabe uma projeção de realidade virtual.

Entender onde o seu universo fictício se situa em relação à realidade é um ótimo ponto de partida, pois ajuda você a identificar o quanto você precisará trabalhar na criação de novos cenários e regras sociais e o quanto do mundo que você já conhece pode ser utilizado na sua história.

Tirando esse fator do caminho, vamos ao passo a passo:

1.     Sua inspiração já é um começo

Você precisa começar de algum lugar. Qual aspecto desse mundo fictício veio à sua cabeça primeiro? Para Tolkien, foi o idioma élfico, que o próprio autor desenvolveu. É óbvio que essa rota não funciona para todos. Afinal, nem todo autor tem o conhecimento ou sequer o interesse necessário para criar um idioma do zero. É só um exemplo.

Se você imagina uma paisagem, muito bem. Se você pensa em um sistema político, ótimo. Se você pensa no vilarejo onde seu protagonista cresceu, perfeito. Se você imagina lutas mágicas, incrível. Todo começo é válido. Se permita imaginar e anote tudo o que vier à cabeça. Todo detalhe importa e, na pior das hipóteses, você pode fazer modificações depois.

2.     Sobre o que é sua história?

O escopo do seu livro pode ter uma enorme influência na criação do próprio mundo onde ele se situa. Portanto, saber qual história você quer contar pode ser até mais relevante do que onde ela se passa.

Inversamente, o mundo também afeta a história em si. Se suas personagens vivem em um país distópico, certamente isso terá um impacto na forma que enxergam o mundo e como se relacionam. Pensar nessas interações, além de interessante, pode contribuir para o desenvolvimento do enredo e das personagens.

O gênero literário também tende a ter impacto no ambiente em que a história se situa, mas como já mencionamos, você pode escolher um contexto de ficção científica, fantasia ou distopia para escrever uma história de amor. Todos esses aspectos se influenciam mutuamente.

3.     Defina as regras do seu mundo

Quando escrevemos uma história de ficção, embora ela não seja real (e nem precise ser realista), ela deve ser verossímil. Isso significa que aquele universo fictício faz sentido dentro de si mesmo, que os eventos daquela história são plausíveis dentro daquele contexto. Só assim o leitor encontra a suspensão de descrença.

Portanto, mesmo um mundo fictício muito fantasioso deve ter regras próprias. Nessa etapa, saber o quanto o seu universo é conectado à realidade é fundamental. O mundo que você está descrevendo respeita às leis da física? Existe magia nele? A tecnologia é mais ou menos avançada que a nossa? Como o governo é estruturado? Existem diferenças culturais em relação à realidade?

Para criar um universo fictício, o caminho mais rápido é fazer a si mesmo uma série de perguntas. Por isso, propomos que você pense em aspectos fundamentais como:

  • Geografia e ambiente – onde sua história se passa, como os territórios são divididos, como é o clima, como é a flora e a fauna, a atmosfera, como é a estética desse cenário (ex.: cor do céu)
  • Cultura e religião – como são os hábitos das personagens, se existem diferenças culturais entre as personagens das histórias, como elas se alimentam, qual é a sua religião, o que é considerado um tabu, como são as relações de amizade, família e romance
  • Idioma – se suas personagens falam idiomas que existem ou idiomas novos, se diferentes idiomas aparecerão em uma mesma história e como lidar com uma possível barreira linguística
  • Governo – como o governo é organizado, se existem diferentes estruturas de governo para diferentes territórios, como é a relação entre a população geral e o governo, como essa estrutura política afeta a todos (seja para bem, para mal ou até mesmo de forma neutra), como é o acesso a necessidades básicas (água, comida, moradia, educação, lazer), se existem facções que controlam territórios para além do governo oficial
  • Leis e regras – como são as leis de cada território, se essas leis são respeitadas, se existem regras sociais para além da lei, se há corrupção, se a população deseja que as leis mudem
  • História – como é a história desse universo, como ele surgiu (ex.: Big Bang, criacionismo, etc.), se houveram guerras ou conflitos relevantes, se ele já foi mais próspero ou se já sofreu mais miséria do que no presente, se houveram mudanças importantes na organização política, se existe algum evento histórico que é sempre lembrado pela população

Todos esses fatores são válidos para qualquer história de ficção que se passe em um universo que seja sequer ligeiramente diferente da realidade. Agora vamos aos aspectos relevantes para obras que vão um pouco mais longe:

  • Espécies e raças – existem outras espécies humanóides e/ou capazes de estruturar uma sociedade própria neste universo? Se sim, como elas convivem com seres humanos e/ou outras espécies? Quais as características dessas espécies/raças? Elas têm alguma habilidade especial? Sua cultura é diferente? Como elas surgiram (ex.: evolução natural, mutação, são semi-deuses, vieram de outro planeta)?
  • Sistemas mágicos – existe magia na sua história? Se sim, como ela funciona? Todas as pessoas sabem que magia existe? Todas as pessoas podem usar magia? Como a magia influencia a sociedade? Existem regras em relação a como a magia deve ser usada? Quais os limites da magia?
  • Criaturas míticas – sua história conta com criaturas míticas? Elas se inspiram na mitologia e folclore do mundo real? Todas as pessoas acreditam/sabem que essas criaturas existem? Como elas influenciam o mundo onde habitam?
  • Deuses – existem deuses ou um(a) deus(a) neste mundo? Se sim, eles são personagens da história? Como eles interferem no universo?
  • Tecnologia – a tecnologia nessa história é mais ou menos avançada do que no mundo real? Os desenvolvimentos tecnológicos da sua história podem ser explicados por teorias científicas existentes ou existem “porque sim”?

Mesmo que você não venha a explicar detalhadamente cada aspecto desse mundo novo em seu livro, para publicar ebook de ficção realmente imersivo, é imprescindível que esse universo exista de forma vívida e detalhada na mente do autor.

E aí, autor? Está pronto para criar seu admirável mundo novo?

2 Comentários

  1. Ana Saad

    Oi, estou tendo dificuldade em escrever meu livro de fantasia, gostaria de ajuda e vi que vc tem ótimas dicas, desde já agradeço a sua atenção e o seu tempo!!!
    Continue escrevendo esses posts, realmente ajudam muito, abrem a mente!!!
    Se puder entrar em contato, via e-mail ou WhatsApp, de preferência WhatsApp agradeço.

    Responder
    1. Redação

      Olá Ana, não temos atendimento por whatsapp, mas pode pode acompanhar o conteúdo no blog ou nos procurar em nossas redes sociais.

      Responder

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