Dicas de Neil Gaiman para você desenvolver seu enredo

Você já experimentou começar um enredo e de repente não saber mais para onde vai? Ou, quem sabe, imaginou duas personagens feitos um para o outro, mas simplesmente não sabe como fazer com que os dois se encontrem?

Ao desenvolver um livro ou ebook de ficção, é comum se deparar com diversas situações que parecem uma muralha impedindo a continuidade de sua história. Autores literários são muitas vezes responsáveis por propor conflito atrás de conflito a fim de criar uma história interessante. Por vezes, os conflitos são tão grandes que nem nós sabemos como resolver.

Se você se identificou com qualquer uma das situações mencionadas, ou é apenas um leitor curioso, este artigo é para você!

Que tal ouvir as dicas de um autor premiado e consagrado, com cerca de 40 livros e mais de 30 histórias em quadrinhos publicadas, sem contar as participações em séries de TV e adaptações das suas obras para o cinema e o teatro?

Este é Neil Gaiman, escritor britânico e criador da HQ Sandman e dos livros Deuses Americanos, Stardust, Coraline e co-autor de Belas Maldições, ao lado de Sir Terry Pratchett. Sem dúvidas, um dos maiores nomes da literatura britânica contemporânea.

Então, vamos ao que interessa. O que Neil Gaiman tem a nos dizer?

Desenvolvendo protagonistas e antagonistas

A primeira dica de Neil Gaiman é pensar nos objetivos tanto do protagonista quanto do antagonista. Você deve estabelecer o que cada um deseja e porque você torce pelos dois, apesar das diferenças.

É muito divertido ter personagens que querem coisas completamente opostas e você, enquanto leitor, querer que ambas as coisas aconteçam de alguma forma.

Não importa se a personagem é “do bem” ou “do mal”, nem mesmo é necessário categorizá-los dessa forma. Todas as personagens devem ser carismáticos de alguma forma, seja para instigar carinho ou frustração no leitor.

O que define um protagonista e um antagonista é a diferença de propósitos. A palavra antagonista vem do grego, ἀνταγωνιστής, “antagonistes”, que significa “oponente, competidor, rival”. Fazer com que ambas as causas sejam válidas é um excelente caminho de tornar sua história ainda mais interessante.

Como apresentar os dois

Se você é o tipo de autor que começa uma história com as personagens, talvez fazer com que elas se conheçam seja um grande problema. Pode ser que seu antagonista tenha um reino inteiro em suas mãos e seu protagonista seja um mero plebeu, que a princípio nem saberia dos planos malignos do outro. Como eles podem se encontrar?

Neil Gaiman tem uma sugestão para você.

Pode ser divertido fazer com que o protagonista caia na armadilha do antagonista antes de saber quem o outro é (…) Se eles se conhecerão em um bar, coloque-os em um contexto esquisito. Faça o antagonista ser um barman, por exemplo. Faça o protagonista ser um músico que vai tocar no bar aquela noite, quando muitas coisas estranhas acontecerão com os dois.

Ok, talvez o contexto do bar não funcione para a sua história, mas ainda pode servir de inspiração para cenas diferentes. O recado é: pode ser interessante unir as personagens quase que por acaso, ou de um jeito que o protagonista nunca esperaria.

Às vezes é mais divertido mostrar os dois personagens em cena de maneira inusitada antes do conflito final. As relações entre protagonistas e antagonistas nem sempre precisam ser óbvias e seguir um grande clichê. E, por outro lado, você pode utilizar um clichê como ponto de partida para criar algo completamente novo.

Amor proibido

Você já pensou como seria se o protagonista e o antagonista se apaixonassem? Bem complicado, não? Mas desde Romeu e Julieta, sabe-se que o amor proibido tem seu charme. E, claro, que pode terminar em tragédia. Mas uma tragédia muito bonita.

A opinião de Neil Gaiman sobre isso é:

É divertido ver personagens se apaixonarem antes de descobrirem que estão destinados a ser antagonista e protagonista, especialmente se os empregos deles envolvem garantir que o outro é exterminados da face da terra. Pode ser qualquer coisa, desde andróide a caçador de andróides a gato e rato.

Hm, isso soa familiar. Talvez como um certo filme sobre dois espiões que sem querer casaram sem saber da profissão secreta um do outro, até que seus trabalhos se cruzaram… E sabe o que aconteceu com os atores que interpretaram os personagens principais desse filme? Se apaixonaram. E os telespectadores também, mas pelo filme e o casal.

Quando o conflito é insuperável

Por fim, temos um problema que diversos autores de enredos mirabolantes já devem ter enfrentado: quando os conflitos enfrentados pelo protagonista são grandes demais e parece não haver mais escapatória.

A dica de Neil Gaiman sobre isso é inusitada, para dizer o mínimo.

Se o seu protagonista está mortalmente ferido e precisa sair dessa vivo, têm muitas coisas divertidas que você pode fazer. A primeira é matá-lo e ver o que acontece a seguir.

É isso mesmo que você leu.

Dar continuidade a uma história após a morte é sempre divertido, porque de repente as regras mudaram e você precisa repensar tudo o que aconteceu.

Entendeu? Então, mate o seu protagonista. Agora.

Ou não. Que seja. Continua sendo sua escolha. Neil Gaiman também tem uma dica para aqueles que não se sentem confortáveis com tal assassinato.

Uma das alegrias da ficção é a resolução de problemas. Você pode torcer por qualquer pessoa, desde que ela use a cabeça para resolver os problemas. Na verdade, é uma maneira de tornar um protagonista ou até antagonista pouco carismático em uma personagem muito carismática.

Coloque-a em uma situação muito difícil e então faça-a usar a cabeça e não a força para solucionar o problema. Se ela pensar sobre e resolver o problema usando o tipo de conhecimento que qualquer pessoa possui, incluindo o leitor, então as pessoas podem pensar “Meu deus, eu poderia fazer isso.”

Bom, ruim ou neutro, gostamos de personagens sagazes. Não importa de qual tipo de personagem estamos falando, pode ser uma donzela em perigo, um vilão brutamontes ou a típica pessoa comum.

Quando uma personagem consegue enfrentar os problemas e lidar com eles de forma inteligente, inclusive utilizando conhecimentos básicos, que não parecem um mecanismo do autor para tornar seu protagonista ou antagonista invencível.

O principal é fazer com que seus leitores enxerguem a magnitude dos problemas e acreditem na solução do seu protagonista, acreditem que aquilo foi possível e verossímil.

A “suspensão da descrença” dos leitores, ou seja, a capacidade deles de deixarem suas crenças da vida real de lado para se mergulharem na sua narrativa, é a chave da genialidade.

E agora, senhor escritor? Está pronto para enfrentar todos os conflitos da escrita e concluir seu ebook?

Se você não sentiu que qualquer uma dessas dicas serviu para você, temos um último conselho de Neil Gaiman para todos os escritores iniciantes:

Conte a sua história. Não tente contar histórias que outras pessoas podem contar. Assim como você, escritores iniciantes sempre começam usando as vozes de outras pessoas, porque eles leram as obras de outras pessoas por anos. Mas, assim que puder, comece a contar as histórias que só você é capaz de contar, porque sempre existirão escritores melhores e mais inteligentes… mas nunca existirá ninguém igual a você.

Siga a sua intuição e construa sua experiência. Mesmo que você se sinta um autor ruim ou medíocre, lembre-se: nem mesmo os grandes mestres podem substituí-lo. Escreva. Publique. O mundo merece conhecer suas obras.

2 Comentários


  1. Bacana as dicas, ainda mais de um escritor renomado e que eu curto ler. Para quem está começando, nada melhor do que prestar atenção aos detalhes e ao desenvolvimento de uma história.

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