Somos eternos aprendizes. Iniciantes ou profissionais, anônimos ou famosos. Até mesmo Gonzaguinha, um dos maiores nomes da mpb, sabia disso. Não importa o tamanho do talento, há sempre espaço para dedicação e progresso. Por isso, estamos aqui para ajudar você a se tornar um autor melhor.
A cultura faz o autor
Pessoas são indivíduos multifacetados. Temos nosso lado profissional, pessoal, entre outros. Uma das facetas mais importantes de um autor é a do leitor. O conteúdo que você lê nutre sua escrita. Ler livros de outros não é fonte de imitação, mas de cultura.
Na busca pela originalidade, é fácil se isolar do mundo e criar uma obra sem possuir parâmetros de comparação. Do seu ponto de vista, poderá acreditar que desenvolveu algo completamente único e original, e talvez esteja próximo disso, mas o provável é que a característica mais notável da sua obra seja a pobreza.
Existe um limite para o pioneirismo. Já vivemos dois milênios depois de Cristo, sem contar todos os milênios que o precederam. São muitos e muitos anos de produção criativa humana, registrada ou não. Almejar a originalidade completa é um sonho. Acreditar que o caminho para isso é o isolamento é um erro.
É provável que tudo já tenha sido feito por alguém um dia. O que diferenciará o seu trabalho do dos outros é o fato de que você o fez. Ninguém é capaz de escrever como você. Se isolar de outras fontes é impedir sua escrita, que já é única por natureza, de alcançar o potencial completo.
Além disso, a leitura é um dos meios mais práticos de pesquisa, indispensável em romances históricos, ficção científica e não-ficção, mas oportuna em qualquer gênero. Basta o seu ebook se passar em um lugar ou época em que você não vive para a pesquisa se mostrar útil, caso contrário, o resultado será pouco verossímil.
Cultura, intertextualidade, senso estético, noções de movimentos literários e questões atuais e históricas são todos alimento para uma escrita cada vez mais rica. Para aperfeiçoar sua escrita, comece melhorando o leitor que você é.
A prática leva à perfeição
Você não se tornará um autor incrível do dia para a noite. Não existe dom natural capaz de realizar tal façanha. Todos começamos do zero e treinamos a partir daí. Se você pretende se tornar um autor melhor, é importante escrever todos os dias.
Não tem tempo? Crie-o. Nosso tempo é apenas uma questão de prioridades. O espaço que você dedicará todos os dias à escrita não é mais tempo livre, não é mais opcional. Se a sua agenda realmente é muito apertada, uma hora ao dia já é bom o suficiente. Somente a disciplina e uma rotina firme podem levar você à livros completos.
Aproveite esse tempo para realizar alguns exercícios de escrita diferentes, em especial se não estiver trabalhando em algum projeto ou caso esteja tirando um descanso de compromissos maiores.
Escreva gêneros nos quais você nunca se aventurou antes. Busque autores que você admira, inclusive aqueles cujo estilo é muito diferente do seu. Imite-os, apenas por diversão e prática. Tente reescrever uma mesma cena de diversas maneiras diferentes. Insista até ter certeza de que é capaz de escrever textos de qualidade em estilos diversos.
Todos esses exercícios podem ajudar você a sair da sua zona de conforto e tornar seus textos menos repetitivos e limitados. Caso você enfrente problemas como personagens com linguagens muito parecidas, por exemplo, esses exercícios podem ser a salvação.
Além disso, mesmo que você não tenha a intenção de se aventurar em gêneros diferentes, explorar certas características de gêneros específicos pode contribuir na elaboração de conflitos e outros momentos da sua história. Técnicas de suspense podem ser úteis em cenas de tensão em um romance, por exemplo.
Um pouco de organização faz bem
Nem todos os autores gostam de planejar seus enredos por completo antes de começar a escrever um livro. Ninguém é obrigado a isso. Mas, independentemente de planejar com antecedência ou não, a organização pode ajudar você a evitar e solucionar problemas no enredo e desenvolvimento da história.
Se você não se opõe a planejar com antecedência, faça um traçado do enredo. Organize todos os eventos em uma linha do tempo, mesmo que a narrativa não siga a ordem cronológica. Faça um resumo do enredo. Comece com uma frase, depois torne-a um parágrafo e, então, torne cada frase do parágrafo em outros parágrafos. Dessa forma, você terá um resumo de cada capítulo ou parte do livro.
Caso você seja do tipo que deixa o enredo rolar e só descobre os eventos conforme escreve, se organize de forma retrospectiva. Liste tudo o que aconteceu até agora. Anote qualquer informação que você já sabe sobre a história. É válido considerar algumas possibilidades do que virá a seguir, esse exercício pode ajudar você em caso de bloqueio criativo.
Por fim, utilize toda essa organização para desenvolver seus personagens. Pense em cada um deles como um iceberg: apenas um pedaço é exibido na história, mas todo o conteúdo precisa estar desenvolvido na sua cabeça. Um personagem complexo pode demonstrar muita personalidade em apenas uma cena, isso depende de você.
Pense nos pequenos detalhes de cada personagem. Traços da personalidade, cores e comidas favoritas, o que os irrita e o que os alegra. Considere os objetivos e sonhos de cada um, analise a relação deles com outros personagens e até mesmo questões sociais. Imagine a infância de cada um, a vida amorosa. Entenda-os como você entende seus melhores amigos.
Não importa o quão criativo é um enredo. São os personagens que movem a história. Todas as cenas são marcadas por eles, suas ações, falas e percepções. Quanto mais introspectiva for o livro, maior a importância dos indivíduos, mas mesmo em aventuras voltadas para a ação, desenvolver personagens carismáticos é a chave para engajar leitores.
Cuide do seu bem estar
Você é um ser vivo. Antes de ser autor, é uma pessoa. Não se perca na vida profissional a ponto de esquecer seus sonhos e necessidades básicas. Procure sempre entender o que o motiva, use essa informação para fazer uma manutenção constante do seu ânimo.
Cuide da sua saúde e felicidade. Se você tem uma rotina de escrita, respeite-a tanto no sentido de sempre escrever, como no sentido de saber quando parar. De acordo com Ernest Hemingway, renomado autor americano, o ideal é sempre parar quando você sabe o que acontecerá a seguir e não pensar na história enquanto não estiver escrevendo. Nesse meio tempo, você deve fazer outras coisas, as coisas que gosta, que nutrirão sua imaginação.
Escrever loucamente, sem conhecer limites, pode esgotar todas as suas forças e criatividade. Um ser humano saudável é um profissional melhor. Mesmo os autores depressivos muitas vezes buscavam na escrita uma forma de alívio e quase tratamento, o que se mostra diferente da ideia glamourizada e ilusória de que a depressão “impulsionava” e “alimentava” a escrita.
Atenção à boa linguagem
Não somos defensores do preconceito linguístico ou da padronização da linguagem, mas ainda é um fato de que livros, no geral, devem respeitar à norma culta. Por isso, vale a pena estudar o famigerado “bom português”. Dominar as regras gramaticais e possuir um vocabulário vasto podem enriquecer muito sua escrita.
A partir do momento que você domina a norma culta da língua portuguesa, você se torna mais livre para explorar as diferentes variedades linguísticas e licenças poéticas que tornam seu estilo mais autêntico. A capacidade de escrever em mais de um dialeto o torna um autor versátil, capaz de se comunicar com o “povão”, reproduzir regionalismos e, ao mesmo tempo, ser respeitado pela elite.
Atenção à linguagem não se resume à regras também. Compreender padrões estilísticos e figuras de linguagem é ótimo para aprimorar seu estilo, mas cuidado para não abusar. Um texto “enfeitado” demais pode perder em objetividade. Somente os parnasianos se preocupavam mais com a beleza do que o conteúdo.
Crítica e autocrítica
O elemento final para se tornar um bom autor é ser capaz de lidar com a crítica. Isso vale de duas formas: a capacidade de reconhecer que seu rascunho não é uma versão final, e que você deve editá-lo e até reescrevê-lo; e a boa vontade para ouvir críticas construtivas e aprender com elas.
O primeiro nível, a autocrítica, é essencial para qualquer autor. Entendemos a dificuldade de ouvir o outro, mas criticar a si mesmo é necessário para qualquer indivíduo. No entanto, é preciso aprender a conciliar isso com a paciência e a bondade. Ninguém nasce um sábio.
Critique-se, mas de forma construtiva. Revise seus textos para torná-los melhores, não para jogá-los na lata de lixo. Leia, releia e releia de novo. Leia em voz alta, no papel, de todas as maneiras possíveis. Faça anotações, planeje melhorias, corte capítulos, reorganize, se aventure em estilos diferentes e saiba dizer o que não está bom. Sua autocrítica é o primeiro passo para o aperfeiçoamento.
Então, aprenda a ouvir os outros. Filtre as opiniões cruéis. O reconhecimento sempre trará críticas destrutivas. Saiba diferenciar o útil do desnecessário, mesmo que ambos sejam desagradáveis. Um comentário como “seu trabalho é ruim” não apresenta nada proveitoso, ao contrário de “eu não gostei da protagonista, achei ela raza, sem objetivos claros e pouco cativante”.
Apenas aceitar opiniões positivas não levará você a lugar algum. Você não se resume aos seus defeitos, valorize-se o suficiente para aceitar que não é perfeito e entender que seu trabalho é válido independentemente disso.
A vida é um exercício constante de aprendizado e evolução. Seja uma metamorfose ambulante e busque sempre encontrar a melhor versão de si mesmo, enquanto pessoa e escritor.
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Gente, quero agradecer por vocês estarem sempre atentos e trazerem textos maravilhosos como este. A sua leitura, para um autor que ainda busca desesperadamente reconhecimento, que fica procrastinando a adoção de uma disciplina de trabalho, foi fundamental. Vou guardar esta postagem para relê-la mais vezes. Recomendo a todos os que pretendem escrever, a sua leitura. Muito bom mesmo! parabéns!
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Muito interessante essa matéria. São orientações, bem detalhadas, para quem deseja, como é o meu caso, escrever a história de vida, as experiências catalogadas ao longo do tempo.
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Concordo com voces, mas o que pretendo é publicar em papel um livro já escrito,
com 300 paginas e vinte fotgrafias coloridas
Como proceder?
Grato
Murilo Carneiro Pereira
[email protected]