Como terminar uma história

O ano está acabando e o seu livro também. Com a autopublicação pela Bibliomundi, você pode se tornar um autor independente dentro de 72h. Mas antes, precisa dar um fim para essa história. O momento de desespero. Como escrever um bom final para um livro?

O final de um livro é, de certa forma, tão relevante quanto o começo. Se as primeiras páginas da história são responsáveis por prender o leitor e convencê-lo a dar continuidade à leitura, as últimas definem se ele gostará do seu livro ou não.

Um final satisfatório faz com que o leitor guarde com carinho as lembranças da história, avalie-o positivamente na internet, recomende-o para outras pessoas. Um final ruim pode fazer com que o leitor se arrependa de sequer ter escolhido essa leitura, quem dirá ter pago por ela.

Chegar a esse “final satisfatório” nem sempre é fácil, no entanto. Para começo de conversa…

O que é um bom final para um livro?

Como definir se o seu livro teve um final satisfatório? Qual a linha que separa os finais ruins dos finais bons? Inclusive, nem todo final feliz é um bom final, assim como nem todo final triste é um final ruim.

Em geral, pensamos em “final satisfatório” sob a perspectiva do leitor. Ou seja, o final satisfatório é aquele que satisfaz quem lê. Contudo, nem sempre o que o leitor quer é aquilo que o leitor precisa. Mesmo um leitor que torcia pela felicidade dos protagonistas pode ficar satisfeito com um final triste, desde que esse final seja bem-feito.

Alguns elementos comuns em finais que satisfazem os leitores são:

  • Resolução – se a sua história é estruturada em torno de um conflito, é fundamental que o final do seu livro resolva esse conflito para que a história se dê como encerrada
  • Transformação – o final de uma história também deve envolver o final do arco das personagens. É interessante que o leitor possa acompanhar o desenvolvimento do protagonista do começo ao fim e observe no fim da história eventos simbólicos da transformação que a personagem sofreu
  • Suspense e drama – nada como uma boa dose de emoção antes da história terminar, não é mesmo? A tensão antes do fim, o medo de que tudo dê errado, tudo isso contribui para que a história alcance seu clímax
  • Surpresa – leitores gostam de um elemento surpresa e muitas vezes se irritam com uma história previsível demais. Conseguir surpreender o seu leitor com o final de um livro é uma conquista. Mas cuidado! O final precisa fazer sentido. Não adianta surpreender o leitor com um final sem pé nem cabeça

Obviamente, você não deve enxergar os elementos acima como uma fórmula de enredo para publicar livro com um final incrível. Cada livro tem necessidades únicas e cada história pode tocar o leitor de forma diferente. Como mencionamos no artigo Modelos de estrutura para enredos, até mesmo o conflito pode ser descartado de uma narrativa!

Veja esses elementos apenas como uma forma de se lembrar de finais memoráveis e quais recursos narrativos eles utilizaram para se destacar tanto. Quem sabe seja útil para o seu livro?

É preciso levar em consideração diversos fatores na hora de construir um final que funciona para a sua história, especificamente. Não adianta nada se inspirar nos finais de outros livros ou seguir uma fórmula rasa sem pensar nas particularidades da sua história.

Qual o gênero literário dessa história?

Determinados gêneros literários têm regras acerca do final, por exemplo, algumas categorias de livros de romance exigem um final feliz.

Como é a estrutura do enredo?

Se o seu livro segue o modelo da Jornada do Herói, deve terminar com o protagonista voltando para onde estava no começo da história, porém transformado pelas experiências que viveu ao longo do enredo.

Quem é meu público-alvo?

Cada público tem expectativas específicas em relação às histórias que leem, por exemplo, um livro para crianças provavelmente teria um final diferente de um livro para adultos.

Qual o tema e a tese do meu livro?

Você deve escrever um final que transmita a mensagem que deseja passar com seu livro. Para saber mais, leia o artigo Como desenvolver o tema da sua narrativa.

Qual final faz mais sentido para essa narrativa?

O final do seu livro deve fazer sentido, mesmo que seja surpreendente. Todos os eventos do enredo devem levar a esse final, com uma progressão narrativa adequada e, de preferência, algumas doses de foreshadowing.

Quando falamos em “construir” um final, não estamos exagerando. O final de um livro não deve apenas acontecer, mas ser construído pelo autor.

Existem muitos autores, inclusive, que acreditam que o final de uma história é a primeira parte que você deve escrever e todos os eventos do enredo devem ocorrer em função desse final.

Mesmo que você seja do tipo que não planeja sua história e apenas sai escrevendo, ainda assim é importante que em algum momento você edite o seu texto e corrija todas as pontas soltas antes de publicar ebook. É interessante até mesmo que você deixe dicas do final para o leitor ao longo do caminho, ainda que não de forma óbvia.

Tipos de finais para livros

Os finais de livros podem ser divididos em algumas categorias de acordo com o nível de resolução dos conflitos e pontas soltas do enredo. Em geral, um final pode ser aberto, fechado, inesperado ou cíclico.

Um final aberto deixa muitas questões soltas, ainda que resolva conflitos importantes da narrativa. Pode deixar perguntas no ar e fazer com que o leitor se questione sobre o fim da história por um tempo, tirando suas próprias conclusões.

É importante, no entanto, que o leitor sinta que deixar o final em aberto foi algo intencional, com dicas que levam ao questionamento. Caso contrário, só parecerá que o autor não foi capaz de responder às próprias questões que propôs na história.

O final aberto também pode levar a uma continuação da história, a depender de como e quais questões não foram respondidas. Nem sempre a intenção do autor é, de fato, deixar uma ambiguidade  no ar por tempo indeterminado. Às vezes, a ideia é deixar espaço para uma sequência ou um spin-off.

O final fechado, por sua vez, ata todos os nós, encerra todos os conflitos, responde todas as dúvidas. Sem dúvidas, tem enorme potencial para ser um final satisfatório e, a depender do quão ampla é uma história, responder cada dúvida pode exigir muita dedicação do autor.

Pode ser considerado um final inesperado todo final que tem aquela reviravolta, um plot twist que ninguém esperava. Para que esse final agrade, é fundamental que existam dicas dele ao longo da história. A reação do leitor deve ser algo como “Meu deus, eu não esperava por isso!” seguida de “Como eu não percebi antes?!”.

Um final que não tem nada a ver com nada só leva ao ódio dos leitores. Tome cuidado. Às vezes, um autor se dedica tanto ao “efeito de choque” que deixa de lado a progressão narrativa.

Um final inesperado bem escrito, por sua vez, pode levar o leitor a revisitar a obra com outros olhos, procurando os indícios de que aquela reviravolta estava por vir. Quanto mais você desenvolver essa progressão narrativa, melhor tende a ser a recepção dos leitores.

E por último, mas não menos importante, o final cíclico, típico em histórias clássicas e presente inclusive na Jornada do Herói. Existe uma beleza muito particular no final cíclico. Contudo, para que ele não seja vazio e repetitivo, é preciso que esse retorno para o começo seja simbólico, carregado de paralelos e diferenças.

No final cíclico, se volta para onde tudo começou, mas ainda que certas coisas permaneçam, nada está exatamente igual ao que era antes. A personagem deve sentir essas diferenças, o leitor deve sentir essas diferenças. É responsabilidade do autor trazer essa poética para a narrativa.

E os epílogos? Onde entram?

Bem, um epílogo tem lugar quando os pontos centrais da história já estão todos resolvidos, mas ainda existem pequenas questões que você deseja revisitar ou aprofundar.

Você pode usar um epílogo para abordar a relação entre duas personagens, ou os sentimentos de uma personagem em relação a tudo que aconteceu na história, pode inclusive fazer o retorno ao começo apenas no epílogo.

O importante é que os pontos presentes no epílogo não substituam o fim da história. Um epílogo não é o mesmo que um último capítulo. Ele deve ser visto como algo extra, que adiciona algo muito bem-vindo à narrativa, mas sem entrar nos conflitos centrais.

E aí, autor? Qual a sua maior dificuldade na hora de terminar uma história?

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