Como pequenas curiosidades se tornam grandes histórias

Para quem escreve a coluna de um jornal, as menores ocasiões podem se transformar nos mais celebrados textos. Como exemplo, existem autores tal qual Malcolm Gladwell, que conseguiu escrever um artigo sobre nada mais, nada menos do que ketchup. E foi um sucesso.

“O Enigma do Ketchup” (originalmente, The Ketchup Conundrum) é um texto que gira todo em torno de um dos condimentos mais populares dos Estados Unidos e a sua estabilidade ao longo da história. A maionese mudou, a mostarda mudou, mas o ketchup permaneceu o mesmo.

O autor levanta uma pergunta simples, uma curiosidade sobre um elemento cotidiano, e se joga em uma investigação jornalística em cima da história do ketchup e as tendências da indústria alimentícia com o passar dos anos. O texto parece um quebra-cabeça e, no fim, não chega a lugar nenhum, porque não existe uma resposta concreta.

E ainda assim, é um artigo celebrado.

O que podemos aprender com Malcolm Gladwell é que a inspiração pode estar nos lugares mais simples, e o que cativa um leitor em um texto é a maneira que você o conduz.

Se algo pode despertar sua curiosidade, também pode despertar a curiosidade do leitor; e se a jornada for interessante o bastante, nem sempre é preciso oferecer respostas concretas.

Portanto, comece com uma pergunta. O que é que desperta a sua curiosidade? Qual é um tópico que de vez em quando faz você parar e ficar pensando? Será que existe um animal que o intriga? Ou quem sabe um lugar? Pode ser uma empresa, um produto, um objeto, uma história.

A partir daí, você pode procurar se informar mais sobre esse elemento curioso. Contudo, o que deve oferecer ao seu leitor não são apenas os “resultados de uma pesquisa”. Queremos incentivar você a oferecer uma experiência através da autopublicação de uma história.

A curiosidade pode ser uma jornada. Você começa com um fio e vai puxando, puxando e descobrindo mais e mais coisas divertidas. Você os combina numa narrativa dinâmica, cheia de altos e baixos. Você mostra os becos sem saída, e pode mostrar também as suas divagações.

Se posicionar enquanto autor pode ser o diferencial que marca o seu texto. Se algo desperta sua curiosidade, demonstre essa curiosidade. Por que isso é curioso? Por que isso intriga você? Quais as suas opiniões sobre esse assunto? Que tipo de memória isso desperta em você?

Da mesma forma, você pode compartilhar com o leitor as suas sensações conforme você desenlaça o fio. Pode ser que, no fim das contas, o seu objeto de estudo se mostrou um tanto decepcionante. Pode ser que, na verdade, ele não é tão interessante assim. Se pudesse, você voltaria no tempo e ficaria só na curiosidade.

O que é fascinante é considerar que isso, também, é uma experiência. Um aprendizado. A decepção também é um desfecho. Assim como a falta de respostas concretas.

Notoriamente, essas dicas se encaixam muito bem para um gênero jornalístico. Contudo, elas não se limitam à quem tem uma coluna no jornal ou um blog na internet. Você pode publicar ebook com essas ideias. Inclusive, você pode escrever ficção.

E se a sua história começar com um cachorro que atravessou a rua? E se tudo o que você quiser entender é por que cães atravessam a rua do jeito que eles atravessam? E o que será que eles fazem quando chegam do outro lado?

A vida secreta dos animais pode ser conteúdo para uma pesquisa comportamentalista, mas também pode ser o enredo de uma história de realismo mágico.

No fim das contas, a escrita é um processo de encontrar graça nas pequenas coisas da vida. Elas podem ser boas, podem ser ruins, podem ser incrivelmente cotidianas, mas é sempre possível parar para admirá-las um instante. Experimente.

Repare naquele restaurante abandonado na beira da estrada pelo qual você passa, todo caindo aos pedaços, mas com o letreiro no lugar.

Repare nos gatos da vizinhança, que parecem morar em cinco casas ao mesmo tempo.

Repare nos pombos que voam pelos céus fazendo pares para a vida toda e os pobres ratos que se esgueiram na tubulação.

Repare em toda a fauna e flora e como até os animais mais estapafúrdios tendem a ter alguma função nesse ecossistema.

Pense em todas as absurdidades da vida e nas coisas que você fez todo santo dia desde que se entende por gente sem nunca questionar antes. Ou quem sabe, faça o caminho contrário, e pense no que você pode fazer depois que até hoje nunca tinha feito.

Um livro pode ser uma jornada de 396 coisas que você nunca havia feito na sua vida até experimentar pela primeira vez ou uma reminiscência de todos os momentos que passaram aos quais você definitivamente não pode mais voltar atrás.

Pode ser o cheiro de talco de um bebê que não veio ainda ou o colo de uma avó que não voltará mais.

Existe uma infinidade de experiências para você investigar.

E você? O que está esperando para publicar livro com a sua próxima grande história?

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