Escrever um livro nem sempre é um caminho tranquilo. Na verdade, quase nunca é. Além de todo o trabalho duro e objetivo que precisamos fazer, como as etapas de pesquisa, revisão e a prática cotidiana da escrita em si, ainda existe um esforço emocional envolvido. Às vezes, é na subjetividade que encontramos os maiores desafios da escrita.
Uma história de ficção se desenvolve em torno de personagens, que têm vidas próprias, emoções, conflitos internos e externos. Precisamos passar por esses momentos se quisermos compartilhá-los com nossos leitores. Nem sempre é fácil. Às vezes dói.
Quando escolhemos um tema para publicar livro de ficção, por mais bobo e leve que esse tema pareça a princípio, há sempre a possibilidade dele dizer algo profundo sobre quem você é como pessoa. Não é uma regra, é óbvio, mas até mesmo na comédia (ou talvez especialmente na comédia) existem mensagens pessoais.
Isso faz com que, muitas vezes, quando escrevemos uma determinada cena que a primeira vista é 100% ficção, acessemos nossas próprias memórias, sentimentos, vivências. Podemos não ter vivido exatamente o que a personagem está vivendo, mas conseguimos nos conectar com essa experiência em algum nível pessoal. Em geral, é essa conexão que permite que a ficção nos toque.
Essa empatia entre pessoa real e personagem pode vir inclusive transformando as experiências das personagens em alegorias. É um recurso muito comum em obras de fantasia, que, às vezes, utilizam situações sobrenaturais para falar de traumas reais até demais.
Enquanto para alguns autores todas essas experiências são catárticas, e para mais outros elas são quase indiferentes, há aqueles autores que, para conseguir escrever cenas profundamente emocionantes, precisam abrir todas as feridas. É desgastante.
Não é só a ficção que é emocionalmente densa, aliás. A não ficção também pode tratar de temas pesados e pessoais, que doem ao autor. Muitas vezes, sem o “conforto” da alegoria. Trata-se de falar a verdade nua e crua, o que também pode doer.
Agora, que dói, já falamos. Por que dói, já entendemos. O que ainda não conseguimos explicar é como lidar com tudo isso.
Por que você está escrevendo algo doloroso?
Talvez um primeiro passo seja entender o porquê de você estar escrevendo esse texto, essa cena. Se escrever dói, é preciso que tenha um bom motivo para você fazê-lo.
Em um livro de não ficção, a motivação se encontra muitas vezes no desejo de informar. Você precisa escrever esse texto para que outras pessoas no mundo saibam o que você sabe. Talvez isso as torne pessoas melhores. Talvez as torne mais empáticas. Com certeza, as tornará menos ignorantes.
No entanto, nem sempre o motivo para escrever está no leitor que se encontra do outro lado. Às vezes diz respeito exclusivamente a você, autor. Pode ser que tudo o que você precisa seja desabafar e, sim, o processo será dolorido, mas necessário para encontrar uma catarse. Podemos escrever só para aliviar o peso de guardar para si uma experiência dolorosa. Escrever, às vezes, é retirar um espinho para que a ferida possa se fechar.
Tratando-se da ficção, existem livros com cenas emotivas e livros densos do começo ao fim. No primeiro caso, é mais fácil se lembrar de que são apenas algumas cenas que você precisa escrever para que as personagens vivam seus arcos por completo, sem privar o leitor dessas experiências compartilhadas.
Como explicamos no artigo 3 Dicas para escrever um livro emocionante, você deve respeitar o desenvolvimento de uma personagem. Permita que sua personagem viva tanto os momentos bons quanto os ruins. Só assim o seu leitor a conhecerá por completo e poderá respeitar suas decisões e motivações.
Quando um livro é denso do começo ao fim, escrevê-lo pode ser uma guerra, em que todo dia você enfrenta uma batalha diferente no papel. É uma experiência desgastante a longo prazo. Logo, a motivação para escrever esse livro deve ser boa.
Sempre recomendamos nas nossas dicas de autopublicação que você se pergunte: por que o mundo precisa desse livro? Às vezes, temos uma resposta grandiosa para essa pergunta. Temas emocionalmente densos costumam ser temas relevantes também.
O tempo todo acontecem tragédias horríveis no mundo, tragédias essas que são normalizadas ou escondidas pela sociedade. Falar sobre esses assuntos é importante, mas doloroso. Escrever um livro que expõe essas tragédias é uma missão honrada.
Hoje, o que recomendamos é que você dê um passo a mais e aplique o método KonMarie na sua escrita. Arrume os seus projetos de escrita como arrumaria sua casa. Se algo não o faz feliz, descarte!
Pergunte a si mesmo: “eu quero escrever esse livro?”. Às vezes, autores se perdem na “missão” de escrever um livro que vai mudar o mundo, quando tudo o que querem, na verdade, é contar uma história engraçada, leve.
Entenda. Livros que expõe as tragédias do mundo e livros que servem para fazer o leitor rir são igualmente válidos. Você, autor independente, tem liberdade criativa para escrever qualquer um dos dois e publicar ebook que quiser. O que importa é você fazer o que realmente sente vontade, escrever sobre um tema que realmente o inspire.
Se a sua paixão é escrever sobre temas complexos, mesmo que sejam emocionalmente desgastantes, vá em frente. Se não, é hora de reconsiderar o seu projeto. Talvez você deva deixar a história um pouco mais leve. Talvez você deva escrever uma história totalmente diferente.
Em resumo, ao entender melhor as suas motivações, você terá mais disposição para enfrentar os desafios da escrita.
O auto-cuidado e o desgaste com a escrita
De uma maneira ou de outra, entendendo ou não porque queremos escrever os livros que escrevemos, é normal sentir desgaste. Algumas técnicas para lidar com isso são:
Mude de ambiente
Uma técnica muito simples, mas que pode o levar longe é uma simples mudança no ambiente. Só de não respirar o mesmo ar e não enxergar o mesmo cenário de sempre, você pode encontrar uma nova energia, uma nova calma para escrever.
Descanse da escrita
Às vezes, nos cobramos demais. Se uma cena é densa, pode ser que você tenha a inspiração para escrevê-la inteira, numa tacada só, mas nem sempre será assim. Permita-se descansar. É recomendado ter uma rotina de escrita equilibrada, com um limite de horas ou palavras por dia. Parar de escrever enquanto você sabe o que vai acontecer muitas vezes é ótimo para manter o fluxo da criatividade e evitar o desgaste.
Distancie-se da sua história
Ao parar de escrever, especialmente quando é um texto difícil, não pense demais na sua história. Respire. Pratique outras atividades. Aproveite seus hobbies. Divirta-se. Durma. Parar de escrever por si só pode não ser suficiente às vezes. É esse distanciamento que permite que sua mente descanse de verdade.
Desabafe com alguém
Se está sendo difícil demais escrever, não converse só com as páginas. Fale com seus amigos, com sua família, quem sabe com outros autores na internet ou um terapeuta. Às vezes, uma segunda opinião pode vir a calhar. Outras vezes, tudo o que você precisa é realmente botar pra fora e se permitir relaxar um pouco.
Medite regularmente
Por fim, recomendamos que você medite. A meditação pode ajudar a lidar com os estresses da vida de forma mais tranquila e centrada, além de contribuir muito para a escrita. Existem muitos aplicativos de meditação guiada disponíveis atualmente, de modo que você pode aprender em casa sem qualquer experiência prévia. Basta separar alguns minutos do seu dia. Para saber mais, leia nosso artigo Como a meditação pode melhorar sua escrita.
E aí, autor? Qual foi a cena mais difícil que você já escreveu na vida?