Se você é um profissional da escrita ou sonha em se tornar um, provavelmente já pensou em criar histórias para diversos tipos de mídias, como escrever um roteiro. É o que acontece quando você tem uma imaginação fértil e ativa. Dificilmente você para em apenas um projeto e nenhuma caixinha pode limitar seu poder criativo.
Antes de se aventurar nesses novos estilos, é preciso entender como cada gênero funciona em um nível estrutural. Para aprender como escrever um roteiro, a primeira regra é desapegar de longas descrições e parar de falar em sentimentos, focando somente em ações.
Não, isso não significa que o seu roteiro deve ser frio e sem estilo próprio. Trata-se de compreender as prioridades desse modo de escrita e, dentro delas, expressar tudo o que o seu universo criativo precisa.
De diversas formas, o roteiro segue a regra do “show, don’t tell”. Isto é, mostrar o que as personagens sentem por meio de ações carregadas de emoções e expressividade em vez de descrever tudo de maneira literal.
Se essa regra já é indicada por muitos autores de livros, imagina a importância que ela tem em roteiros que são, na verdade, a base escrita para uma obra audiovisual.
Confira 5 dicas para escrever um roteiro inovador:
1. Aprenda como formatar e estruturar roteiros
Já explicamos por que é importante pesquisar antes de escrever um livro e, na hora de escrever um roteiro, não é muito diferente. Se você só está habituado a escrever e publicar ebook, então, é fundamental pesquisar a fundo como funciona a estrutura de um roteiro.
O que acontece é que o roteiro tem um formato tão diferente que às vezes as qualidades que fazem um livro ser excelente são exatamente os defeitos que estragariam um roteiro.
Imagine se os grandes autores do fluxo de consciência, como Virginia Woolf e James Joyce, tentassem levar a técnica para os roteiros e descrevessem em detalhe os pensamentos de uma personagem? Seria um desastre!
O roteiro precisa ser organizado e direto ao ponto. Para você entender melhor essa estrutura, vamos explicar como funciona o formato Master Scene, que é predominante na escrita de roteiros hoje em dia.
Neste formato, o roteiro pode ser dividido em quatro elementos: cabeçalho de cena, ação, diálogo e transição.
Cabeçalho
O cabeçalho de cena deve sempre aparecer no início de uma nova cena e geralmente está em letra maiúscula. A primeira informação do cabeçalho é o número da cena (por ordem de aparição, ignorando a cronologia da história).
Em seguida, vem uma breve descrição do local da cena, acompanhada do indicador INT. (interior) ou EXT. (exterior). Por fim, deve se indicar se a cena se passa de dia ou à noite.
Ex.: 7 EXT. ESCOLA – DIA
Ação
A ação, como você pode imaginar, é a descrição do que está acontecendo na cena. É necessário que essa descrição seja breve e focada em ações, não sentimentos ou questões subjetivas.
Um detalhe que não pode ser esquecido é: toda vez que uma nova personagem aparecer, o seu nome ou título (ex.: “POLICIAL” caso a personagem não tenha nome próprio) deve ser escrito em letra maiúscula e seguido de uma breve descrição de suas características físicas e psicológicas.
Para ilustrar melhor como deve ser uma ação em roteiro, podemos imaginar uma cena onde fortes emoções serão retratadas.
- O sofrimento de Alice era tão intenso que qualquer um poderia enxergar com um simples olhar. A dor em sua expressão, pequenas lágrimas que se acumulavam em seus olhos sem nunca se atrever a cair. Ela não permitiria tal demonstração de fraqueza. Um murro na mesa, ela morde os lábios e se vira para o outro lado bruscamente, assustando a todos que estavam no lugar.
- Todos observam Alice em silêncio. Alice está prestes a chorar. Ela dá um murro na mesa, morde os lábios e se vira bruscamente. Todos se assustam.
Se a intenção fosse publicar livro, então, talvez o texto A fosse o mais adequado. Contudo, estamos falando de um roteiro e, nesse caso, o texto B é, de longe, a opção mais apropriada. Ainda que não seja muito sedutor, ele é simples, direto e guiado por ações.
Diálogo
Os diálogos de roteiros não precisam ser anunciados. Basta escrever o nome da personagem uma linha antes do diálogo. Caso seja necessário incluir algum direcionamento relacionado à fala, por exemplo, a maneira como ela deve ser dita, você pode incluir uma breve descrição entre parênteses abaixo do nome da personagem.
Dois direcionamentos importantes são VoiceOver (VO) e Off Screen (OS). Ou seja, quando a fala é enunciada por um narrador ou personagem que não está na cena, ou quando a personagem que fala participa da cena, mas está fora do enquadramento da tela no momento.
Ex.:
ALICE (V.O.)
Esta história começa há muitos anos atrás, quando eu ainda era uma garota inocente.
Transição
Assim como os outros elementos, a transição tem um nome bem autoexplicativo. Ela indica a mudança de uma cena para outra. Por exemplo, quando a imagem aparece na tela, escrevemos FADE IN no roteiro, e quando a imagem desaparece, FADE OUT.
Entre uma cena e outra, você pode utilizar a transição CUT TO ou simplesmente introduzir o novo cabeçalho, sem transição, caso considere redundante. Dessa forma, você também dá mais liberdade ao diretor.
Quando o roteiro acaba, escreve-se THE END ou FIM.
2. Escreva diálogos dinâmicos
A não ser que você esteja escrevendo um monólogo, o ideal é que as personagens não tenham falas muito longas. Em vez disso, seria muito mais interessante se cada personagem tivesse uma fala curta, cheia de subtexto e, às vezes, senso de humor, que complementasse as falas da outra personagem, tornando o diálogo muito mais dinâmico.
Para não exagerar no tamanho das falas de cada personagem, recomendamos um tamanho de no máximo 3 linhas por fala. Assim, será muito mais fácil para os espectadores acompanharem o diálogo e você ainda tem a chance de tornar o ritmo muito mais acelerado e intenso.
Evite também incluir informações muito óbvias nos diálogos. Isso vale tanto para o recurso clássico em que a personagem explica o que está acontecendo para o espectador (use somente quando fizer total sentido no contexto) e também para falas previsíveis demais.
Quando o assunto é previsibilidade, às vezes é uma boa ideia surpreender o espectador. Claro, existem clichês amados pelo público, que eles fazem questão de revisitar de tempos em tempos. Mas, quem nunca ficou decepcionado por assistir um filme tão previsível que dava para adivinhar o final?
Não cause essa decepção nos seus espectadores. Seja clichê apenas quando você tem certeza de que vale a pena. Crie diálogos únicos e cheios de personalidade…
E, falando em personalidade, uma característica fundamental para diálogos dinâmicos é a voz das personagens, que deve ser única e individual. Tudo bem que, quando assistimos um filme, ajuda que cada ator tenha, literalmente, voz própria.
Mas, como roteirista, é a sua função transmitir a identidade de cada personagem desde o começo. Afinal, o seu roteiro ainda será lido por vários profissionais antes de ser aprovado e, para alcançar um resultado final melhor, os atores também precisam entrar em contato com a voz da personagem.
Para ajudar a tornar suas personagens em indivíduos únicos, criamos o artigo 17 Perguntas que você deve fazer às suas personagens. Dê uma olhada!
3. Deixe o leitor respirar com espaços vazios
O roteiro deve ser uma leitura rápida e dinâmica. Saber respeitar essa estrutura e formatação é um sinal de profissionalismo, que por si só já causa uma primeira impressão melhor em quem lê.
Se você enviará o seu roteiro para aprovação, saiba que muitos roteiros são descartados só de parecerem cansativos. E o segredo para evitar essa reprovação sem chances de leitura são os espaços vazios.
Observe um trecho do roteiro do filme Cidade de Deus (Fernando Meirelles, Katia Lund, de 2002):
Todas as ações são objetivas, as falas são curtas e cheias de personalidade e, com uma olhada breve, você pode ver espaços vazios que indicam que essa leitura será rápida.
Para facilitar, aqui vão algumas dicas do que você deve cortar em um roteiro:
- Qualquer elemento que não possa ser visto ou ouvido. Lembre-se, esta é uma obra audiovisual!
- Qualquer elemento que não seja necessário para o andamento da história. Não aumente o seu roteiro à toa.
- Qualquer elemento nas ações ou diálogos de personagens que não adicione em nada na caracterização ou desenvolvimento. Por exemplo, não precisamos saber de cada gole de café ou tragada no cigarro dada por uma personagem, mas se essas ações foram tomadas por um motivo maior, como uma tentativa de impressionar alguém, então pode ser relevante para o roteiro.
Como já explicamos no artigo Menos é mais: aprenda a reduzir seu texto ao necessário, mesmo quando o assunto é a autopublicação de ebooks, a objetividade é fundamental. Em roteiros, ela é imprescindível.
4. Chegue tarde, saia cedo
Uma maneira sensacional de tornar o seu roteiro mais enxuto e interessante é reduzindo o tamanho das cenas ao cortar o “começo” e o “fim”. Talvez você esteja pensando “opa, mas o começo e o fim são partes importantes, como eu poderia tirar isso?”. É mais simples do que você imagina.
Pense em uma cena onde uma personagem está chegando em algum lugar. A cena poderia ser feita de dois jeitos diferentes:
- VIZINHANÇA DE GIOVANA – NOITE
Joana observa as frentes das casas da vizinhança com calma. Ela avista o número 96 e se prepara para estacionar o carro. Ela tenta encontrar o presente no banco traseiro sem sair do carro.
Joana alisa o presente para tirar os amassados. Ela sai do carro e tenta desamarrotar a roupa. Ela vai até a porta e toca a campainha. Giovana abre.
Você pode observar que, nesta versão, existem detalhes excessivos. Enquanto a tentativa de desamarrotar a roupa e o presente contribuem para a caracterização de Joana, não é necessário descrever como ela tentou identificar a casa de Giovana.
Em outras palavras, poderíamos “chegar tarde” nessa cena:
- VIZINHANÇA DE GIOVANA – NOITE
Joana estaciona o carro. Sem sair, ela busca o presente no banco traseiro e o alisa. Joana sai do carro e tenta desamarrotar a roupa. Ela toca a campainha da casa e Giovana abre.
Dessa forma, suas cenas nunca serão desnecessariamente longas. Mas, lembre-se das três dicas para cortar elementos de cenas, mesmo ao aplicar o conceito “chegue tarde, saia cedo”. O mesmo conceito que indica o que você deve cortar, também indica o que não deve ser cortado.
Poderíamos, por exemplo, começar a cena acima já na parte em que Giovana abre a porta, mas isso removeria momentos importantes da caracterização de Joana.
Supondo que Joana é a protagonista e que sua insegurança é uma característica importante, essa cena pode ser uma boa maneira de mostrar a identidade da personagem mais importante da história e retratar um pouco da dinâmica entre ela e Giovana.
5. Seja simples e objetivo, inclusive no enredo
Por fim, mesmo que a sua meta seja desenvolver um roteiro super inovador, a simplicidade muitas vezes é mais eficaz do que o exagero. Logo, você não deve ser simples e direto apenas nas ações.
É uma boa ideia avaliar se a sua história não está mirabolante e complexa demais para o tipo de mídia em que você está trabalhando. Um ebook pode ser longo e profundo. Um filme, por sua vez, tem um limite de poucas horas. Um episódio de série precisa ser concluído de maneira satisfatória em um tempo aproximado de 20 a 60 minutos.
Pense bem. Em qual tipo de mídia a sua história se encaixa melhor? Quanto tempo você terá disponível para contar essa história? E quais elementos são realmente saudáveis para o enredo?
Um exemplo um pouco mirabolante:
Imagine um enredo sobre uma jovem freira que está lutando pela própria virtude e paz em um mundo medieval, quando acontece uma infestação demoníaca. E então, ela descobre que o grande responsável era o Papa. E a infestação se transforma em um apocalipse zumbi. E a freira se torna uma vampira para poder sobreviver à infestação. E ela descobre que tinha uma irmã gêmea perdida…
Bem, a história já estava interessante o suficiente com o vilão sendo o Papa, mas misturar demônios com zumbis e vampiros e irmãs gêmeas perdidas foi um pouco demais.
Em outras palavras, pode ser que o seu enredo já seja interessante o suficiente com 1 a 3 temas principais.
No final das contas, o que realmente tornará o seu roteiro complexo e envolvente serão os diálogos, a estrutura das cenas, a construção dos personagens e todas as camadas de subtexto que você pode introduzir nas entrelinhas, sem sufocar os seus espectadores.
E, é claro, um conceito marcante, que prende o leitor do roteiro em 2 a 3 linhas.
Esse é um caminho para escrever um roteiro inovador.
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Prezados Senhores,
Apenas como rob, gosto de escrever poesias e contos, além de me aprofundar também em hitórios como relatos de tudo que sinto e percebo nesse universo, por isso a minha intenção não é a de se mudar em nada do que já escrevi, e editar na realidade tudo que já deixei expressso sem nada quere mudar.
Se for possivel dentro deste meu objetivo a ser alcançado, estarei disposto a dialogar a respeito, caso contrario declino de imediato porque nesse ponto sou de fato radical, e não conseguiria ser autêntico como sempre fui com tudo e com todos ok?
Aguardo vossos comentários, e outra coisa, só pretendo pagar pelo trabalho da própria edição, para depois eu estudar ainda se vou ou não divulgar na mídia.
Um abraço,
Alvaro Lopes
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Muito boas dicas!
Sem dúvida é um ramo que muito me agrada e interessa.
Abraço!