A não ficção é uma categoria que está em alta na venda de ebooks. Só entre os meses de março a maio de 2020, houve um aumento de 154% no consumo de ebooks de não ficção.
Entre os gêneros mais vendidos, a autoajuda ainda marca sua presença, mas com menos impacto do que antes (9 dos 15 livros mais vendidos de 2020 foram do gênero, enquanto em 2019 foram 13). Há também livros sobre política, racismo e economia, além de quatro autoras mulheres deixando sua marca.
O que podemos tirar de tudo isso? É um bom momento para se publicar livro de não-ficção, especialmente em ebook.
Se você acompanha o blog da Bibliomundi, deve ter lido o nosso recente artigo sobre Jornalismo narrativo. Quem está aqui há mais tempo talvez tenha lido também o artigo Como escrever não ficção.
Sim, a não ficção não é nenhum tema novo para nós. Contudo, nos artigos anteriores falamos muito sobre o que acontece nos bastidores da não ficção. A necessidade de pesquisa, a escolha do tema, os ajustes no material.
Hoje, queremos não apenas ensinar você a técnica por trás da produção de um livro de não ficção.
Hoje queremos falar sobre estilo.
Vamos dar as dicas que você precisa para escrever um livro de não ficção impactante.
Quando pensamos em escrever não ficção, é muito comum que o nosso cérebro regrida para os dias de escola, faculdade, quem sabe até a relatórios que preenchemos no trabalho.
O conceito da não ficção que vive nas nossas cabeças pode ser um tanto seco, sem cores, sem brilho. Só o fato nu e cru, a vida dura.
Também não precisa ser assim.
Para escrever um livro de não ficção, você não precisa seguir as regras de uma dissertação acadêmica com normas da ABNT. Também não precisa seguir a dedo o modelo jornalístico.
Tudo que define que não ficção é não ficção é o fato de você falar sobre um assunto do mundo em que habitamos, não uma história imaginada. Você pode ter uma abordagem mais subjetiva, compartilhando sua opinião ou crenças pessoais, ou mais objetiva, ensinando algo ou falando sobre eventos que ocorreram. Às vezes, é possível mencionar o objetivo e o subjetivo.
A não ficção é uma categoria ampla, que pode ser lida pelos mais diversos nichos e engloba diversos subgêneros. Há uma infinidade de assuntos sobre os quais você pode escrever, como já abordamos no artigo Como escrever não ficção.
Dando um toque pessoal à não ficção
O que pode tornar um livro de não ficção interessante é justamente o toque pessoal do autor. Não importa sobre qual tema você escreva, o que diferencia o seu texto de um artigo qualquer da Wikipédia é a sua personalidade, seu estilo de escrita, suas opiniões.
Vamos começar por aqui. Queremos que você pergunte a si mesmo: por que você quer escrever esse livro? Qual é o objetivo desse livro?
Você pode querer informar um leitor sobre um problema da sociedade, pode querer auxiliar o leitor a lidar com um problema, pode querer contar uma história pessoal ou até mesmo montar um manual, etc.
Ao encontrar o objetivo do seu livro, você terá muito mais clareza na hora de escrever pois saberá para qual direção deve seguir.
A depender do assunto que você escolheu abordar, é possível também que o seu livro carregue em si uma tese. Isto é, uma opinião que você defende ao longo do texto. Um exemplo simples: a tese do seu livro pode ser “alimentação saudável é fundamental para a saúde”.
Saber qual a tese do seu livro, qual opinião você defende, permitirá que você se afaste de uma linguagem imparcial e sem identidade. Lembre-se que você está comunicando a sua voz. É a sua voz que tornará o seu livro de não ficção impactante.
Divirta-se com a estrutura do texto
Vamos repetir mais uma vez: você não está escrevendo uma dissertação acadêmica seguindo as normas da ABNT. Esse é o seu livro. Ele carrega a sua voz. Você é um autor independente e tem a liberdade criativa para publicar ebook no estilo que quiser!
Portanto, divirta-se e aventure-se com diferentes estruturas textuais. Você pode se beneficiar de certos elementos da narrativa para tornar o seu texto mais fluido, com cenas narradas, trazendo exemplos e metáforas para ilustrar seu ponto, brincando com a linguagem literária.
Se você está contando uma história real, nada exige que essa história seja narrada em ordem cronológica ou até mesmo linear. Desde que você escreva a história de forma que faça sentido ao leitor, está tudo bem.
Você pode misturar gêneros um pouco, citando poemas no começo de cada capítulo, pode organizar o livro em temas, pode fazer o que der na telha.
E principalmente, pode se sentir livre para inserir o “eu” na frase, sem ficar preso à terceira pessoal, tão impessoal.
Encontrando uma voz que seu leitor entenda
A essa altura você já deve ter entendido que pode e quem sabe até deve usar a própria voz ao escrever seu livro de não ficção. Contudo, é preciso tomar uma precaução: sua voz deve falar a mesma língua que o leitor.
Todo texto tem um determinado grau de informatividade. Se você quer informar um leitor sobre um assunto, você precisa saber quanta informação o seu leitor já tem sobre esse assunto. Digamos que seja como separar os livros didáticos por ano escolar. O livro do quinto ano não precisa repetir o que o do primeiro ano já disse.
Como se avalia isso? Bem, a intenção do autor conta bastante. Se você quiser falar sobre física quântica com leigos, você já sabe qual o seu público-alvo e, a partir daí, deve aprender a adaptar sua linguagem para o nível deles.
Uma pesquisa de mercado também pode ajudar. Pesquisando livros semelhantes ao que você quer escrever, você pode entender melhor qual o nível de informação do seu público-alvo e qual o linguajar que esse público entende.
Isso não vale apenas para nichos muito específicos. Você deve considerar também a faixa-etária que espera que seus leitores tenham e como isso afeta as referências de cultura pop que eles compreendem, as experiências de vida que tiveram, o jeito que falam.
Se você é um nerd de vinte cinco a trinta e cinco anos escrevendo para outros nerds da mesma faixa-etária, pode esperar que eles acompanhem suas referências. Mas, se o seu livro for para adolescentes ou para senhoras de meia idade, pode ser que dificulte um pouco. Nessas horas, é bom pegar mais leve.
Cuidado também para não tentar forçar referências que não são suas. O que estamos falando aqui é sobre como você pode adaptar a sua voz para que seja compreendida pelos seus leitores, e não para você jogar sua autenticidade pela janela.
Não há nada mais esquisito do que ouvir alguém tentando forçar uma gíria que não faz parte de seu vocabulário. Não vá por aí.
Use a linguagem que te deixe confortável. Se você acha que o tema pede certa seriedade, tudo bem. Se você quer deixar umas piadas, tudo bem. Mas seja você mesmo. Escreva de forma confortável, autêntica.
Faça do seu livro uma porta para a sua mente.
E é assim que você será capaz de publicar livro de não ficção impactante!