Expressar a própria opinião por meio de um texto tem sido algo cada vez mais comum no meio da autopublicação de ebooks. Cada autor carrega em si uma visão de mundo particular, com suas próprias nuances e observamos que também existem leitores interessados nessas perspectivas.
Cada vez mais há espaço para opiniões alternativas. Inclusive, muitas pessoas optam por se informar utilizando meios de comunicação independentes em vez da grande mídia. Nós, da Bibliomundi, acreditamos que a literatura é de todos para todos. Portanto, é óbvio que encorajamos nossos autores independentes a expressarem suas próprias visões sobre os mais diversos temas.
Hoje, vamos dar algumas dicas de como expressar sua opinião em um texto. Mais especificamente, em um ensaio de opinião, o gênero textual mais expressivo para ebooks opinativos.
Por natureza, o ensaio é um texto opinativo, que expõe uma visão pessoal acerca de um determinado tema. O autor elabora o tema com suas ideias, críticas, impressões, reflexões e, em geral, traz alguma “tese”, uma conclusão à qual chegou em relação ao tema.
O ensaio enquanto gênero literário (não confundir com o ensaio acadêmico) não necessita de uma base científica, visto que representa uma opinião pessoal e subjetiva. De qualquer forma, o texto deve ter algum embasamento lógico, apresentando ao leitor um fluxo de pensamento que justifique a conclusão alcançada pelo autor. Pode-se dizer que o ensaio literário é um convite para refletir junto ao autor.
A autora Virginia Woolf, no seu ensaio Um Teto Todo Seu, começa com as seguintes palavras:
Mas, vocês podem dizer, nós pedimos para você falar sobre mulheres e ficção – o que isso tem a ver com um teto todo seu? Vou tentar explicar.
Com essas palavras simples e casuais, já conseguimos ver algumas características do ensaio de opinião enquanto gênero. Existe a presença da primeira pessoa, o autor se coloca no texto. A linguagem não é formal. Neste exemplo, lembra até mesmo uma conversa. O tema já é apresentado desde um início: “mulheres e ficção”. E, por fim, a autora convida o leitor a seguir nesta jornada argumentativa: “Vou tentar explicar.”
Dicas para escrever ensaio de opinião
Sem mais delongas, vamos apresentar algumas dicas práticas para escrever ensaio de opinião com qualidade.
1. Fale sobre um tema relevante (enquanto ainda é relevante)
Nada pior do que um ensaio de opinião sobre um assunto que ninguém tem interesse em ler. E, entenda, as pessoas podem perder interesse por um assunto. O timing é sempre um fator importante na hora de publicar livro.
Enquanto alguns gêneros parecem atemporais, como a fantasia, o ensaio de opinião muitas vezes depende dos assuntos que estão em voga no momento. Quando as pessoas param de falar sobre o tema, o livro também perde sua relevância.
É óbvio que determinados ensaios podem sobreviver a passagem do tempo. Contudo, isso só ocorre quando o tema tem uma relevância duradoura. Um ensaio de opinião sobre o Big Brother Brasil 2020, por exemplo, provavelmente só teria relevância no começo de 2020.
Não somente você deve se questionar se o tema tem relevância no presente, como também se você é capaz de escrever e publicar ebook com uma opinião completa sobre o tema em tempo hábil. Às vezes, até você terminar de escrever o livro, o tema já deixou de ser relevante. Todos esses fatores devem ser levados em consideração.
2. Mostre a sua conexão com o tema
Quanto mais conectado você for ao tema, quanto mais autoridade tiver no assunto, melhor. Mesmo que você não seja Phd no tema escolhido, afinal, está escrevendo um ensaio literário e não científico, é de bom tom mostrar porque o assunto é relevante para você e de onde veio a base para você opinar sobre ele.
Seguindo o exemplo do BBB 2020, se você realmente escrevesse um ensaio sobre o tema, seria interessante contar sobre o seu histórico em relação ao programa. Seja ele “eu assisto desde a primeira edição” ou “eu nunca tinha assistido, mas vi muitas pessoas comentando no Twitter e resolvi dar uma chance. Então, observei que…”.
Ao estabelecer essa conexão com o tema, o leitor entenderá melhor de onde veio a sua opinião. Mostrar ao leitor todo o processo lógico que o levou a formar sua opinião torna seu ensaio mais convincente e envolvente.
3. Pense no seu público-alvo
Para quem você está escrevendo? Qual o posicionamento do seu leitor ideal? Considerando que o ensaio de opinião é um texto argumentativo expositivo, é interessante que você não só exponha sua opinião, mas também convença o leitor de que essa opinião está certa ou ao menos faz sentido.
Para melhor convencer alguém, é bom saber qual a opinião dessa pessoa, não é mesmo? Então, pense. Você vai escrever um texto sobre o BBB 2020. Esse texto é favorável ou crítico ao programa? E você deseja direcionar esse texto para as pessoas que apoiam o programa ou para as pessoas que o detestam?
É completamente possível escrever um ensaio tentando convencer as pessoas a pararem de apoiar algo que apoiam ou, contrariamente, deixarem de apoiar algo que já apoiam. É possível também escrever um ensaio apresentando um conceito inteiramente novo para pessoas que não haviam pensado no assunto antes.
De qualquer forma, leve em consideração quem é o seu público e use a imagem do seu “leitor ideal” como ponto de partida para estabelecer uma conexão. O grau de informatividade do seu texto (isto é, o quão específico é o vocabulário utilizado) também deve ser condizente.
Se você quiser escrever para pessoas que assistem reality shows com frequência e utilizar conceitos filosóficos complexos em seu texto, leve em consideração que nem todo espectador de reality show é obrigado a cursar faculdade de filosofia. Portanto, neste caso, deve explicar os conceitos de forma fácil de entender e não só jogá-los no texto.
Virginia Woolf e o ensaio de opinião
Para compreender o ensaio de opinião, nada melhor do que aprender na prática com grandes autores que escreveram ensaios atemporais. Ainda em Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf fala sobre o próprio processo de escrever seu ensaio e, dessa forma metalinguística, define o gênero:
Nunca conseguiria (…) dar a vocês, após um discurso de uma hora, uma pepita de preciosa verdade para ser embrulhada nas páginas de um caderno e mantida em permanente exibição. Tudo o que eu poderia fazer seria dar-lhes a minha opinião sob um ponto de vista mais singelo: uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção; e isso, como vocês verão, deixa sem solução o grande problema da verdadeira natureza da mulher e da verdadeira natureza da ficção. (…) Mas, em compensação, vou fazer o possível para mostrar como formei essa opinião acerca do espaço próprio e do dinheiro. Vou revelar a vocês o mais completa e livremente que puder a linha de raciocínio que me levou a isso. Talvez se eu revelar as ideias, os preconceitos que se escondem atrás desse argumento, vocês vejam alguma relação com mulheres e ficção. De qualquer forma, quando o assunto é controverso (…) não pode se esperar a verdade. Só se pode mostrar como se chegou a ter a opinião que se tem. Só se pode dar ao público a oportunidade de tirar as próprias conclusões ao observar as limitações, os preconceitos, as idiossincrasias do palestrante.
– Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf. Tradução de Bia Nunes de Sousa
Virginia Woolf é, obviamente, uma mulher que escreve ficção. Ela tem autoridade no assunto. Contudo, o que expressa no seu ensaio é, acima de tudo, uma visão pessoal. O ensaio de opinião não traz verdades absolutas.
O melhor que pode ser feito é mostrar ao leitor o passo a passo que levou o autor a chegar a essa conclusão. É esperar que, ao atravessar o processo lógico de uma argumentação, o leitor chegue a uma conclusão própria. De preferência, uma visão que se alinha à do escritor.
E aí, autor? Já escreveu sua opinião hoje?