Toda boa história tem um tema. É praticamente impossível escrever uma narrativa sem que ela encontre seu tema central, o “assunto” sobre o qual dialoga. Seja ou não uma escolha intencional do autor, o tema é necessário para publicar livro que conquiste os leitores.
Se você já publicou livros antes e nunca pensou sobre um tema para eles, pode ser que essa afirmação o pegue de surpresa. “Como assim um tema é necessário se até hoje eu nunca precisei?”. O que ocorre é que, às vezes, um tema surge sem ao menos ser convidado.
O tema de uma narrativa nada mais é do que o seu tópico central. Em Orgulho e Preconceito, os temas centrais são o amor e o preconceito de classes. Em O Senhor dos Anéis, temos a coragem e a luta do bem contra o mal. São os elementos centrais da narrativa, o assunto do seu livro. E, bem, espera-se que todo livro fale sobre alguma coisa.
Se basicamente todo livro encontra seu tema, mesmo sem que o autor pense muito a respeito, por que definir um tema seria importante antes de publicar ebook?
Bem, imagine a seguinte situação: você está escrevendo um livro para autopublicação. Você já pensou mais ou menos sobre o que acontece no enredo, quem é a protagonista. Em outras palavras, o que você tem em mãos é uma sequência de eventos.
Aí, alguém pergunta a você sobre o que é seu livro. Em seguida, pergunta por que ele merece ser lido. Como você responderia essas perguntas?
Muito mais do que a sequência de ações que montam o seu enredo, é o tema que dá sentido ao seu livro. É o tema que atrai a atenção dos leitores. É o tema que faz com que o seu livro tenha relevância para o mundo.
Nós, seres vivos, vivemos uma sequência de ações todos os dias das nossas vidas. Todos os dias, fazemos algo. Mas a existência da ação não torna nossas vidas automaticamente interessantes, muito menos a nível de narrativa. Quando contamos uma história para alguém, o tema é o primeiro passo para haver interesse e conexão.
Se o nosso ouvinte se interessar por histórias de amor, ele se interessará por uma história com o tema amor. Se esse ouvinte se interessa em discutir discriminação e problemas sociais, ele poderá se interesser por uma história que tem a discriminação como tema.
Contudo, o tema sozinho não é suficiente para uma boa narrativa. Devemos pensar além: a tese.
A importância da tese para uma boa narrativa
Se o tema pode ser considerado como o “assunto” de um livro, pura e simplesmente, então a tese seria a mensagem que esse livro passa. Em outras palavras, quando você define o tema do seu livro, você sabe qual assunto deseja abordar. A tese seria a sua opinião sobre esse assunto, conforme expressada na narrativa.
Em gêneros literários mais arcaicos, como as fábulas, essa tese era expressada de forma bastante direta como uma “lição de moral”. No entanto, o conceito de “lição de moral” é um pouco mais restritivo, pois considera que há algo que precisa ser corrigido e ensinado. A literatura teria, então, um papel educativo.
Hoje em dia, a tese de um livro não precisa ter um caráter tão didático, muito menos normativo. Ela expressa apenas uma visão possível acerca do tema. O autor não necessariamente apresenta essa tese como uma verdade absoluta. Pode ser a sua visão de mundo em relação ao contexto específico da obra. Pode ser uma sugestão. Pode ser um convite para a reflexão, uma pergunta em aberto.
Ademais, é comum que o leitor precise se esforçar um pouco para encontrar essa tese, usando da boa e velha interpretação de texto. Ela não precisa estar escrita em letras garrafais na primeira ou última página do livro, embora ninguém possa impedir que você assim escreva, caso conveniente.
A tese de uma narrativa pode ser expressada através das palavras do narrador (para saber mais, confira o artigo Uma história, múltiplos narradores) ou no diálogo entre personagens. Pode ser lançada em pequenas pistas ao longo do livro. Pode também ser deixada completamente para a interpretação do leitor, que chegará às próprias conclusões após ler toda a narrativa.
A intenção do autor cumpre um grande papel aqui. Todas as opções mencionadas acima são válidas, desde que se adequem às necessidades da sua narrativa. O gênero literário e o público-alvo, por exemplo, devem ser considerados. Se você escreve para crianças, pode ser necessário explicar sua tese de forma mais simples e direta.
Como definir os temas e a tese do meu livro?
Definir os temas e a tese do seu livro não é nenhum bicho de sete cabeças. Antes de mais nada, saiba que o seu livro pode, sim, ter mais de um tema, mas não exagere. É importante que o seu leitor ainda consiga entender do que o seu livro se trata.
Se você pensou em um milhão de temas diferentes para um único livro, sugerimos que você respire um pouco e volte quinze casas. Agora, selecione quais são os temas centrais para a sua narrativa, aqueles que se conectam diretamente com o enredo principal. Elimine os outros ou guarde para usá-los depois.
Em geral, temas que aparecem apenas brevemente em seu livro, às vezes conectados a personagens secundários, não devem ser considerados temas centrais. Você não precisa desenvolver temas secundários com o mesmo cuidado com o qual desenvolveria os temas centrais, contudo, isso não é motivo para abordá-los de qualquer jeito. Não tenha medo de eliminar aquilo que é desnecessário ou que não cabe no seu escopo no momento.
Ao escolher os temas centrais da sua narrativa, é importante pensar em como eles se correlacionam. Alguns gêneros literários praticamente já vêm com temas embutidos. Por exemplo, não é possível escrever uma história de amor sem ter “amor” como um tema. O próximo passo é pensar em mais um tema que se relacione bem com essa temática. Por exemplo, “amor” e “superação de dificuldades”; “amor” e “discriminação”; “amor” e “egoísmo”.
Nesse sentido, você pode seguir um caminho padrão, que usa os temas clássicos do gênero escolhido, ou pode pensar fora da caixinha, trazendo temas complexos e inesperados.
A tese do seu livro surge quando você combina os temas e os aplica a um contexto. O desenrolar dos eventos narrativos por si só carrega uma certa “visão” a respeito dos temas.
Em uma história sobre amor e egoísmo, por exemplo, os resultados podem ser muito diferentes:
- TESE A. “Amor supera o egoísmo” – Enredo: as personagens, a princípio egoístas, encontram o amor e aprendem a deixar o egoísmo de lado para terem uma relação saudável
- TESE B. “Amor é egoísmo” – Enredo: as personagens se apaixonam e passam a priorizar a pessoa amada acima de todos os outros, por vezes tomando decisões que prejudicam outras pessoas, a fim de preservar quem amam
A forma em que um ou mais temas se apresentam em uma história, juntamente ao desenrolar do enredo, carregam a opinião que o autor desejou expressar naquela narrativa específica.
E aí, autor? Já entendeu a importância do tema e da tese do seu livro? Para saber mais sobre como expressar sua visão em uma narrativa, leia o artigo O papel da alegoria na ficção.