Como criar suspense em uma história

Ah, o suspense. O medo, a curiosidade pelo que virá a seguir. A insegurança, a incerteza. O desconhecido está na próxima página e você mal pode esperar. Um elemento chave para para manter os leitores envolvidos na leitura, se engana quem pensa que apenas um livro de suspense precisa de suspense em sua narrativa.

Mas como criar suspense em uma história? Como deixar o leitor tenso, imerso no enredo, desesperado de medo e curiosidade pelo que acontecerá no próximo capítulo?

O primeiro passo é entender o que é o suspense e o que ele causa no leitor. Se você quer publicar livro que prende o leitor do começo ao fim, as nossas dicas de autopublicação de hoje são feitas para você.

O suspense é um processo emocional

Como disse o grande mestre do suspense, Alfred Hitchcock, é preciso entender o que é o suspense e como ele em nada tem a ver com o mistério:

Há grande confusão, especialmente na minha área de atuação, entre as palavras mistério e suspense. São duas coisas absolutamente diferentes. O mistério é um processo intelectual no qual se adivinha “quem fez isso?”, mas o suspense é essencialmente um processo emocional.  (Tradução nossa)

Se buscarmos a definição da palavra “suspense” no dicionário, o que encontramos é:

SUSPENSE

substantivo masculino

  1. CINEMA•LITERATURA

no enredo ou composição de um filme, telenovela, narrativa, peça etc., artifício que consiste em retardar ou parar momentaneamente a ação num momento crucial, a fim de criar no espectador, ouvinte ou leitor uma expectativa ansiosa e angustiante dos acontecimentos que virão a seguir.

Ex.: “filme de s.”

  1. POR EXTENSÃO

qualquer situação em que há um acontecimento, cuja explicação, continuação ou desfecho são aguardados com grande impaciência e inquietude.

Ex.: “seu ar misterioso manteve todos em s. até a noite”

Origem

⊙ ETIM ing. suspense ‘estado do que está suspenso ou duvidoso; incerteza, hesitação; ansiedade’

O suspense nada mais é do que essa “suspensão” na narrativa, na qual o leitor fica na expectativa por um desfecho. Para criar o suspense, você deve desenvolver no leitor essa sensação de “expectativa ansiosa e angustiante” pelos acontecimentos que virão a seguir. É como o presságio de que algo acontecerá.

E é por esse motivo que Hitchcock afirma que “você só consegue criar o elemento de suspense ao dar informações para o público”. Seu leitor sabe que algo ruim acontecerá. Ele não sabe quando. Nem como. O que lhe resta é sentir medo, expectativa, ansiedade, sem poder fazer nada a respeito a não ser continuar lendo.

O que não é suspense?

Se o suspense é essa expectativa angustiante pelo que acontecerá a seguir, é óbvio que apresentar um mistério não é suficiente para criar suspense em uma narrativa.

Quando pensamos em mistério, pensamos em algo secreto ou incompreensível, uma informação que o leitor ainda não tem. Por exemplo, é comum que um livro de mistério comece com um assassinato e o enredo gire em torno de descobrir quem é o assassino. Não existe suspense aí. Ao menos não até que o autor crie o suspense.

Tentar descobrir quem é o assassino é um “processo intelectual”. Envolve o leitor buscar pistas na narrativa para solucionar o mistério. O suspense viria do medo de que algo acontecesse com o protagonista antes de que esse mistério pudesse ser selecionado.

Em outras palavras, o mistério seria o “quem cometeu o assassinato?”. O suspense é “quem será assassinado?” ou “quando acontecerá outro assassinato?”.

A violência em si também não cria suspense. Pelo contrário, o excesso de violência tende a dessensibilizar o leitor. O que leva ao suspense não é a violência gráfica sendo descrita, mas o medo de uma violência que pode acontecer a qualquer momento.

Logo, para se criar o suspense você deve dar ao leitor pequenas informações: algo terrível acontecerá em breve… e então preencher a narrativa com lacunas, fazendo com que o leitor espere esse acontecimento horrível sem saber quando ele virá.

Essas pequenas informações são como “promessas”, responsáveis por criar expectativa no leitor. Quando você remove as “promessas” da fórmula, o resultado não é suspense, é surpresa.

Quando o leitor simplesmente não sabe o que esperar, ele pode não esperar nada. E quando ele não espera nada e algo acontece, esse acontecimento o pega desprevenido, o surpreende.

Entenda, a surpresa não é uma reação ruim. Ela só não é equivalente ao suspense. O leitor que é pego desprevenido não estava sofrendo de “expectativa angustiante”. Ele baixou a guarda. É o oposto do suspense.

Portanto, você deve tomar muito cuidado com a medida em que informa ou deixa de informar o leitor. Jamais se esqueça de que as promessas são essenciais ao suspense. Elas são como a isca que atrai a vítima para uma armadilha.

Muito bem. Agora você já sabe o que é e o que não é suspense. Vamos às dicas de como criar suspense em uma história.

1.     Não revele demais, deixe espaço para dúvidas

Para criar suspense, você deve ser comedido. Deixe pistas para o leitor, mas sempre com moderação. Se você revelar tudo de uma vez só, nada instigará a curiosidade do leitor.

Por exemplo, quando se trata do grande vilão da história, é interessante você revelar ao leitor apenas uma parte de quem ele é. Uma sombra, uma silhueta, um traço da sua personalidade, do seu modus operandi. Faça o leitor ter dúvidas sobre quem ou o que o vilão é. Deixe-o no escuro. Confuso. Com medo.

Mostre apenas um pouquinho de cada vez, criando uma trilha de pistas até o grande clímax da história.

2.     Não subestime as cenas cotidianas

Não há nada mais assustador do que sair da sua zona de conforto. Algumas das histórias de terror e suspense mais assustadoras são aquelas que se passam em um ambiente comum, uma casa de família, mas onde algo terrível pode acontecer.

Para um leitor, a conexão com a personagem muitas vezes é estabelecida pelos elementos mais simples, aqueles que também existem no dia-a-dia do leitor. Mesmo que sua personagem viva aventuras mirabolantes, são as características pequenas e comuns que atuam como ponte entre ela e o leitor.

Por isso, nunca subestime as cenas cotidianas, que se passam na casa ou no trabalho da personagem, quando ela está realizando tarefas mundanas. Não se esqueça de como uma das cenas mais marcantes de toda a carreira de Hitchcock se passou em um banheiro, enquanto a personagem tomava banho.

3.     Prometa um dia normal… e espere tudo dar errado

Às vezes as promessas podem funcionar ao contrário. Enquanto alguns livros de suspense podem jogar na cara do leitor um belo “e mal sabia ela que a morte a esperava”, o que é uma técnica muito válida, outros seguem um caminho diferente.

Deixe a personagem contar seus planos ao leitor. Mostre como sua vida é pacata, sem muitos altos e baixos. Faça-a sonhar com o fim de semana, ou falar ao telefone que tem um compromisso às 18h. Quando um livro se dá ao trabalho de mencionar eventos tão simples, um alerta é ligado na cabeça do leitor: algo dará errado aqui.

Aqui, o essencial é sempre que você atentar o leitor para um fato, você fazer valer. Não deixe pontas soltas na sua narrativa. Corte tudo o que for desnecessário, deixe apenas as informações fundamentais para a narrativa.

Não gaste seu tempo (e nem o tempo do leitor) descrevendo os planos para o fim de semana da sua protagonista se eles não forem relevantes para o enredo mais tarde. Seja porque esses planos darão completamente errado ou porque serão o gatilho para uma série de eventos centrais na narrativa.

Em resumo, o suspense tem tudo a ver com a maneira que você escreve. Não é só sobre o enredo, mas sobre a narrativa e as emoções que ela provoca no leitor. Existem infinitas formas de ativar esse gatilho emocional, explore-as.

E você, autor? Quais técnicas você usa para criar suspense em uma história ao publicar ebook?

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