Toy Story é uma das franquias de animação mais amadas de todos os tempos. Nós crescemos assistindo Toy Story e, em seu quarto filme, a franquia já abraçou mais de uma geração. Agora, as crianças de ontem estão levando seus filhos, sobrinhos e afilhados para o cinema. Mas qual o segredo para tanto sucesso, ao longo de tantos anos?
Toy Story é mais do que um filme divertido e emocionante para toda a família. É uma série inteira de filmes que a cada novo lançamento nos deixa ainda mais apaixonados ao mostrar personagens com desenvolvimento consistente e trazer temas que se conectam aos aspectos mais fundamentais da nossa criança interior.
Talvez Toy Story não fosse tão importante para a cultura pop se tivesse parado no primeiro filme. E, se Toy Story fosse igual à maioria das histórias, a continuação seria um fracasso.
O que acontece é que a Pixar encontrou o equilíbrio ideal entre respeitar a obra que originou tudo, desde seus temas até a fórmula narrativa, e ao mesmo tempo compreender que o tempo não pára, e que essas personagens precisam crescer. O mais importante: a Pixar fez com que as personagens crescessem ao mesmo tempo que o espectador.
Quem nunca chorou assistindo os filmes de Toy Story? Aqui na Bibliomundi é só lágrimas. Como nosso trabalho é oferecer dicas de autopublicação para autores independentes, nós convidamos você a se perguntar: “por que eu chorei vendo esse filme?”. As respostas para essa pergunta são, obviamente, pessoais. Contudo, há um certo padrão. Em geral, todos nos emocionamos com as mesmas cenas.
Toy Story lida com as relações entre a criança interior e o mundo. O crescimento é inevitável e isso leva a conflitos. Mesmo no primeiro filme, quando Andy era uma criança, ainda havia um sentimento iminente de mudança. A cada aniversário, conforme ele crescia mais um pouco, seus gostos poderiam mudar e um brinquedo poderia ser substituído.
Ao passe que esse crescimento leva a mudanças e, consequentemente, ao sentimento de abandono, há também uma parte que resiste. É a criança interior. No nosso mundo mágico, projetamos essa criança em nossos brinquedos, que querem se divertir e ser amados para sempre. Os brinquedos e brincadeiras que nos acompanhavam nos momentos mais leves e também os mais difíceis da infância.
Crescer não é fácil. Envolve abandonar fantasias e aceitar responsabilidades. Esse crescimento também é demonstrado metaforicamente na personagem Buzz Lightyear que, logo no primeiro filme, vive a sua maior desilusão ao enfrentar sua verdadeira natureza: a de um brinquedo. Essa é, sem dúvidas, uma das cenas mais pesadas da franquia.
A superação de Buzz vem ao entender que, embora estivesse iludido, ele ainda tinha suas potencialidades e uma razão para viver. Ele tinha amigos, aventuras e até mesmo um pouco dessa fantasia em mãos. Ele podia não ser um patrulheiro espacial, mas com a fé e o esforço necessários, poderia voar.
Os temas de Toy Story evoluem. No segundo filme, encontramos mais desilusão: brinquedos que foram abandonados por suas crianças quando elas cresceram. Brinquedos magoados, que queriam convencer Woody a abandonar suas crenças para viverem juntos a desilusão. Aprendemos o valor da vulnerabilidade: se permitir novamente para ser feliz de novo, ainda que com o risco de se magoar.
No entanto, é possível dizer que os temas de Toy Story 2 já nos avisavam sobre o que aconteceria em Toy Story 3. Andy, como qualquer outra criança, iria crescer um dia. E foi o que aconteceu.
Onze anos após o lançamento de Toy Story 2, sai o terceiro filme da série. Andy está indo para a faculdade. Ele não é mais uma criança, nem os espectadores que acompanharam a franquia desde o começo. Crescemos com o Andy, e entendemos o ponto onde ele está em sua vida.
No que parecia um círculo perfeito, Andy e seus brinquedos compreendem que o tempo passou e que é hora de outra criança se divertir. Com uma última brincadeira, Andy se despede de seus companheiros de infância e os doa para Bonnie. Na hora de entregar Woody, ele hesita. E a criança interior de todos nós sente. Choramos com saudade da nossa infância, mas felizes.
É o ciclo da vida. Abraçamos as boas memórias e praticamos o desapego com aquilo que já não é mais tão necessário para nós quanto para outras pessoas. Com esse simples gesto, podemos fazer alguém mais feliz.
O que era possível fazer depois de um final tão perfeito? Em Toy Story 4, nós acompanhamos a jornada de Woody após o Andy, e aprendemos uma nova lição sobre desapego. Dessa vez, se trata do nosso apego a relações que já acabaram. O filme, divertido para crianças, aborda camadas filosóficas que só podem ser compreendidas por nós, os adultos.
Conhecemos Garfinho, o brinquedo recém-criado, feito de material escolar e lixo. Enfrentamos juntos a sua crise existencial e relembramos a sensação de ser uma criança que não entende o mundo ainda. E acompanhamos a crise identitária de Woody, que ainda está tentando descobrir qual o seu lugar no mundo agora que não é mais o brinquedo de Andy. A direção que esse enredo toma, deixaremos para você descobrir.
Para nós, escritores, o que mais importa é a lição que aprendemos nessa jornada emocionante, e como isso pode nos ajudar a publicar livro infantil. Toy Story faz tanto sucesso com as crianças e com os adultos porque apresenta diferentes camadas de significado, se comunicando diretamente com cada faixa-etária.
Temos um enredo simples e cativante, cheio de piadas divertidas e designs cativantes para todos. Temos um mundo mágico e intrigante, com elementos presentes na vida de quase toda criança (inclusive a criança interior). Temos questões filosóficas presentes na vida de todo mundo que já cresceu um dia.
Todos brincamos quando criança. Escapamos da realidade com a nossa imaginação. E crescemos, mas temos medo de crescer. Tentamos abandonar nossa infância para mostrar que “crescemos de verdade”, mas ela ainda faz parte de nós. Não podemos viver no passado, mas também temos medo de nos desapegar. E através de tudo isso, existem elos inquebráveis: a amizade, a lealdade, que permitem a coexistência harmoniosa entre os extremos de cada dilema.
Ironicamente, essa história sobre brinquedos faz tanto sucesso porque nos mostra o que é ser fundamentalmente humano.
E aí, autor? Já foi no cinema assistir Toy Story 4? Conte aqui o que achou!