O nome já diz tudo: se você quer publicar livro de mistério, deve conduzir a narrativa de forma que nada seja óbvio demais para o leitor. As aparências enganam e, nesse caso, quem deve enganar mais do que ninguém é o vilão. A personagem que se encoberta na história.
Para publicar ebook de mistério seja cativante, em geral se espera que o vilão seja uma personagem que o leitor conhece. Não basta conduzir toda uma investigação criminal e de repente se revelar que o culpado era alguém que nem havia dado as caras (literal ou figurativamente).
Dessa forma, não resta alternativa. Você precisa introduzir o vilão à história, mas de modo que a sua “contribuição” para o enredo não seja óbvia ao leitor logo de cara. Esse é o jogo do mistério, no qual você deixa pistas e despistes para o leitor.
Nas dicas de autopublicação de hoje, vamos ensinar você a tornar seu vilão invisível aos olhos do leitor.
Construindo um vilão imperceptível
O seu vilão pode fazer e acontecer, mas aos olhos do público (dentro e fora da história) ele deve ser imperceptível. Suas ações são cuidadosamente articuladas e disfarçadas. Seus álibis perfeitos. Sua persona não condiz com a de um malfeitor.
Existem diversas formas de se construir uma personagem assim. Alguns dos perfis mais comuns são:
- O benfeitor – esse vilão disfarça seus crimes com uma faceta de bom samaritano. Todos acreditam que ele é um santo e, por isso, não poderia cometer um crime;
- O bobo da corte – esse vilão, por sua vez, disfarça seus atos com uma performance de incompetência, que faz com que ninguém acredite no seu potencial para o mal;
- O figurante – esse vilão se disfarça no modo mais clássico possível: não chamando atenção. É isso, ele não é uma pessoa que se destaca em nada, não participa ativamente das situações e parece virtualmente invisível. É fácil não suspeitar de quem você nem lembra que existe;
- O óbvio demais para ser verdade – esse vilão abusa da psicologia reversa. Ele tem cara de quem cometeria o crime. Ele pode até mesmo ter motivos para cometê-lo. Mas seria tão óbvio se ele fosse o vilão que você começa a duvidar de si mesmo. E começam então a surgir pistas que apontam para uma direção oposta, a suspeita de outro vilão que não ele, a opção “óbvia demais”.
É claro, essas figuras podem todas ser mescladas e, caso nenhuma sirva ao seu propósito, você pode ir além. O interessante é conhecer esses arquétipos para saber como jogar com eles.
Para um bom leitor de mistérios, toda carta na manga pode ser previsível. É preciso jogar com sutileza, sem uma performance exagerada, para convencer.
Aprendendo a deixar pistas na hora certa
Um bom mistério precisa confundir e fazer sentido ao mesmo tempo. O leitor gosta de um quebra-cabeça difícil de se solucionar, mas se o resultado final for uma imagem que não se encaixa, dificilmente se sentirá satisfeito.
Por isso, ao mesmo tempo que você disfarça o vilão, quando o crime for solucionado, é importante que as pistas se conectem com coesão. A história precisa ser plausível e convincente. O “crime perfeito”.
A maneira de alcançar esse efeito é deixando pistas para o leitor, mas de modo que ele nem sequer as perceba antes da hora certa.
Por exemplo, você pode posicionar o seu vilão na cena do crime bem no começo do livro. Não precisa revelar seu nome, mas deixar presente na descrição um elemento que o caracterize de forma inconfundível. Pode ser com um objeto pessoal, uma roupa que só essa personagem tem ou talvez um traço da sua aparência.
O fator crucial aqui é o timing. Como essa cena tão reveladora se encontra no começo do livro, seu leitor ainda não conhecerá a personagem e não terá porque reconhecê-la. E se você misturar a presença dessa personagem com diversos outros elementos da cena, não terá motivo para o leitor ficar preso nesse detalhe.
Esse elemento que caracteriza a personagem também pode ser associado a ela somente depois. Por exemplo, com uma tatuagem ou cicatriz escondida.
Alternativamente, o que pode ser guardado para mais tarde na história é a conexão entre uma personagem inconspícua com a vítima do crime. Um coadjuvante que parecia nem ter muito motivo para estar ali poderia ter uma motivação secreta para cometer um assassinato.
Por exemplo, a “vítima” que foi assassinada por esse “coadjuvante” poderia ter sido uma pessoa horrível que assassinou alguém de sua família. As outras personagens não saberiam desse crime, muito menos do parentesco entre o “coadjuvante” e essa vítima perdida.
As personagens informam o leitor
É sempre importante lembrar que tudo o que acontece na história pode contribuir para a formação de opinião do leitor. Isso significa que a opinião das personagens pode influenciar o leitor.
É claro, muitas vezes o leitor pode perceber coisas que não são óbvias para quem está dentro da história. Inclusive, essa experiência pode ser frustrante e fazer com que todas as personagens pareçam burras.
Logo, deve-se tomar cuidado com “reputações sólidas” e discursos repetidos que fazem parecer que suas personagens são incapazes de ter opinião própria. Se todo mundo apenas repetir que fulano é uma ótima pessoa que não faria mal a ninguém, esse discurso terá o efeito reverso e fará seu leitor desconfiar.
Contudo, com as pequenas impressões se vai longe. Uma conversa profunda que mexe com o protagonista pode mexer com o leitor também. E se em vez de dizer que uma personagem é incapaz de cometer um crime você demonstrar isso com ações, será muito mais convincente.
A personagem que faz com que todos desconfiem dela, mas que parece extremamente confiável para o protagonista, pode ser o vilão mais eficaz de uma história. Aquele que representa um soco no estômago não só para o mocinho, mas também para o leitor.
E aí, autor? Sem dar spoilers, cite uma obra que enganou você direitinho!