Aprendendo como escrever uma crônica

Muitos autores começam sua carreira aprendendo como escrever uma crônica ou um conto, que são textos mais curtos, mais simples de se concluir. Na autopublicação, essas pequenas obras literárias podem ter espaço tanto em blogs como em ebooks que compilam histórias.

As crônicas são um gênero textual híbrido, com elementos literários e jornalísticos, que surgiu com os folhetins do século XIX na França e ganhou forma no Brasil, evoluindo de um texto que focava na transmissão de informações para uma forma de expressão artística.

Até hoje em dia, as crônicas fazem parte dos jornais e tem como uma das principais características comentar ou relatar fatos atuais. Não é a toa que o nome do gênero, “crônica”, vem do grego “chronos” (tempo). Esses textos devem sempre ser contemporâneos em seu conteúdo.

O diferencial é incluir nesse texto doses da personalidade e perspectiva do cronista, seja através de críticas, piadas ou os dois. A crônica vai além da transmissão de informações atuais, ela tem visão, opinião, identidade. Ela é elaborada em cima de eventos e vai além.

Com a evolução da crônica, diversos sub-gêneros surgiram. As crônicas podem ser:

  • Jornalísticas – apresenta aspectos específicos de determinadas notícias
  • Filosóficas – reflete sobre um determinado fato ou evento
  • Humorísticas – faz graça ou ironiza questões do cotidiano ou eventos
  • Líricas – relata um fato ou evento com grande dose de nostalgia e sentimentalismo
  • Ensaios – critica relações de poder e sociais de maneira irônica

E, quanto às principais características das crônicas, elas devem ser curtas, com linguagem mais coloquial, sem “firulas” ou exageros, e falar sobre acontecimentos do cotidiano ou contemporâneos. Em geral, as crônicas não precisam ter personagens e, quando têm, são poucos.

Agora você já sabe o que é, mas como escrever uma crônica? Vamos listar algumas dicas que vão ajudar você a escrever e publicar livro de crônicas.

1.     Defina o tema da crônica

Crônicas são, em essência, textos relacionados aos fatos atuais, a questões do dia-a-dia contemporâneo. Por isso, antes de começar a escrever uma crônica, você deve definir qual será o seu tema. Ou seja, ao redor de qual fato ou evento ela será focada.

Esse tema, de preferência, deve ser centrado ao redor de questões que são de conhecimento geral. Seja porque é um evento cotidiano, que a maioria das pessoas vive em primeira mão, ou porque é uma notícia comentada por todos.

2.     Expresse sua opinião

Além de escolher um fato ou evento, você deve ter uma opinião sobre o assunto. A crônica não é um texto jornalístico impessoal, que exige que o autor seja imparcial ao transmitir informações.

Pelo contrário, ela se “alimenta” de pontos de vista únicos e doses acentuadas de personalidade. Segundo alguns teóricos, a posição crítica e a experiência do autor são os focos da crônica, de modo que, ao escrever um texto sem opinião, você simplesmente não terá escrito uma crônica.

3.     Evite personagens

Você não está escrevendo um conto! As crônicas misturam o jornalístico e o literário, elas falam de fatos, opiniões, ideias e, por isso mesmo, acabam se desconectando da ideia de personagens e, muitas vezes, também não tem cenário ou tempo.

Pense bem sobre como quer apresentar os fatos e ideias. Caso seja realmente necessário, por exemplo, quando o tema da crônica é baseado em uma breve interação entre duas pessoas, você pode incluir essas pessoas como personagens.

Contudo, lembre-se que o foco ainda é a maneira que você, autor, transmite essas informações e reflete sobre esses fatos, seja de modo lírico, humorístico, filosófico…

4.     Não imagine demais

Novamente, não se esqueça: a crônica não é um conto. O texto que está escrevendo deve se basear em fatos e eventos reais, muitas vezes até banais. Por isso, pés no chão. Foque nos fatos, na vivência das pessoas.

Fantasiar só é permitido se estiver nítido que é a imaginação do cronista se desdobrando como resposta ao evento em foco. Ou seja, se o leitor puder participar do processo imaginativo e identificar a fantasia do autor como algo semelhante a uma divagação ou reflexão.

5.     Respeite o tamanho da crônica

Crônicas são textos curtos, que tendem a falar de fatos cotidianos e cuja própria leitura deve ser feita de maneira rápida e leve.

Ela é feita levando em consideração o conhecimento de mundo do leitor. Ou seja, não são assuntos aprofundados, mas sim assuntos do senso comum, que estão em todos os jornais ou fazem parte do dia-a-dia de qualquer brasileiro.

Para não escrever demais e extrapolar os limites de uma crônica, você pode reduzir seu texto ao economizar nas palavras. Nada de descrições detalhadas demais, nem floreios e enfeites para embelezar seu texto.

Ainda que sua crônica seja lírica, não é necessário usar palavras “difíceis” e “bonitas”. Basta usar uma boa dose de sentimento. A beleza também está na simplicidade.

6.     Revise sua crônica

Assim como qualquer texto, a crônica também merece revisão e edição adequadas. Leia e releia. Corrija mais do que os erros gramaticais. Verifique a fluidez do texto, troque palavras caso necessário e remova trechos que não adicionam em nada à qualidade da crônica.

Lembre-se também de conferir consigo mesmo se o texto que você escreveu é, de fato, uma crônica. Há personagens demais? Falta opinião? O estilo está errado? Reflita sobre essas questões.

Algumas perguntas que você pode fazer a si mesmo para avaliar sua crônica são:

  • O meu texto está curto?
  • A leitura do meu texto é leve?
  • A linguagem é simples e universal?
  • O meu texto contém elementos narrativos básicos?
  • O meu texto inclui minha visão pessoal sobre o tema?
  • O meu texto promove uma reflexão ou diverte os leitores?

Caso a resposta seja sim para todas as perguntas, então, parabéns, você escreveu uma crônica. Se não, pode ser que você tenha escrito um texto excelente para outro gênero, um texto que merece ser publicado e exaltado, mas ainda precise praticar mais na escrita de crônicas propriamente ditas.

E aí, autor? Quais são suas crônicas favoritas? Compartilhe com a comunidade de escritores da Bibliomundi!

19 Comentários


  1. Bom dia!
    Estou me ousando a escrever 50 ou mais crônicas policiais e penitenciárias.
    As dicas acima servirao para eu me adequar às regras e revisar as 3 que recentemente as rascunhei.
    Devo me consultar tb con o cronista Laé de Souza, do qual conclui a doce leitura de Coisas de Homem , Coisaa de Mulheres…

    Responder

  2. Boas dicas! Ando praticando bastante a escrita criativa e o desenvolvimento de crônicas é algo que há muito penso em me aprofundar. Com os toques desse artigo, já posso ter um norte! Aliás, excelente blog, favoritado aqui. Artigos que me serão de enorme valia! Valeeu pelo trabalho!

    Responder

  3. Muito bom! Adorei as dicas, vou revisar todos os meus textos baseado nessas dicas! Tenho lido quase todas as postagens deste Blog, e só tenho uma coisa a fazer: Agradecer! Muito obrigado mesmo!

    Responder

  4. Amei as dicas de crônicas. Acho que sou mais cronista. Pediram que eu escrevesse para criança… Não sei se saberia. Vocês têm dicas para escrever para o público infantil? Gostaria de receber. Abraço Lourdinha Duque.

    Responder

  5. Excelente matéria. Obrigada. Fiquei com uma pequena dúvida. Ao escrever um texto que julguei ser uma crônica, não cheguei a manifestar explicitamente a minha opinião, mas deixei claro o que pensava a respeito por meio da escolha das palavras e do próprio tom da narrativa. Posso considerar isso como a exposição da minha visão pessoal ou é necessária uma abordagem mais direta, sem nenhuma sutileza?

    Responder

Deixe uma resposta para Pedro Gabriel Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *