Aprenda a fazer seu leitor rir

Você já parou para pensar no que é que o faz rir? Quais são os gatilhos da sua risada? E das pessoas que estão ao seu redor? Essas são algumas reflexões úteis quando nos deparamos com uma das áreas mais desafiadoras do entretenimento: a comédia.

Encontrar essa veia cômica é muito importante para quase todo tipo de criador de ficção. Até mesmo uma história trágica pode se beneficiar de umas risadinhas aqui e ali. Chama-se alívio cômico pois ajuda a aliviar a tensão (o que, inclusive, pode contribuir para que o seu leitor abaixe a guarda apenas para sofrer mais ainda no clímax).

Jamais devemos subestimar a comédia, e difícil encontrar um autor que a subestime depois de tentar ser engraçado de propósito. É fácil encaminhar um meme que achamos na internet e, às vezes, fazemos uma piadinha de forma quase inconsciente.

Mas… e quando esvaziamos todo o contexto social e temos que produzir uma piada quase do zero? Aí tudo muda. Fazer piada sob pressão é um inferno.

Até aí, nenhuma novidade. Escrever sob pressão em geral também pode ser um inferno. Para publicar livro, o negócio é desenvolver um ritmo.

Pensar demais sobre a comédia pode parecer mecânico, mas é um ponto de partida para você entender como ela funciona no dia-a-dia. Você provavelmente perceberá que há um ponto em comum…

O humor na absurdidade

Quando pensamos em uma piada, piada mesmo, geralmente ela é estruturada em três etapas. Você começa introduzindo uma ideia, preparando um cenário… e depois encerra de modo que quebra expectativas.

Essa “coisa” fora do lugar é um elemento comum no humor. Rimos daquilo que é inapropriado, daquilo que é absurdo, daquilo que é estranho, daquilo que é inesperado.

Quer ver esse conceito ser aplicado de forma simples? Pegue um ditado popular e mude-o no meio do caminho. “Quem desdenha quer cagar”. Só com essa pequena alteração é capaz do seu leitor esboçar um sorriso.

Não tenha medo de explorar o seu lado quinta série. Sabe? Aquele lado que ri à toa de trocadilhos infames e piadinhas obcenas.

O que torna uma piada ruim engraçada é justamente que ela é tão infame que você se surpreende, quiçá admira a coragem de quem contou. E o que torna uma piada obcena engraçada é geralmente o fato dela ser inapropriada para o ambiente.

Tudo isso pode despertar em você uma mistura de vergonha com vontade de rir. Um incômodo que traz uma reação adversa, tipo quando alguém recebe cócegas.

Certas histórias vão explorar esse conceito de forma mais sutil, com pequenas tiradas que dão um certo alívio. Outras vão investir ao máximo, podendo alcançar os limites do absurdo. Tudo depende do gênero e do estilo do autor.

Como a caracterizar uma personagem cômica

Quem acompanha as nossas dicas de autopublicação, já sabe que às vezes os clichês servem ao nosso favor. Falamos sobre isso no artigo Como usar tropes na escrita. Em parte, porque um clichê só se torna clichê por ser um elemento altamente apreciado pelo público. Em parte, porque os clichês representam as expectativas do público, o que torna ainda mais fácil de quebrá-las.

Quer ver uma quebra de expectativas que é muito simples e eficaz? Coloque uma personagem completamente séria em uma comédia. Por exemplo, o Capitão Holt da série Brooklyn 99.

Em meio a várias personalidades fortes, como o protagonista espertinho que conta piadas e faz caretas; a rival/par romântico nerd que é altamente competitiva e certinha; e os coadjuvantes preguiçosos, inúteis e comilões do escritório… Temos um capitão que é completamente sério e monótono, estrelado por um ator com experiência em papéis de drama.

Holt é tão sério, tão literal, tão monótono, tão inexpressivo e tão correto que chega a ser engraçado. É um contraste com tudo aquilo ao seu redor. E só por causa disso suas falas são naturalmente engraçadas.

E sabe como você pode quebrar as expectativas mais uma vez? Quando depois de estabelecer essa personagem de modo consistente, ela tem pequenos momentos em que mostra um lado diferente. Por exemplo, o ponto fraco de Holt é sua competitividade e susceptibilidade ao vício em apostas.

É divertido ver uma personagem que inspira uma aura solene de repente “descer do salto” por causa de um ponto fraco. E isso causa desconforto em todos.

A série não deixa de explorar esses extremos da caracterização. Outro exemplo é Rosa Diaz, uma mulher durona e misteriosa, que assusta e impõe respeito. Uma piada constante é o quão pouco seus colegas sabem sobre a vida pessoal dela.

Em geral, ela assusta com suas habilidades de combate e capacidade de esconder armas onde ninguém imaginava. Mas, às vezes, a graça está em descobrir aspectos dela que são contrários à imagem construída, como o fato dela ter aprendido ballet e gostar de comédias românticas.

Conheça o seu público

Por fim, mas não menos importante, as piadas são quase sempre situacionais. Muito pode ser construído dentro da própria narrativa, mas certas piadas dependem de um contexto externo.

As piadas não são as mesmas para todas as gerações, muito menos para todos os nichos. Um cientista vai rir de coisas que o público comum não é capaz de sequer compreender, quem dirá achar graça.

Se você vai publicar ebook de terror, em geral pode confiar que seus leitores vão sacar referências a outras histórias de terror. Essas referências podem ser construídas de forma cômica.

Entender quem é seu público envolve muitos aspectos: faixa-etária, gênero literário favorito, nível de escolaridade, gênero e sexualidade, região, área de atuação, por aí vai.

Muitas vezes, o autor pode ser uma referência do seu público-alvo, mas não é sempre assim. Então, podemos oferecer duas dicas:

  1. Não tente fazer piadas que você não acha graça só porque acredita que seus leitores vão gostar. Vai ficar forçado.
  2. Faça as piadas que você gosta, mas tome cuidado para elas não serem específicas demais e atrapalharem a fluidez da leitura. Por exemplo, se você é um cientista, mas seu livro não tem nada a ver com ciência, então não coloque piadas científicas debaixo do holofote.

E aí, autor? Está pronto para fazer seu público gargalhar?

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