Leitores não se apaixonam por ideias, eles se apaixonam por personagens. Para publicar livro envolvente, muitas vezes mais importante até do que o enredo é o desenvolvimento de um herói e um vilão que representem o tema do seu livro e cativem os leitores.
Quando falamos de uma narrativa, dois dos seus principais agentes são o protagonista e o antagonista. O primeiro é aquele que move o enredo, ele está no centro da história e seus objetivos determinam o rumo do seu livro. O antagonista, por outro lado, é a origem do conflito. É aquele que se opõe aos objetivos do protagonista, é quem coloca os obstáculos na jornada.
Normalmente, o protagonista é o herói da história e o antagonista, o vilão. Nem sempre precisa ser assim. Espera-se que o herói seja uma boa pessoa, o mocinho, e o vilão é o malvado.
Em algumas histórias, o cara malvado se encontra na posição de protagonista: o leitor acompanha o enredo por sua perspectiva, a história é movida de acordo com suas ações e objetivos. Neste caso, o antagonista seria o herói, a pessoa boa que quer impedir que o mal prospere.
E como os Vingadores se encaixam nisso tudo?
Você pode encontrar dicas de autopublicação para escrever melhor onde menos espera. Podemos observar o modelo de protagonista vilão no filme Vingadores: Guerra Infinita (2018). Embora o filme leve o nome dos Vingadores, o grupo de heróis que protege a humanidade, todo o enredo gira em torno de Thanos, o vilão que quer reunir as joias do infinito e aniquilar metade da vida no universo. É a jornada do titã que acompanhamos, não a do herói.
E foi exatamente essa sacada que fez de Guerra Infinita um filme tão marcante no Universo Cinemático da Marvel. Estávamos acostumados com uma fórmula na qual os heróis eram os protagonistas e os vilões, quase sempre sem personalidade, eram derrotados no final. O bem prevalecia. Guerra Infinita abalou nossas estruturas. Junte isso a uma construção minuciosa da franquia ao longo de 10 anos, e temos a previsão de sucesso extremo para o lançamento de Vingadores: Ultimato amanhã, dia 25 de abril.
Essa inversão de papéis narrativos permite que Thanos seja um vilão muito melhor do que o esperado, mas por quê?
Primeiro, ao torná-lo a força que move a narrativa, somos levados a acreditar que é ele quem vencerá no final. Só com isso, Thanos já se torna mais imponente.
Segundo, porque conhecemos não só seu objetivo, mas entendemos o motivo por trás dele e como a personagem se sente em relação a isso. Essa revelação é feita de maneira natural, e não com um discurso clichê em que o vilão explica seu plano maligno sem motivo algum. Somos levados a nos conectar emocionalmente ao vilão.
No Universo Cinemático da Marvel, apenas dois outros vilões se destacaram nos filmes: Loki, que virou figurinha garantida em todos os filmes de Thor, e Erik Killmonger, de Pantera Negra (2018).
A Loki é dada uma oportunidade semelhante à de Thanos: a personagem tem tempo para se desenvolver na telona. Ele já estava presente desde o começo do filme como irmão de Thor, de modo que tivemos acesso a outros lados da personagem, e após se estabelecer no primeiro filme, continuou crescendo em Vingadores e muito mais.
Loki é muito mais do que um “objetivo maligno” vazio. Seu arco não é simplesmente sobre vingança ou dominação mundial, como o da maioria dos vilões. Nada disso, Loki é o irmão que vive à sombra do primogênito, que se sente rejeitado e busca aprovação acima de tudo. Ele ressente sua família, mas não consegue desprezá-los ou sequer odiá-los completamente. Tornar-se rei não é suficiente para ele, mas sim mostrar que é capaz de dominar e governar. Como diz em Thor (2011), “Eu nunca quis seu reino, eu só queria ser igual a você”.
Embora em momento algum Loki pareça um bom candidato ao trono, e a lógica nos coloque do lado de Thor, são poucas as pessoas que desejam mal a Loki. Ele conquistou tanto sucesso entre os fãs da Marvel que a personagem desafia a morte continuamente, retornando para mais um filme.
Diz-se que todo vilão (ao menos os bem escritos) acredita ser herói. Erik Killmonger se aplica a essa regra bem mais do que Loki. Afinal, o Deus da Mentira quer ser respeitado e valorizado como rei, mas em momento algum demonstra querer deixar sua identidade trapaceira para trás. E é isso que cativa o público: seu jeitinho traiçoeiro.
Erik Killmonger, por outro lado, tem objetivos muito mais nobres. O vilão de Pantera Negra vem com medidas extremas para acabar com um problema real: a opressão do povo negro. Um homem afro-americano, Erik viveu essa opressão na pele e seu objetivo é armar os oprimidos de todo o mundo e gerar uma revolução.
Do outro lado, temos T’Challa, herói e novo rei de Wakanda, um país africano rico e com a tecnologia mais avançada do mundo. No passado distante, enquanto o resto do continente foi colonizado e escravizado, Wakanda se manteve fechada, protegeu suas fronteiras, e prosperou em segredo. A questão levantada no filme é: devia Wakanda abrir suas fronteiras e ajudar o mundo? A auto-preservação que os levou aonde estão agora ainda é necessária no presente?
Para Erik Killmonger, a resposta é óbvia. Wakanda é egoísta, egocêntrica e não conhece o mundo. E ele está mais do que disposto a destruir a ordem e empoderar os oprimidos. É fácil até mesmo para a platéia se identificar com ele e tomar seu lado, assim como muitas personagens de fato apoiam sua causa.
O que diferencia Erik Killmonger de um herói são os meios para o seu fim. Ele acredita que reproduzir as estratégias do opressor é o caminho. Ele mata pessoas de sua cor sem remorso, sem respeito por tradição, sem empatia por quem o ama. E é neste ponto que T’Challa não pode apoiá-lo.
O interessante é que, mesmo sem se aliar a Erik Killmonger, T’Challa o compreende. As ideias que o antagonista traz a tela não são diametralmente opostas às do protagonista. Em vez disso, Killmonger vem como um fator de mudança, que faz T’Challa olhar para os seus antepassados e reconsiderar aquilo que parecia senso comum. Sem aderir aos caminhos sanguinários do vilão, o herói de Pantera Negra aprende com ele e decide seguir um objetivo parecido.
Voltando para Thanos, se quisermos entender por que ele é um bom vilão, precisamos olhar para o seu objetivo. O que os heróis ouvem é que Thanos pretende destruir metade da vida de todo o universo. O que Thanos enxerga, por outro lado, é um caminho para acabar com a fome e a escassez de recursos em geral. Isto é, eliminando o problema da superpopulação.
Thanos traz para a telona um debate que existe na vida real. A superpopulação é um problema, ou o verdadeiro problema é a má divisão de recursos? Para muitos, o plano de Thanos tem alguma lógica. Há até mesmo quem o defenda.
A sacada dos Irmãos Russo, que dirigiram Vingadores: Guerra Infinita e sua continuação, Vingadores: Ultimato, é solucionar esse dilema com uma demonstração prática. Ao tornar Thanos o protagonista, podemos descobrir o que acontece quando seu objetivo é realizado. Quais são as consequências de eliminar metade da vida do universo? Esse plano deu certo?
Observamos agora um Thanos que conquistou seu objetivo, mas perdeu tudo no caminho. E temos os Vingadores, amadurecidos pela derrota, sem mais nada a perder, com um objetivo mais forte do que jamais tiveram: recuperar as pessoas que amam e o mundo onde vivem.
São heróis que podemos amar, que nem sempre acertam, que carregam feridas. E quando eles acabarem com o vilão, nós vamos vibrar mais do que nunca, porque agora, sim, conhecemos o medo.
E aí, autor? Está animado para ter mais uma aula de como criar personagens excelentes com a estreia de Vingadores: Ultimato? Fique ligado no nosso blog para ler a continuação deste artigo, dessa vez ensinando como escrever heróis!