3 Dicas para escrever um livro emocionante

Escrever um livro emocionante é uma proeza. Os sentimentos são um dos principais pontos de conexão entre autor e leitor. Por isso, o apelo emocional de um livro muitas vezes é o que o torna memorável para o público… mas como escrever um livro emocionante sem ser dramático demais? Como transmitir emoções de maneira intensa e convincente?

Conseguir escrever e publicar livros que despertem a empatia do leitor não é exatamente uma tarefa fácil. Um escritor pode planejar cenas de partir o coração, mas, na hora de colocar no papel, não encontrar as palavras corretas para transmitir emoção. O motivo pode variar desde uma escrita fria até o exagero nas emoções que beira ao ridículo em vez de tocar o leitor.

Nas nossas dicas de autopublicação de hoje, vamos ensinar passo a passo como emocionar seus leitores.

1. Conheça suas próprias emoções

Para aprender como escrever um livro emocionante, o passo mais certeiro é conhecer, primeiro, os seus próprios sentimentos. O que causa sua tristeza? O que desperta sua alegria? Quais são os temas que mexem com suas emoções mais profundas?

Escrever também é se doar. Se você quer que o leitor sinta algo ao ler o seu ebook, você também deve sentir algo ao escrevê-lo. E isso significa abrir as portas para sentimentos que, talvez, você prefira esquecer.

A literatura permite a catarse tanto ao leitor quanto ao escritor. A “purificação” da alma por meio de uma descarga emocional profunda, típica das tragédias gregas. Ainda que seja difícil chegar a esse clímax emocional, ainda que o processo seja doloroso, há uma recompensa final.

Uma das minhas maiores inspirações na escrita sempre foi Brian Molko, cantor e letrista da banda de rock alternativo Placebo. O processo criativo de Brian é uma espécie de faz de conta em cima da realidade.

Os seus sentimentos e experiências pessoais são transmitidos na música através de personagens e histórias. O eu lírico nunca é exatamente ele mesmo, mas sempre alguém que reflete de alguma forma algo que o cantor já viveu ou sentiu.

Ao longo de toda a sua carreira, em diversas entrevistas, Brian Molko sempre repetiu uma frase para explicar como conseguia emocionar tantas pessoas com sua música. Era bem simples.

Quanto mais pessoal é algo que você faz, mais universal se torna, porque somos essencialmente feitos do mesmo conteúdo emocional. – Brian Molko

Se você escreve algo que o emociona, então, você já pode ter certeza que pelo menos uma pessoa se emocionou com seu livro. Caso contrário, como pode esperar que um livro que não conseguiu emocionar nem o autor tocará os sentimentos dos leitores?

Somos todos humanos. Escritores, editores, leitores. Se algo mexe com os seus sentimentos, há uma boa chance de também mexer com os sentimentos do seu público. Se jogue.

2. Respeite todas as etapas do desenvolvimento da personagem

As personagens são a “porta-voz” dos sentimentos compartilhados entre leitor e escritor. Para se conectar com um livro e se emocionar com ele, muitas vezes é necessário que, antes de mais nada, o leitor crie um laço afetivo com alguma personagem.

Uma vez que esse laço afetivo é criado, o escritor deve respeitar a relação personagem x leitor. Em outras palavras, deve mostrar ao leitor mais dessa personagem que ele tanto ama, mostrar cada passo do seu desenvolvimento, sem deixar de fora nenhum elemento importante.

Não estamos falando de uma superexposição da personagem. Sabemos que é desnecessário contar ao leitor o que ela come no café-da-manhã e que horas toma banho. É uma questão de explorar o passo a passo do desenvolvimento emocional dos protagonistas e outras personagens relevantes para o enredo e o público.

Por exemplo, se alguma personagem tomar uma decisão difícil, que faz parte do seu amadurecimento e tem relação com o enredo, por mais “óbvio” e “desnecessário” que possa parecer para você, cortar essa cena do ebook pode decepcionar profundamente os seus leitores.

Foi o caso do filme Vingadores: Era de Ultron (2015, Joss Whedon). O filme, que conta com um elenco vasto, sofre com o tempo reduzido de cada personagem na telona, obstruindo o desenvolvimento.

Em boa parte do filme, a personagem Thor sai em uma busca pessoal por respostas. Mas, adivinhe? A cena em que ele busca e encontra essas respostas foi cortada do filme. Os espectadores viram somente Thor desaparecer e, depois de um tempo, voltar repentinamente com muitas certezas e nenhuma explicação plausível.

Para qualquer pessoa que se importa com a personagem, e até mesmo um espectador que simplesmente prefere um enredo com nós bem atados, ficou faltando alguma coisa. Uma parte relevante da história foi omitida naquele momento e o filme, desconexo.

Não faça isso com seus leitores. Se uma personagem precisa tomar decisões importantes para a resolução do enredo, mostre o processo de tomada de decisão. Se uma personagem sofre um grande trauma, mostre o processo de luto e cura.

Permita-se viver esses momentos junto às suas personagens. Leve o leitor junto a vocês nessa experiência. Com certeza, não só as emoções ficarão afloradas, como o enredo e desenvolvimento de personagens também fará mais sentido.

3. Saiba quando manter a distância

A última, mas não menos importante, etapa. Aprender como e quando você deve manter a distância.

Esforçar-se demais para transmitir sentimentos em um livro pode ser um tiro que sai pela culatra. O resultado pode ser uma cena exagerada, melodramática, que corta o clima dos leitores e, como consequência, nem sequer os emociona.

Infelizmente, o que separa uma cena emocionante na medida certa de um melodrama é uma linha bem tênue. Não podemos fingir que essa é uma tarefa fácil, até porque gostos variam. O que é dramático para uns pode ser adequado para outros.

Entra um trabalho de bom senso e edição. Enquanto escreve, você pode medir pelo seu próprio senso, estilo e sentimentos o que deve ser feito ou não.

Como já explicamos em Como aumentar a produtividade para a escrita, o processo da escrita deve ser livre. Então, se você quer chorar e espernear junto às personagens, fique à vontade! Isso fará bem para a sua produtividade e deixará o livro mais autêntico.

Contudo, na etapa da edição, você já não estará mais tão imerso nas emoções da cena. É hora de avaliar a sua escrita de maneira fria e decidir o que está bom ou não. E isso vai além de erros gramaticais, mas também o estilo das cenas.

Uma mudança de ponto de vista, o corte de algumas falas, existem várias maneiras de tornar uma cena menos dramática.

Um ponto fundamental para se levar em consideração é a teoria de que, quando uma personagem chora, o leitor não precisa chorar. Ou seja, é como se a personagem fosse um canalizador dos sentimentos do leitor e, quando ela coloca as emoções para fora, o leitor sente-se livre da necessidade de extravasar.

É óbvio que isso não se aplica a todos os casos. Por exemplo, se uma personagem que nunca chora derramar lágrimas após um evento traumático, o impacto dessa exceção provavelmente acertará o leitor em cheio.

Por outro lado, se você usa outros recursos para demonstrar os sentimentos de uma personagem após ou durante um momento doloroso, como o excesso de silêncio, isso também impactará os leitores.

Risadas histéricas em frente à própria derrota. Uma mãe que arruma metodicamente o quarto do filho falecido. Silêncio vindo de uma personagem que sempre foi tagarela. Memórias e flashbacks de outras épocas que se comunicam com a  situação. Tremores, vícios, mal estar, sinais que demonstram sentimento sem apelar para o óbvio.

Mostre ao leitor como a personagem se sente. Faça ele observar a cena, sem necessariamente  dizer com todas as letras “ela está sofrendo”. Tudo isso pode ser visto como uma forma de distanciamento que, na prática, torna a experiência muito mais vívida e pessoal.

Experimente botar em prática essas dicas. Depois, compartilhe suas experiências com a gente!

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